Prefeito afirma que metas não são compromissos e diz que Ministério Público erra em mais de 50% dos casos
FELIPE FRAZÃO, MARCELO GODOY – O Estado de S.Paulo
Gilberto Kassab (PSD) diz que é impossível cumprir 100% das metas de sua gestão. Afirmou que elas não têm caráter compulsório, mas, "felizmente", vai terminar o governo com um índice alto de cumprimento. O prefeito se defendeu das ações do Ministério Público Estadual, que vê corrupção e irregularidades nos contratos da merenda escolar e da inspeção veicular. "Só falta alguém achar que o Ministério Público está certo sempre. Então, o MP que governe a cidade." Leia os principais trechos de entrevista.
Como o senhor explica para o eleitor ter os bens bloqueados e ser acusado pelo Ministério Público de atos de improbidade no caso Controlar?
Primeiro, não tem denúncia no campo moral. A Prefeitura não está sendo acusada de roubar, de desvios. O que existe é uma discussão há dois anos, onde o Ministério Público acha que a Prefeitura deve ir por um caminho e a Prefeitura está discordando. Recorremos ao Judiciário. Só falta alguém achar que o Ministério Público está certo sempre. Então vamos fechar a Prefeitura. Não vamos ter eleições e o Ministério Público governa a cidade. Todos sabem, tenho o maior respeito pelo Ministério Público, mas é evidente que ele não está certo sempre. Tanto é que na história do Ministério Público, se você fizer um levantamento, mais de 50% das vezes o tempo mostrou que ele tava errado. Eu confio na Justiça e ela vai mostrar que a Prefeitura está certa.
O senhor vai entrar com recurso contra o bloqueio dos bens?
Aí já não sei, a Procuradoria (Geral do Município) é que coordena essas ações.
O senhor se sente perseguido pelo Ministério Público?
Não. Se você fizer um levantamento, as discordâncias do MP com a nossa gestão, comparando com outros governos, é um número bastante reduzido.
O senhor tem um secretário, Januário Montone, que acabou de ter o sigilo bancário quebrado pela Justiça no caso da merenda. O senhor vai mantê-lo?
É um excelente secretário da Saúde. Confio na sua inteligência, na sua formação e também na Justiça,
O senhor criou um partido em tempo recorde. Na população, criou-se a ideia de que o senhor estava mais voltado a isso do que à administração. Como vê essas críticas?
A minha agenda é pública. Eu começo (a trabalhar) todo dia às 5h30 e vou dormir às 10 da noite. Não teve um único dia, à exceção de alguns sábados e domingos, que deixei a cidade. Portanto, estou muito tranquilo. A democracia faz parte do processo político. É até uma inocência achar que quem está na vida pública não precisa se dedicar a partidos.
O que o senhor pretende fazer para reverter em 2012 a queda de sua popularidade?
Cada pesquisa tem as suas circunstâncias. Depois de sete anos de mandato, um como vice-prefeito e seis como prefeito, as circunstâncias são de uma gestão bem avaliada. Até porque, se você analisar as pesquisas com bastante isenção, vai perceber que 80% das pessoas entendem que a administração é ótima, boa ou regular. Então, só 20% entendem que é ruim e péssima. Quando a pessoa entende que é regular ou boa, ela vê pontos positivos.
O senhor tem 166 metas para cumprir em 2012 – ou uma a cada dois dias. Vai conseguir?
Primeiro precisa lembrar de todas as metas cumpridas (foram 55). E depois, quando se fala em metas, vale ressaltar que essa é a única administração pública que tem projeto de metas, porque a nossa gestão quis. Eu fui pessoalmente à Câmara e defendi a aprovação desse programa. Agora é bom que as pessoas entendam que meta não é de caráter compulsório. Meta é meta. Existem compromissos, imposições jurídicas e metas. Mas felizmente nós vamos terminar a gestão com um índice positivo e alto em relação às metas atingidas. É muito difícil, é praticamente impossível um governo atingir 100% das metas.
De que valeu então ir à Câmara e fazer esse processo com a sociedade se o senhor não se sente obrigado a cumpri-las?
Não. Eu me sinto. É meta. Eu me sinto obrigado a fazer um esforço muito grande como gestor. Tanto é que apresentamos mensalmente os balanços de metas. E não apenas me sinto obrigado, como tenho um grupo que trabalha em cima das metas com os secretários. O que eu disse é que não pode ficar com a impressão de que o governo tem obrigação de fazer 100% das metas. É impossível.
O senhor prometeu construir três hospitais e lançou uma PPP de R$ 6 bilhões para isso. Mas ela está parada na Justiça. Ela vai sair do papel?
A PPP vai sair e os três hospitais também vão sair. Nós já lançamos duas vezes o edital da PPP e vamos agora lançar pela terceira vez. As garantias foram melhoradas, discutidas com o BNDES, discutidas na Prefeitura. Enquanto tivermos tempo hábil de incorporar os hospitais numa PPP, vamos congelar qualquer outra discussão em relação a esses três hospitais.
O senhor é a favor da internação compulsória de dependentes de crack?
É um problema polêmico e complexo. Se não fosse já teria uma definição.
Qual sua posição?
É que se aprofunde a discussão, mas precisa ter limites. É muito perigoso o cheque em branco para qualquer um. Sou a favor do aperfeiçoamento e da mudança, mas com limites.
O que o senhor diria a quem cobra os corredores de ônibus prometidos na capital e para quem espera que o senhor invista R$ 2 bilhões no Metrô?
Isso é um compromisso: até o final dos oito anos depositarmos R$ 2 bilhões no metrô. A saída para São Paulo é metrô. É a primeira vez que uma Prefeitura investe em metrô. Enquanto isso, não podemos fazer projetos errados. Cito dois corredores que melhoramos. O corredor do Expresso Tiradentes ia ter 173 cruzamentos. Resolvemos investir na melhora. Ele será no modelo monotrilho e não terá cruzamento. Nós vamos entregá-lo dois anos mais tarde. Não é diferente no corredor Celso Garcia. Vamos entregar no modelo de metrô uma das linhas mais importantes da cidade, com 33 quilômetros, do Itaim Paulista ao centro. Numa cidade como São Paulo, grandes projetos têm prazo de implantação de dez anos, 11 anos, 12 anos e não temos de ter preocupação em pôr nome em placa.