Projeto de concessão urbanística usado para revitalizar a Nova Luz será estendido para a zona oeste da cidade
Modelo é polêmico, pois dá à iniciativa privada o poder de desapropriar imóveis para depois vendê-los com lucro
VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO
EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC
O poder público dá a uma empresa o poder de desapropriar uma área. Negócio feito, o espaço é reformado, e os imóveis, vendidos a um preço bem maior anos depois.
O modelo de concessão urbanística, que a prefeitura tenta impor na região da Nova Luz, centro de São Paulo, deverá ser estendido agora para a zona oeste da cidade, na região que margeia a linha de trens urbanos que passa pelo bairro da Pompeia.
A nova área fica entre o Parque Antarctica e a avenida Marquês de São Vicente.
Está dentro da Operação Urbana Água Branca e é chamada de "Gleba Pompeia".
Fica numa área com grande potencial de valorização, próximo ao parque da Água Branca, ao Parque Antarctica e ao metrô Barra Funda.
A concessão, apesar de aprovada em lei, é polêmica, devido ao poder de desapropriação dado às empresas.
A contrapartida privada ocorre em forma de transformações urbanas definidas em projeto da prefeitura e em obras de infraestrutura -a região precisa, por exemplo, melhorar sua drenagem, já que registra muitas enchentes nas épocas de chuva.
Para a concretização do projeto específico na Pompeia, será preciso uma nova lei, assim como foi feito no caso da Nova Luz, no centro.
Segundo a prefeitura, a concessão urbanística "é o instrumento mais adequado" para fazer as transformações na área da "Gleba Pompeia". A justificativa é que existem irregularidades fundiárias e ocupação muito baixa no local, onde se quer elevar o número de moradores.
"Há anos tentamos incentivar o parcelamento ali. A área é praticamente desocupada, não tem moradias, mas é uma área muito bem situada", diz Vladir Bartalini, superintendente da pasta de Desenvolvimento Urbano.
Na área de 240 mil m2 há hoje campos de futebol society, galpões, um circo, um posto de inspeção veicular e um estacionamento de ônibus. Ninguém mora ali.
Quando a revisão da Operação Urbana Água Branca terminar -o que está previsto para ocorrer até o fim deste ano-, a prefeitura vai começar a elaborar a nova lei para a concessão da Pompeia.
Também dentro da operação está a nova arena que o Palmeiras constrói em sua sede, no Parque Antarctica. Quando concluída, além de futebol, vai receber espetáculos e elevar o trânsito.
O impacto no tráfego fez a prefeitura rever o adensamento das áreas adjacentes.
Dos 360 mil m2 de potencial construtivo adicional para as proximidades do estádio, 300 mil m2 foram transferidos para outras áreas, incluindo a da "Gleba da Pompeia".
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