Índices de poluição atmosférica em 2011 foram os piores desde 2003, mostra levantamento com base em dados da CETESB
Ozônio, que teve maior nível desde 2001, é o grande vilão, ‘ajudado’ pela imensa frota de veículos, dizem técnicos
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
Os índices de poluição do ar registrados na Grande São Paulo em 2011 são os piores dos últimos oito anos, mostra levantamento feito pela Folha com base em dados da Cetesb, a agência ambiental paulista.
O ozônio, dizem os técnicos, é o grande vilão que emporcalha o ar. Mas a culpa também é da imensa frota de veículos, que, só na capital, é de 7,18 milhões.
No ano passado, o ar ficou inadequado durante 97 dias em pelo menos um ponto da região metropolitana -contra 94 em 2003-, considerando-se todos os poluentes.
Só o ozônio, em 2011, passou do limite em 96 dias, contra 77 em 2003. É o pior índice desse poluente desde 2001.
Comparações com os anos anteriores não podem ser feitas porque a rede da Cetesb era menor na década de 1990.
A particularidade do ozônio é que ele não é emitido diretamente por nenhum tipo de fonte. Forma-se a partir de substâncias chamadas precursoras, emitidas, por exemplo, pelos escapamentos de carros e de caminhões.
A FROTA
É aqui que entra a frota na história, diz Paulo Saldiva, médico da USP especialista em poluição atmosférica.
"O aumento das emissões das substâncias precursoras está relacionado com o crescimento tanto da frota quanto do trânsito na Grande São Paulo", explica.
Com muita frota e muito trânsito, completa Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, fica difícil controlar a poluição por ozônio.
"Isso é resultado de muitos anos sem a inspeção obrigatória e, claro, do enorme atraso nos transportes públicos."
Outra questão para o aumento do ozônio é técnica. A Cetesb, desde 2007, instalou uma estação para medi-lo na Cidade Universitária (zona oeste). "Este equipamento passou a captar de forma mais adequada a formação de ozônio", afirma Saldiva.
Se, entre 1995 e 2005, a qualidade do ar melhorou bastante na Grande São Paulo, concordam os especialistas, a piora do ozônio em 2011 pode indicar uma mudança de cenário. Para Saldiva, os índices não devem melhorar mais na mesma velocidade.
TENDÊNCIA
Acostumada a lidar com os dados de poluição do ar no Estado, Maria Helena Martins, gerente de qualidade do ar da Cetesb, discorda que exista uma tendência de alta na poluição por ozônio.
"As condições meteorológicas são fundamentais para explicar o comportamento do ozônio", diz. "No ano passado, no inverno, tivemos muitos dias com sol e sem chuva. Não há tendência clara para este poluente. Nem para um lado e muito menos para outro."
Em compensação, a técnica do governo faz coro com aqueles que estão preocupados com os níveis de ozônio medidos na atmosfera.
Para ela, a quantidade do poluente está estabilizada em níveis inadequados. "O ideal seria que eles baixassem. São Paulo vive o mesmo problema de muitas grandes regiões do mundo."
A receita de todos é conhecida. Além de diminuir a dependência do carro, é preciso um controle rígido das fontes de poluição. "Como estamos fazendo bastante", diz Maria Helena, da Cetesb.
Frota imensa e trânsito ruim ‘anulam’ eficácia de medidas
DE SÃO PAULO
De um lado, a parte "boa": carros flex, inspeção veicular e veículos cada vez menos poluidores que, às vezes, usam combustíveis menos "sujos", como o álcool. De outro, a parte "ruim": o aumento da frota e do trânsito na Grande SP.
Segundo técnicos, o efeito da parte "boa" -medidas para melhorar a qualidade do ar- é cada vez menos perceptível por causa da parte "ruim" -carros demais nas vias.
Mas sem inspeção e equipamentos como catalisadores, por exemplo, a situação seria bem pior, dizem eles.
Tanto que o secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Jorge (PV), vive pedindo que as outras cidades da região metropolitana adotem a inspeção. "Existe um projeto parado na Assembleia sobre isso", afirma.
Estimativas dão conta que mais de 1 milhão de veículos de outras cidades circulam todos os dias em São Paulo, que já tem a maior frota do país, entre carros, motos, ônibus e outros.
Em 2001, ela aumentou em 232 mil veículos, segundo o Detran, passando a 7,18 milhões -3% a mais que os 6,95 milhões de 2010. A velocidade do crescimento, porém, diminuiu. O total de carros novos ou transferidos caiu 12%. Foram 740 mil, ante 845,3 mil.