“Custo de atropelamentos é de R$ 892 mil por dia em SP” – Jornal da Tarde

 

CAIO DO VALLE

Os atropelamentos custam caro à cidade. Estatísticas tabuladas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) com base em parâmetros do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que, por dia, os acidentes envolvendo pedestres na capital custam R$ 892 mil. O montante diz respeito a 2010 e leva em conta gastos com resgate, internação hospitalar, prejuízos a veículos e equipamentos urbanos, atendimento policial, congestionamento, processos, previdência social, perda produtiva, dentre outros.

Somando-se todos os mortos e feridos em atropelamentos nas vias paulistanas, o valor anual desse tipo de ocorrência alcança os R$ 325,8 milhões (veja valores detalhados nesta página). Isoladamente, cada pessoa que morre atropelada na capital tem um custo de R$ 177 mil – outros R$ 56 mil são só para despesas do acidente. As contas foram feitas pela gestora de trânsito da CET Telma Maria Gorgulho Pereira Micheletto.

Ela explica que, além dos aspectos diretos e práticos dos acidentes, mais fáceis de serem calculados, há o fator humano, de difícil mensuração. “A perda de uma pessoa pode acabar com uma família, com a sua estrutura.” Na avaliação dela, campanhas educativas – como a iniciada no ano passado pela CET, para estimular o respeito a quem anda a pé – e melhorias na área de segurança de trânsito são ações eficientes para que se reduzam atropelamentos.

O foco das intervenções de engenharia de tráfego, afirma Micheletto, deve ser em aspectos de acessibilidade. “Medidas que melhorem o transitar das pessoas.”

Já o consultor de tráfego Horácio Augusto Figueira, mestre em engenharia pela Universidade de São Paulo (USP), defende a maior fiscalização por parte da CET e da Polícia Militar, para inibir acidentes causados por embriaguez ou imprudência dos motoristas. “Quanto a cidade está investindo em prevenção para que, depois, não tenhamos todo esse gasto?”

Ele questiona o fato de a fiscalização de trânsito com agentes ser muito reduzida durante a noite e a madrugada, bem como nos finais de semana. “Não consigo enxergar mudanças se não houver fiscalização 24 horas, e todo dia.”

Foi por volta das 6h de um domingo que o barman Ricardo de Oliveira Miranda, de 25 anos, foi atropelado na calçada com a noiva e um amigo enquanto aguardavam o ônibus, em outubro do ano passado. Eles tinham acabado de deixar a casa noturna onde trabalhavam. O acidente, na Avenida Juscelino Kubitschek, zona sul, foi causado por um condutor sem carteira de habilitação, com sinais de embriaguez e que dirigia acima do limite de velocidade.

Quatro meses e seis cirurgias depois, Miranda ainda se recupera do acidente em casa. “Eu e minha noiva somos registrados, então o INSS ajuda com uma pensão por acidente de trabalho. Mas o dinheiro não equivale nem à metade do salário que recebíamos.”

A moça quebrou os dois fêmures. Ele, por sua vez, perdeu metade da batata da perna e ainda não move o pé direito. As operações e os medicamentos foram custeados pelo Hospital das Clínicas, onde recebeu os cuidados médicos.

Diretor clínico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC, Jorge dos Santos Silva explica que a recuperação de atropelados é lenta. “A volta ao trabalho demora, em média, 10 meses.”

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