Durante debate no Fórum Social Temático, no Rio Grande do Sul, a ex-senadora fez elogios aos movimentos suprapartidários e evitou falar diretamente sobre o cenário político brasileiro
Elder Ogliari, correspondente de O Estado de S.Paulo
PORTO ALEGRE – A ex-senadora Marina Silva, atualmente sem partido, disse que os movimentos articulados por redes sociais que se organizam para defender mudanças em diversos países podem isolar os grupos que tradicionalmente detêm o poder político, durante o debate "Política 2.0", do Fórum Social Temático, nesta quinta-feira, 26, em Porto Alegre. "Isso se vê em todo o mundo, no Chile, na Espanha, nos Estados Unidos", afirmou. "Agora as pessoas querem ser sujeitos, estamos diante da possibilidade de democratizar a democracia", avaliou, elogiando os movimentos suprapartidários que buscam novos espaços para qualificar as relações do homem com ele mesmo e com a natureza.
Em sua manifestação, Marina fez mais referências teóricas do que alusões diretas à política nacional e considerou o excesso e não a falta como o problema mais grave que a humanidade tem. "Essa cultura foi capaz de produzir tudo, e se for o caso em tempo real, mas há quem não tenha", avaliou, em referência à má distribuição dos bens.
Comparação. No mesmo debate, Ricardo Young, que, assim como Marina, participa do conselho diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, sustentou que há uma situação de grande mudança nos controles políticos graças às redes sociais. Citou como exemplos o Massacre do Carandiru, em 1992, que levou alguns dias para ser conhecido em detalhes, e a desocupação da área do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), no último domingo, que gerou uma imediata onda de protestos contra a operação policial que afastou 1,6 mil famílias do local.
Oded Grajew, do Instituto Ethos e Rede Nossa São Paulo, destacou a mobilização que levou a Câmara de Vereadores a aprovar a lei que obriga o prefeito eleito a divulgar seu plano de metas, incluindo as promessas da campanha, e a prestar contas do que conseguiu fazer a cada seis meses. Também citou outra mobilização da sociedade civil que levou uma Proposta de Emenda Constitucional ao Congresso Nacional para obrigar a presidência da República, os governadores e todos os prefeitos a fazerem o mesmo. A matéria já passou pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal e deve ser analisada em breve por uma Comissão Especial. "As conexões, as redes e as alianças mostram que é possível mudar", afirmou, para um público de cerca de cem pessoas.