Educação. O restante não tem conhecimento compatível com a série em que está, mostra o relatório anual da ONG Todos pela Educação; o estudo foi feito com base em dados do MEC e do IBGE e se refere ao 9º ano do ensino fundamental das redes públicas
MARIANA MANDELLI – O Estado de S.Paulo
Apenas 35 cidades brasileiras – 0,6% do País – têm 50% ou mais de seus alunos com aprendizado em matemática adequado à sua série. Ou seja, a maior parte dos estudantes desses municípios não aprendeu, por exemplo, a identificar objetos em mapas e a resolver problemas com números inteiros e racionais fazendo várias operações. Os dados se referem ao 9.º ano do ensino fundamental das redes públicas de zonas urbanas.
No caso da língua portuguesa, esse índice é de 1,2%, o que equivale a dizer que só 67 municípios têm a metade ou mais de seus estudantes com conteúdo satisfatório para o ano da escola em que estão. Isso significa que a grande maioria ainda não aprendeu a identificar o conflito e os elementos que constroem a narrativa de um texto, por exemplo.
Os dados são de 2009 e constam do relatório anual do Todos Pela Educação, apresentado ontem (mais informações nesta página). Foram considerados 5.451 dos 5.565 municípios.
Todo aluno com o aprendizado adequado à sua série é uma das metas da organização. Para acompanhar esse processo nos municípios, é usado o porcentual de estudantes com aprendizagem adequada em língua portuguesa e matemática, disciplinas avaliadas pela Prova Brasil nos 5.º e 9.º anos do fundamental – as cidades que não foram consideradas não fizeram a avaliação.
No caso do 5.º ano, em matemática, são 1.029 as cidades (19%) que têm 50% ou mais dos alunos sabendo o que foi ensinado – como ler dados em tabelas. Em língua portuguesa, essa taxa cai para 14,3% – ou 773 cidades – com metade ou mais sabendo, por exemplo, identificar efeitos de humor em textos. Foram consideradas 5.406 cidades.
Nenhuma das capitais do País tem metade ou mais de suas crianças com o aprendizado adequado nas duas disciplinas das séries avaliadas. As taxas mais altas pertencem a Belo Horizonte (MG), com 49% de suas crianças do 5.º ano com conteúdo correto em português e em matemática.
Esses mesmos índices, na cidade de São Paulo, são de 33,6% para matemática e 34,5% para língua portuguesa. A Prefeitura afirma que seus esforços vêm dando resultado e reconhece que é preciso avançar mais.
Cidades grandes paulistas também têm índices abaixo da metade. É o caso de Campinas, que tem, por exemplo, apenas 12,3% de alunos do 9.º ano com aprendizado adequado em matemática. Seu secretário de Educação, Eduardo Coelho, reconhece que o aproveitamento no 9.º ano é um "sinal amarelo" para os administradores. "Educação é um processo. Quando se traz análise de 2009, sabe-se que muita coisa pode ter mudado. Mas acho que precisamos melhorar muito", afirma.
Segundo Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a maior parte das cidades não oferece todo o fundamental. "A maioria dos municípios só atende dos 6 meses aos 11 anos", diz. Para ela, novos recursos para a educação básica e a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) podem melhorar o quadro.
Objetivos. Parte dos municípios e Estados cumpriu as metas do Todos Pela Educação para aprendizado adequado. Em matemática, no 5.º ano, por exemplo, cinco Estados deixaram de atingir as metas. Já no 9.º ano, só quatro Estados as atingiram.
Para especialistas, falta eficiência no processo de aprendizagem no decorrer dos anos. "Hoje, no 5.º ano, a porcentagem de alunos que aprendem o esperado é maior que no 9.º ano – que, por sua vez, é maior que 3º do ensino médio", explica Priscila Cruz, diretora executiva da organização. "Toda a ineficiência do sistema deságua no ensino médio: só 11% dos que concluem têm aprendizado suficiente em matemática", afirma Priscila.
A meta do Todos Pela Educação é de que, até 2022, 70% ou mais alunos do País tenham aprendido o adequado para sua série. No entanto, as taxas ainda são baixas. Hoje, apenas 14,7% dos alunos do 9.º ano do fundamental sabem o mínimo em matemática, por exemplo. Em português, o índice é de 26,2%. / COLABOROU TATIANA FÁVARO