“Redes sociais usadas para cobrar transporte melhor” – Jornal da Tarde

 

CAIO DO VALLE

Quer protestar contra ônibus e metrô lotados? Já não sabe a quem reclamar do semáforo da rua queimado há tempos? Tem o flagrante de um veículo parado irregularmente? Use o Facebook. Ou o Twitter. As redes sociais da internet estão se tornando o espaço preferido para pressionar os governos por melhorias no trânsito e no transporte de São Paulo. Um dos exemplos mais contundentes é o manifesto contra a interrupção da Linha 10-Turquesa da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na Estação Brás, na região central. Até o ano passado, ela ia até a Luz.

A página do Facebook sobre o tema já reúne 700 pessoas interessadas em fazer com que o ramal funcione integralmente. Denominado “Queremos a Linha 10 da CPTM de volta à Luz”, o site traz eventos e ações que tentam dissuadir a estatal da decisão de encerrá-la no Brás.

O professor universitário Miguel Savietto, de 55 anos, é um dos signatários de um abaixo-assinado (com mais de 1,8 mil assinaturas) divulgado no site. Ele mora em Ribeirão Pires, no ABC, e pega a linha para ir à capital. “O uso da internet é muito positivo. O que ficaria restrito a um grupo ganha repercussão.”

A empresa ainda recebe – e, às vezes, responde – reclamações em seu perfil oficial  www.facebook.com). As queixas vão desde problemas operacionais nas linhas a protestos contra o recente aumento da tarifa. A CPTM, porém, não é a única estatal cobrada pelos internautas.

Embora ainda não tenha uma conta própria no Facebook, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) também é alvo de pedidos. Em uma página criada por usuários do site, são publicadas fotos e queixas sobre o trânsito. Uma imagem mostra um semáforo supostamente apagado na altura do número 495 da Rua Parapuã, na Brasilândia, zona norte. “O farol está quebrado desde que acabou a luz na rua. Até agora, nada”, escreveu o autor da mensagem.

Por enquanto, a CET, assim como a São Paulo Transporte (SPTrans), só se relaciona pelo Twitter. No entanto, esses canais (respectivamente, @cetsp_ e @sptrans_) são utilizados apenas para divulgar ações como interdições de vias. Quem faz perguntas ou reclamações não recebe resposta.

Além disso, os comentários dos seguidores não podem ser vistos e discutidos pelos outros internautas. O que restringe uma das características mais poderosas das redes da internet: a multiplicação da cobrança. É a avaliação da professora da Universidade de São Paulo (USP) Giselle Beiguelman, especialista em redes sociais. “A pressão é a garantia de eficiência por parte do público. As pessoas sabem que têm que ser cúmplices do outro, porque vale a pena.”

Ela diz que, com ferramentas como o Facebook e o Twitter, dificulta-se a tentativa de agentes públicos de encobrir reivindicações. “Não é mais como cobrar por e-mail ou por telefone, em que ninguém sabia se o outro lado estava recebendo a demanda.”

O Metrô foi uma das primeiras estatais de transporte a ter Twitter (@metrosp_oficial) e Facebook  www.facebook.com). Neles, os comentários são pouco censurados e boa parte é respondida. Algumas reivindicações chegam até a ser atendidas. Segundo a estatal, as mensagens sobre problemas são encaminhadas “o mais rápido possível” para a área responsável.

Sobre a alteração na Linha 10-Turquesa, o secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, disse ao JT que “tudo foi feito com controles e estudos” e que só 5% dos 400 mil usuários chegavam à Luz. “São 20 mil pessoas. Estão sentidas, mas houve ganho para os outros.” Ele afirmou que, com a mudança, o intervalo dos trens diminuiu para 5 minutos.

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