Salvador sediou II Encontro da Rede Latinoamericana por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis

 

 

O II Encontro da Rede Latinoamericana por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis foi realizado entre segunda-feira (29) e quarta-feira (31), na cidade de Salvador (BA), com a participação de cerca de 130 pessoas de 53 movimentos e iniciativas locais de 10 países, além de convidados especiais.

Joel Vargas, do Movimento Santa Cruz Nos Une, deu as boas vindas aos integrantes em nome do Comitê Organizador, ressaltando o extraordinário contexto favorável para o movimento de cidades sustentáveis na América Latina e incentivando os participantes a assumirem o desafio de fortalecer a Rede para assumir os novos desafios que este contexto apresenta. Aldo Ramon, representante do movimento Nossa Salvador (anfitrião do II Encuentro), agradeceu a presença dos movimentos de 10 países, recordando que Salvador foi a primera capital de Brasil, carregando de significado e importância a realização deste II Encontro nesta cidade.

Sean McKaughan, Diretor Executivo da Fundação AVINA, aliada estratégica da Rede Latinoamericana, recordou que a América Latina é o continente com maior urbanização no planeta e enfrenta os desafios de inclusão social, do acesso inadequado aos serviços públicos básicos e de decisões nas políticas urbanas que possam gerar melhores condições produtivas e sociais para os mais pobres.

Como parte das atividades de abertura do II Encuentro, foi lançado o vídeo institucional que traz um histórico da Rede Latinoamericana por Cidades Justas e Sustentáveis. O vídeo pode ser acessado no YouTube http://youtu.be/nzXxd7wFFKA

 

Oded Grajew abre os trabalhos no segundo dia de atividades

“Se em nossas cidades os políticos, gestores públicos, enfim, todos gostam das iniciativas que estamos desenvolvendo, algo está errado. Significa que não estamos transformando, lidando com os interesses que mantêm as coisas como estão. Mas se estivermos incomodando, estamos no rumo certo”. Com estas palavras, Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, iniciou sua apresentação na manhã do segundo dia (30/08/2011) do II Encontro da Rede Latinoiamericana por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis.

Segundo Oded, as experiências dos diferentes Movimentos que integram a Rede agregam uma ampla diversidade de estratégias de ação. A Rede Latinoamericana possibilita o intercâmbio entre as várias iniciativas e define uma identidade e eixos comuns aos movimentos. “O conhecimento é muito importante, porque nos permite aperfeiçoar a ação. Mas é a ação que transforma, porque senão ficamos apenas nas teorias. Os movimentos não podem ser vistos apenas como centros de pensamento acadêmico e produção de informação, mas como espaços para uma ação efetiva, tendo como foco a transformação da realidade das cidades”, acrescentou.

“Mudar hábitos de comportamento e atitudes individuais dos cidadãos é importante, mas não é a prioridade dos movimentos. Atuamos para melhorar a qualidade de vida nas cidades em áreas como Saúde, Educação, Mobilidade Urbana, entre outros. E isso se faz com incidência e impacto sobre as políticas públicas”, defendeu Grajew.

Por outro lado, Oded destacou que só é possível incidir sobre aquilo que se conhece: “Para influenciar os políticos, responsáveis pelas políticas públicas, temos que ter diagnósticos sobre a realidade das cidades. Daí a importância dos movimentos atuarem a partir da produção de indicadores que revelem a situação concreta dos problemas enfrentados pelas cidades. “Muitos incidem sobre as políticas públicas, mas de forma pontual. Atuar de forma global e ampla sobre as políticas públicas, com um olhar sobre todos os temas que afetam a vida dos cidadãos e tendo como base a produção de indicadores que revelem onde estamos e onde queremos chegar, é, na opinião de Oded, outro traço constitutivo dos diferentes movimentos por cidades justas e sustentáveis que integram a Rede Latinoamericana.

Trabalhar com indicadores de qualidade de vida e monitorá-los permanentemente, acompanhar as políticas públicas e exigir transparência dos gestores é uma novidade dessa Rede Latinoamericana, segundo Oded.   “Fazer com que as informações se transformem em ação é uma base fundamental da nossa identidade”, ressaltou Grajew. “A informação tem poder revolucionário, de mudanças. Por isso as ditaduras impedem o acesso à informação”, completou.

Ele lembrou que a atuação dos Movimentos, por sua natureza, gera resistências de diferentes grupos políticos, na medida em que disseminam informações que revelam as deficiências e falhas dos sucessivos governos. “Se todos gostam de nós é sinal de que pode haver algo errado em nossa ação, pois não iremos agradar a todos com nossa ação. É preciso considerar de antemão que teremos resistências e precisamos lançar mão de estratégias para lidar com elas”, destacou. Por isso, Oded lembrou que os momentos eleitorais são muito importantes, porque é o momento em que os políticos buscam visibilidade e a sociedade se mobiliza em torno de propostas.

Oded citou como exemplo de ação estratégica a experiência da Rede Brasileira com a Plataforma Cidades Sustentáveis , iniciativa que tem como objetivo  sensibilizar, mobilizar e oferecer ferramentas para que as cidades brasileiras se desenvolvam de forma econômica, social e ambientalmente sustentável. Segundo Grajew, uma das propostas da plataforma é pautar o debate em torno das eleições municipais que acontecerão no Brasil em 2012. “Vamos buscar uma articulação para que os candidatos adotem as agendas propostas na plataforma e se comprometam com os indicadores. Buscamos a obrigatoriedade de os gestores públicos elaborarem a apresentarem à sociedade Planos de Metas para suas gestões, em até 90 dias após sua posse”, destacou. “Estamos em uma campanha política sim, mas não por um partido ou causa, mas pela sustentabilidade e pela transformação das cidades em cidades mais justas, democráticas e sustentáveis”, completou.

Ao encerrar sua fala na abertura das atividades do segundo dia, Oded Grajew citou um trecho do livro “A coragem de criar”, do escritor Rollo May: “Vivemos a morte de uma época, e a nova era ainda não nasceu. Tudo à nossa volta é prova disso: a mudança radical nos costumes sexuais, na educação, religião, tecnologia e em quase todos os outros aspectos da vida moderna. E, por trás de tudo, a ameaça da bomba atômica, distante, mas sempre presente. É preciso coragem para viver nesse limbo. Temos uma escolha. Fugir em pânico ante a iminência do desmoronamento das nossas estruturas; acovardar-nos com a perda dos portos conhecidos; ficar paralisados, inertes e apáticos. Fazendo isso, estamos abrindo mão da oportunidade de participar da formação do futuro. Estamos negando a característica mais distintiva do ser humano — influenciar a evolução por meio do reconhecimento consciente —, capitulando frente à força destrutiva e cega da história, desistindo de moldar uma sociedade futura mais justa e mais humana.” (Rollo May – A coragem de criar, 1975)

 

Outras notícias e a cobertura completa do encontro estão em  www.encuentroredciudades.com/pr/

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