“Ação da CET não reduz mortes” – Jornal da Tarde

 

CAIO DO VALLE

As duas principais ações da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) iniciadas neste ano para aumentar a segurança viária em São Paulo – a redução do limite de velocidade em grandes avenidas e o programa de proteção ao pedestre – ainda não causaram impacto positivo nos índices de violência no trânsito registrados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP).

Estatísticas da pasta revelam que, de abril a setembro, o número de homicídios por acidentes de trânsito – 387 – manteve-se bastante próximo ao do mesmo período de 2010, quando 390 pessoas morreram dessa forma. As medidas de proteção da CET começaram a ser aplicadas nos meses de março e maio deste ano.

No caso de lesões provocadas por acidentes de tráfego, o comparativo mostra que houve, inclusive, um ligeiro aumento no período. A quantidade de registros sobre feridos nas ruas da capital subiu de 13.366 entre o segundo e o terceiro trimestres de 2010 para 13.444 este ano, variação de 0,7%.
Especialistas em trânsito afirmam que, embora sejam positivas, as políticas da CET devem ser acompanhadas de fiscalização constante para que surtam efeito prático. Ou seja, não basta instalar placas novas sem que haja agentes e radares para flagrar infrações. “A ação sozinha, isolada, tem pouca eficácia. É preciso haver um aparelhamento da lei, com tudo o que é necessário para a sua aplicação, e para o registro e o processamento das autuações”, diz Mauro Augusto Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Para ele, a questão passa por pontos como a manutenção adequada de faixas de travessia e a criação de estratégias eficientes para flagrar veículos infratores que burlam limites de velocidade.
Horácio Augusto Figueira, consultor e engenheiro de tráfego, acrescenta que campanhas para promover a segurança no trânsito também não devem parar. “Educação e fiscalização, as duas têm de ser permanentes. Não adianta nada deixar de colocar radares nas vias onde reduziram a velocidade”, afirma (leia mais abaixo).

Desde o início do ano, o limite de velocidade permitido aos carros em diversas vias da cidade tem diminuído. Segundo a CET, a menor velocidade de um veículo pode evitar ou abrandar alguns tipos de acidente. Por isso, vários trechos de avenidas como Paulista e Santos Dumont e da Radial Leste tiveram o limite reduzido de 70 km/h para 60 km/h.
Esse projeto começou com um piloto no ano passado nas avenidas 23 de Maio e Rubem Berta, zona sul. Em 2011, está sendo levado para outras artérias da cidade.

Já o programa de proteção aos pedestres teve início em maio deste ano na área central da cidade. Em agosto, multas para veículos que desobedecem as regras passaram a ser aplicadas naquela região. Há dois meses, a aplicação de autuações para esse tipo de infração foi estendida para toda a capital.

Na calçada

Segundo Lúcio Almeida, presidente da ONG Centro de Defesa de Vítimas do Trânsito, é preciso esclarecer melhor a população sobre as regras de tráfego. “As pessoas que atendemos geralmente reclamam da falta de uma maior divulgação sobre as leis.” Além disso, ele diz que pedestres são a maioria das vítimas. “Ainda há muito desrespeito por parte dos condutores nos cruzamentos e em relação à sinalização de trânsito.”

A imprudência de um motorista, que dirigiu após beber, foi que levou a estudante Mayara Martins, de 12 anos, a ficar seis meses com o pé esquerdo engessado. Ela foi atropelada na calçada de casa, no Jardim Cocaia, zona sul, em janeiro. “O motorista tentou fugir sem prestar socorro”, diz a mãe, a auxiliar de limpeza Vera Barreto, de 45 anos.  ::

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