CRISTIANE BOMFIM
FELIPE TAU
As principais reivindicações da população não são prioridade da Prefeitura de São Paulo. Em consulta pública feita pela Rede Nossa São Paulo em parceria com a Câmara Municipal com 33.430 pessoas, o descompasso fica evidente, sobretudo quando o assunto é transporte público e coleta seletiva de lixo. Os dois itens foram os mais mencionados pelos participantes.
Para 77,41% deles, corredores de ônibus e pontualidade nas paradas deveriam ser olhados com mais atenção. “O ônibus demora muito para passar e quando chega ao ponto está superlotado”, reclama a aposentada Walkyria Solange Hochmülher, de 56 anos. No plano de metas da Prefeitura, chamado Agenda 2012, a maioria das promessas para transporte ainda não foi cumprida. Exemplo é a construção de 66 quilômetros de corredores de ônibus. Nenhum foi feito. Em julho, o prefeito Gilberto Kassab admitiu que não conseguirá cumpri-la.
Por outro lado, a administração municipal vem investindo no transporte individual. Seis dos dez túneis prometidos na Agenda 2012 já estão prontos e R$ 3,5 bilhões devem ser aplicados na construção de outros cinco.
Em relação ao lixo, 75,3% dos entrevistados consideram que a coleta seletiva e reciclagem em toda a cidade deveria ser prioridade. O assunto também ganhou espaço no plano de metas, mas não saiu do papel. Nenhum dos mil postos de entrega voluntária prometidos foi construído.
Moradora de Perdizes, na zona oeste, Camila Freitas Ciberi, de 26 anos, há dois anos recolhe o lixo reciclável por conta própria e o leva para um posto de coleta de um hipermercado a 2 km do seu condomínio. “Na garagem tem uma caçamba para lixo reciclável e dizem que uma empresa recolhe, mas nunca vejo o caminhão passar. Se tivesse um caminhão da Prefeitura, facilitaria bastante.”
O presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (Ibrades), Sabetai Calderoni, aponta a “atuação deficitária” nessa área. “Está tudo muito lento. Não existe um programa abrangente de coleta seletiva e reciclagem, não existem centrais de triagem nem uma política pública que se preocupe com isso.” A Prefeitura diz o contrário. Afirma que o Programa de Coleta Seletiva atende 75 dos 96 distritos e contempla 1,6 milhão de residências.
“As promessas ficam só discurso. Nesta gestão não foi gasto um real com corredores de ônibus, porque pontes e viadutos aparecem mais. Transporte público sempre foi meta, mas fazer é uma questão de vontade política”, afirma o engenheiro Jaime Waisman, professor de Transportes da Politécnica da USP.
Como justificativa, a Prefeitura afirma que “está trabalhando para implantar corredores de ônibus na cidade” e que “sete dos dez corredores passarão por requalificação”. O investimento é de R$ 92 milhões e os projetos estão em fase de licitação.