CAIO DO VALLE
MARICI CAPITELLI
A Prefeitura gastou R$ 9,2 milhões com pintura antipichação nos últimos seis anos, mas a cidade continua pichada. Os rabiscos estão até mesmo em símbolos da capital, como a Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira, na zona sul, e no Minhocão, centro. Isso porque as estruturas que receberam o verniz especial contra os sprays, que facilita a retirada da tinta, precisam de limpeza, o que não tem sido feita de forma efetiva. A Prefeitura afirma que faz manutenção.
“Após a aplicação do verniz, é necessária a manutenção. O que percebemos é que o Metrô se preocupa mais com isso e é mais ágil. A Prefeitura é mais lenta”, diz Alberto Pereira, sócio gerente da MAP Concreto, que aplicou o material na ponte e em linhas do Metrô.
Moradores e especialistas consideram que a fiscalização para combater esse crime tem sido ineficiente. Para quem vive em locais que são focos de pichação, sobram impotência e indignação. “Gostaria de ver grafites bonitos e não essa sujeira. O ideal é que houvesse limpeza constante”, diz a aposentada Maria do Carmo Rocha, de 64 anos, que mora perto do Minhocão.
Os 92 pilares de sustentação do elevado foram pintados com tinta antipichação entre o final de 2010 e o começo deste ano, totalizando 15 mil metros quadrados de área. Entretanto, a maioria das vigas já foi alvo dos pichadores. “Não adiantou nada. Logo depois vieram e picharam”, afirma a lojista Nair Tancredo, de 59 anos, que trabalha em frente ao elevado.
Para ela, a falta de limpeza por parte da Prefeitura estimula o aparecimento de mais inscrições. A arquiteta e urbanista Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, concorda que os traços dos pichadores degradam o ambiente, desvalorizam o entorno e geram insegurança. “Dá a impressão que a autoridade se omitiu. Parece ausente e permite que esse tipo de atividade continue.”
Segundo a Secretaria Municipal de Coordenação de Subprefeituras, responsável pela pintura e manutenção, pichação é crime e “cabe à polícia fiscalizar”.
O capitão Sérgio Marques, porta voz da PM, explicou que os infratores acabam se aproveitando da escuridão e do pouco movimento nas ruas à noite. “Quando a PM se depara com uma situação dessa leva o pichador para uma delegacia onde assina um termo circunstanciado. Ele não é preso e comparece em juízo onde a pena é revertida para uma ação comunitária.”
A lei prevê pena de detenção de três meses a um ano e multa. Como são penas baixas – por crimes considerados de pouco potencial ofensivo – acabam revertidas em serviços sociais.
O Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) informou que há três delegacias especializadas na investigação de crimes contra o meio ambiente, que incluem pichação, mas os casos podem ser registrados e investigados pelo distrito policial da área onde o fato ocorreu. Há 60 ocorrências de pichações sendo apuradas pelo DPPC na capital.
A Prefeitura diz que entre 2005 e o mês passado, 14,4 milhões de metros quadrados de equipamentos públicos receberam pintura antipichação. Cada subprefeitura tem oito equipes para cuidar das áreas que sofrem depredação.
Como comparação, o gasto da Prefeitura em seis anos com produtos antipichação daria para fazer cerca de quatro creches. ::