“A capital dos inimigos das bicicletas” – Jornal da Tarde

 

CAIO DO VALLE, FABIANO NUNES E LUÍSA ALCALDE

Os principais vilões de quem quer usar a bicicleta como meio de transporte são os motoristas que não aceitam dividir as ruas da capital com as bikes. Essa rivalidade no trânsito resulta em “finas”e fechadas que assustam e afugentam os ciclistas. Nessas manobras, muitos se desequilibram, caem e se machucam. São essas atitudes que fazem o andar sobre duas rodas em São Paulo ser uma opção perigosa.

Para mostrar como funciona esse meio de transporte na cidade e discutir as suas questões, o Jornal da Tarde publica a partir de hoje uma série de reportagens.

“Quem quer utilizar bicicleta em seus percursos precisa compartilhar a rua com carros. Uma saída seria sinalizar mais ciclorrotas, legitimar caminhos bacanas e orientar os motoristas a respeitarem o nosso direito de pedalar”, diz a jornalista Aline Cavalcante, de 26 anos, do Pedalinas.Org.

O diagnóstico dos principais problemas encontrados pelos amantes da bicicleta na capital foi feito por 10 cicloativistas ouvidos pelo Jornal da Tarde na semana passada. Em segundo lugar na lista dos empecilhos aparecem as alças de acesso de pontes, apontadas como os locais onde mais ocorrem acidentes.

“O ciclista vem da Praça Panamericana para cruzar a ponte da Cidade Universitária na faixa da direita. De repente, ela vira segunda faixa e, na direita, estão vindo carros da Marginal, a 70km/h. Eles vão querer esperar a bicicleta que está a 20km/h ou vão jogar em cima para o ciclista sair da frente?”, afirma William Cruz, autor do site Vá de Bike.

A falta de estacionamentos para bicicletas é o terceiro impedimento para a bicicleta ser utilizada com maior frequência. Embora uma lei municipal tenha tornado obrigatório o estacionamento para bicicletas em “edifícios públicos, indústrias, escolas, centros de compras, condomínios, parques e outros locais de grande afluxo de pessoas”, a legislação não foi regulamentada e, portanto, não há fiscalização. Outra lei obriga estacionamentos com mais de 50 vagas a ter seguro para bicicletas. “Mesmo oferecendo pagar o valor de um carro, são raros os que aceitam”, diz Cruz.

Há motoristas e pedestres que acham que as bicicletas não combinam com o trânsito do dia a dia. “Os ciclistas não respeitam a sinalização, são folgados. Parece que sempre se veem como vítimas”, diz o taxista Flávio Coutinho, de 29 anos. Segundo ele, muitos usuários de bike em São Paulo trafegam na contramão e entram de repente na frente dos carros.

Outro taxista, José da Silva, de 64 anos, também não tem paciência com quem está sobre duas rodas, especialmente em grupos. “Um ciclista sozinho é um ciclista, mas dois juntos já vira um bando.” Ele diz que quase atropelou uma bicicleta por imprudência. “O respeito deveria ser recíproco, e não só dos motoristas.”

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