CRISTIANE BOMFIM
Nem os cinco representantes da população para fiscalizar a Agenda 2012 acreditam que as 223 metas propostas pelo prefeito Gilberto Kassab serão cumpridas. Um ano e cinco meses depois de eleitos, eles afirmam que promessas importantes, como a construção de três hospitais ou ainda atender 100% das crianças cadastradas em creches, dificilmente vão virar realidade. Também desconfiam que itens considerados simples, como a construção de ecopontos e programas de zeladoria da cidade, estipulados no Plano de Metas, foram deixados de lado.
“A Prefeitura está fazendo menos do que poderia fazer. A impressão que tenho é de que as metas deixaram de ser prioridade”, afirma Cleide Coutinho do Nascimento, de 38 anos, conselheira que representa a zona oeste.
Candidatos voluntários ao cargo e eleitos pela população, cada conselheiro representa uma região da cidade. Reivindicam, em primeiro lugar, metas que atingem diretamente a área onde vivem, mas concordam que saúde, educação e zeladoria são prioridades gerais.
Para a zona leste, por exemplo, a grande preocupação da conselheira Fátima Andrijic Marinera, de 50 anos, é o cumprimento da meta 199, que promete desenvolver a Operação Urbana Rio Verde-Jacu, mas ainda está em fase de “contratação de estudos urbanísticos”, segundo o site da Agenda 2012. “O índice de desemprego na zona leste é muito grande e essa meta é fundamental para trazer emprego, mas talvez não dê tempo de ser realizada nesta gestão”, diz Fátima, que define o Plano de Metas como “um programa muito audacioso”, mas difícil de ser cumprido em quatro anos.
Representante da região central, o publicitário Alberto Gattoni, de 71 anos, afirma que as metas “não são factíveis” e lamenta que os hospitais (metas 1, 2 e 3) e as dez unidades de atendimento odontológico (meta 5) não serão entregues. “Não vai dar tempo, mas elas são de indiscutível importância”, diz. Para ele, os principais problemas do centro da capital são o abandono e o “enorme” número de moradores de rua.
“O que estão fazendo com nosso dinheiro?”, questiona o empresário Luiz Augusto Gonçalves Barbosa, conselheiro da zona sul, onde só um dos nove terminais de ônibus prometidos na meta 92 foi entregue. Outras prioridades, como hospital, creches, áreas de lazer e melhoria no transporte público, também não saíram do papel. “Acho que nenhuma meta de grande relevância está sendo cumprida. Isso me deixa muito triste.”
Único dos seis representantes a não dar entrevista sobre a situação das metas, o conselheiro da zona norte, João de Favari, estava fora do País na semana passada.
Desde março do ano passado, quando o conselho consultivo foi criado, foram realizadas três reuniões. Os intervalos muito espaçados e o tom de prestação de contas dos encontros incomodam os cinco representantes. “Cheguei a pedir reuniões mensais. Disseram que iriam analisar, mas nada mudou”, diz Gattoni. “Além disso não posso dizer se minhas considerações são colocadas em prática ou não. Os representantes da Prefeitura ouvem, mas não dão nenhum retorno”, ressalta.
Outra reclamação é que o site da Agenda 2012 demora a ser atualizado. “Fica difícil acompanhar como está cada meta”, afirma Cleide. Até a noite de sexta-feira, constava no portal que apenas 35 das 223 metas foram concluídas.