“Ação na Cracolândia é midiática, diz Chalita” – Valor Econômico

 

Por Raphael Di Cunto e Carmen Munari | De São Paulo

Enquanto o governo federal, do PT, visitava a Cracolândia – região do centro de São Paulo conhecida pelo grande número de dependentes de crack – e evitava atritos com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), pré-candidatos à prefeitura da capital paulista, em debate da Rede Nossa São Paulo, condenavam a operação da Polícia Militar articulada por Kassab e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para acabar com a concentração de viciados na região.

O deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), um dos debatedores, acusou Kassab de fazer propaganda com a ação. "O prefeito de São Paulo deveria procurar a presidente da República e o governo do Estado para buscar uma decisão real, não midiática", afirmou o pemedebista, que não citou Alckmin, de quem foi secretário de Educação e é amigo, das críticas.

Na opinião de Chalita, a resposta para a Cracolândia "não passa pela presença da polícia". "A questão central não foi resolvida: o que você faz com as pessoas que querem ser internadas, que querem ter a possibilidade de resgatar a sua dignidade e não tem para onde ir? Levar elas para albergue ou hospital não resolve", afirmou.

A ex-vereadora Soninha Francine, pré-candidata do PPS, não recriminou a operação policial, mas disse que ela deveria ser precedida de outros programas para atendimento dos viciados. "Existem várias ações que são necessárias, inclusive com a ajuda do governo federal. O governo Lula não financiava leitos para internação dos dependentes. O governo Dilma revisou essa política, temos que ver se agora melhora a integração", ponderou.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), veio a São Paulo ontem para anunciar investimento de R$ 6,4 milhões para instalação de 16 consultórios de rua. Metade deste valor já estava previsto desde dezembro. Os outros R$ 3,2 milhões serão repassados ao longo do ano, segundo a assessoria do ministério. O dinheiro é parte do programa "Crack, é possível vencer", lançado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro.

Pré-candidato do PCdoB, partido que dá sustentação a Kassab na Câmara Municipal e que comanda a Secretaria Especial da Copa do Mundo da prefeitura paulistana, o vereador Netinho de Paula disse que a ação foi uma decisão política equivocada, que pretendeu se antecipar ao governo federal. "Foi desastrosa. A polícia atuou solitária, sem ajuda dos outros órgãos que deveriam estar lá e sem condição de internar as pessoas que pediam", opinou.

Petistas acusam o governador e o prefeito de iniciado a operação policial na Cracolândia como forma de se antecipar ao projeto do governo federal, que poderia prejudicar a imagem dos dois se fosse bem-sucedido. Ao lado de Kassab, que negocia apoio ao PT na eleição municipal, Padilha evitou criticar a operação da prefeitura e do governo estadual.

A posição do petista foi diferente da adotada pelo pré-candidato do partido, o ministro da Educação, Fernando Haddad, que chamou a ação de "desastrada" e "desarticulada" antes das negociações com o prefeito tomarem mais corpo nesta semana.

A crítica fez os quatro pré-candidatos tucanos que disputam as prévias, e que desejam contar com o apoio do prefeito para suas candidaturas, saírem em defesa da intervenção no centro da cidade. "Foi nas administrações do PT que a Cracolândia se consolidou na região da Luz e depois foi crescendo", rebateu o secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo, que foi chamado de "higienista" pelas políticas públicas para a população carente.

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