CAIO DO VALLE
O número de pessoas transportadas nos ônibus da cidade de São Paulo não para de subir: entre 2007 e 2011, cresceu 7,6%, o que representa 570 mil passageiros a mais por dia. Apesar do aumento, o tamanho da frota segue praticamente o mesmo, em torno de 15 mil coletivos. Com isso, há mais superlotação e desconforto para os usuários, e por um preço sempre mais alto. A tarifa, no período, variou 30%, o que significa uma arrecadação maior por parte das empresas de ônibus.
Quem usa uma das linhas mais cheias da rede – a que vai do Terminal Campo Limpo, na zona sul, à Praça Ramos de Azevedo, no centro – conta que a lotação tem crescido e relata os transtornos decorrentes disso. O porteiro Ailton Fausto, de 29 anos, por exemplo, reclama da demora para os ônibus chegarem.
“Como tem mais gente usando, por causa dessa espera, já é quase impossível viajar sentado, especialmente nos finais de semana.” O professor Thiago Mendes, de 36 anos, afirma que, às vezes, chega a esperar cinco ônibus para poder embarcar. “Tinham que ampliar o número dos corredores e colocar mais ônibus para rodar na cidade.”
Os especialistas em transportes concordam apenas em parte com essa reivindicação. Para eles, a construção de corredores exclusivos facilitaria o deslocamento dos coletivos, tornando as viagens mais rápidas e eficientes. Por sua vez, o aumento da frota pouco faria para solucionar o problema.
“Seria colocar mais veículos para rodar em um sistema viário que já está saturado. Pode até ser que o conforto melhorasse, mas o tempo de viagem iria aumentar”, diz Jaime Waisman, professor de engenharia de transportes da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo ele, as pessoas tendem a valorizar a rapidez dos deslocamentos em detrimento do conforto – isso ajuda a explicar a preferência pelo metrô inclusive nos horários de pico, quando estações e trens ficam lotados. Por isso, a velocidade média dos ônibus é mais importante do que a quantidade de veículos em circulação: andando mais depressa, cada veículo poderia levar um número maior de pessoas.
Waisman pondera que o crescimento do número de passageiros nos ônibus durante os últimos cinco anos pode ser explicado pelo aumento da população e pelo aquecimento da economia. “Tem mais gente usando os ônibus para ir trabalhar ou estudar, fazer compras, usar o posto de saúde.”
A assistente de mídia Patrícia Madruga, de 32 anos, diz que é mais vantajoso ir de ônibus que de carro. “Existe lotação, mas ainda sai mais barato.”
Para Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia de transporte, é necessário que a Prefeitura fiscalize com mais rigor a circulação dos ônibus, para constatar se as empresas estão respeitando horários. Contudo, ele avalia que, a longo prazo, a solução é o metrô. “Para o tamanho e a demanda da cidade, os ônibus não dão conta. Eles devem ser auxiliares ao metrô.”
A São Paulo Transporte (SPTrans), informou que, entre 2009 e 2011, a oferta de lugares na hora de pico cresceu mais (4,6%) do que o número de passageiros no período (2,4%) – a quantidade de pessoas transportadas saltou de 2,87 bilhões para 2,94 bilhões, e a de lugares, de 532 mil para 557 mil.
Isso aconteceu, segundo a estatal, porque a frota foi renovada com veículos maiores. O engenheiro Waisman, porém, critica alguns desses modelos de ônibus, como os articulados. “Sacolejam muito, porque são feitos para circular em corredores. Mas aqui são usados para rodar em todo lugar.”