São Paulo já tem ruas com mais motos que carros na hora de pico – Folha de S.Paulo

 

Representando 12,8% da frota registrada no município, elas dominam estrada da zona sul e eixo da zona leste
Dados inéditos são de contagem veicular realizada pelos órgãos de trânsito em 28 rotas e 59 vias em 2010

ALENCAR IZIDORO

Como motorista, Marcello Leitão, 43, se queixa da imprudência dos motoqueiros que se sentem os donos dos corredores entre os carros.
 
Como motoqueiro, reclama da displicência dos motoristas que mal dão a seta e já mudam de faixa, sem se importarem com quem está atrás.
 
Como comerciante de vidros automotivos, troca a cada dia cinco retrovisores de carros atingidos por motos.

Nessa disputa que Leitão vivencia dos dois lados, carros são mais fortes, motos são mais rápidas, mas, em número de veículos, as condições se aproximam cada vez mais da igualdade nas vias paulistanas -pelo menos no rush.
 
Embora as motos sejam só 12,8% da frota cadastrada no Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito), na rotina das ruas já existem lugares onde, nos picos, elas superam a quantidade de carros.

Esse cenário foi contabilizado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em pelo menos três pontos: estrada de Itapecerica (zona sul), Estevão de Carvalho e Conde de Frontin (estas duas vias, como parte do eixo da Radial Leste).
 
Os dados inéditos, compilados pela Folha, fazem parte de uma contagem veicular em dias típicos realizada pelo órgão de trânsito em 2010 -abrangendo 28 rotas e 59 vias da cidade de São Paulo.

Eles mostram como a circulação de veículos no dia a dia é diferente dos registros oficiais de emplacamento.

OPÇÃO
Na estrada de Itapecerica, das 7h às 10h, as motos somaram até 49,2% do tráfego. No pico da manhã, a média foi de 2.623 motocicletas, 2.214 carros, 405 ônibus, 75 caminhões e 18 fretados.

No mesmo sentido (bairro-centro) e hora, a constatação foi oposta na avenida Prof. Fonseca Rodrigues, em Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona oeste: as motos não alcançaram nem 5% do fluxo.
 
Para Ricardo de Oliveira Laiza, superintendente de planejamento da CET, a concentração de motos nos grandes corredores de ligação da periferia com a região central reflete a expansão dessa opção de deslocamento na população de renda mais baixa. "É a moto usada para ir ao trabalho, e não para entrega."
 
O especialista Luís Antônio Seraphim aponta que as vias onde as motos predominam são pontos "saturados", onde os automóveis param e só elas conseguem trafegar – mas de maneira inadequada. "Significa que as motos passam entre os carros, onde não deveriam", diz Seraphim.
 
O tráfego nesses corredores estreitos é causa de 35% dos acidentes fatais com motos na cidade de São Paulo, conforme dados da CET.

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