“Passageiro vai fiscalizar velocidade de ônibus” – Jornal da Tarde

 

CAIO DO VALLE
FABIANO NUNES

Quatro acidentes com ônibus são registrados em média na cidade de São Paulo por dia. Uma das medidas que vêm sendo adotadas desde junho para tentar reduzir esse número é a instalação de mostradores que indicam a velocidade voltados para os passageiros. Assim, os próprios usuários podem “controlar” a quantos quilômetros por hora está o veículo, denunciando excessos dos motoristas. Na capital, eles podem andar a até 60 km/h, mas em certas regiões o limite é menor – nos corredores é 50 km/h.

Só nesta semana, ao menos 11 pessoas se machucaram em dois acidentes envolvendo coletivos municipais. Na segunda-feira, um ônibus descontrolado invadiu a calçada e bateu em duas lojas no Pari, região central, deixando nove feridos. Na quarta-feira, a roda de outro ônibus se soltou, atingindo duas pessoas no Tatuapé, zona leste. No caso da velocidade, o respeito ao limite permitido pode ajudar a evitar atropelamentos.

De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), no ano passado, 20,5% dos veículos que causaram a morte de pedestres na capital eram ônibus. Ao todo, 109 coletivos atropelaram e mataram pessoas. Para Rogério Belda, diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), ônibus devem circular sempre a no máximo 40 km/h.

“E essa já é uma velocidade média alta, pois os ônibus têm que parar muito para pegar passageiros. Às vezes, são as próprias empresas que pressionam os motoristas a ir mais rápido, para concluírem a viagem a tempo”, diz.

Ao todo, 150 coletivos já têm o painel digital instalado, segundo a São Paulo Transporte (SPTrans). A quantidade representa apenas 1% da frota da cidade, mas até o fim do ano que vem todos os veículos deverão contar com o equipamento, segundo uma portaria publicada em janeiro pela Secretaria Municipal dos Transportes. As viações que desobedecerem a determinação estarão sujeitas a multa de R$ 180 por veículo.

O aparelho, colocado no alto do painel frontal, acima do para-brisa, mostra é a velocidade do ônibus em tempo real. Quando o veículo passa de 60 km/h, os números começam a piscar. Os dados são alimentados pelo tacógrafo.

Na tarde desta quarta-feira, a bancária Tatiane Costa, de 31 anos, usava um ônibus da linha Jardim Luso-Terminal Bandeira que tem a tecnologia e aprovava a iniciativa. “Mas não basta ver, tem que denunciar quando ultrapassam o limite. Tirando foto, por exemplo.”

O representante comercial Carlos Novaes, de 28 anos, era mais cético sobre a eficácia das reclamações. “Nunca me deram satisfação depois que fiz queixas de excesso de velocidade e desrespeito de ônibus à faixa de pedestre.”

O vigilante José Feliciano Sales, de 52 anos, disse que anda com frequência em ônibus acima de 60 km/h. “Na Washington Luís acontece sempre. Tinha que pôr o painel em todos os ônibus.”

A SPTrans informou que já recebeu uma reclamação por excesso de velocidade com base na informação do painel. Segundo a estatal, “a operadora responsável será reorientada quanto aos padrões de qualidade e segurança”. No site da empresa, onde podem ser feitas denúncias, os usuários têm a opção de se cadastrar para receber um SMS quando houver uma resposta para sua queixa.

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