“Programa para pedestres esquece novas passarelas” – Jornal da Tarde

 

CRISTIANE BOMFIM

Apesar de no ano passado ter lançado um grande programa para evitar atropelamentos – com campanha educativa para pedestres e multas aos motoristas que desrespeitam seus direitos – a Prefeitura de São Paulo não construiu nenhuma passarela para pedestres na atual gestão. Segundo dados obtidos em documentos de execução orçamentária da capital, nenhum real reservado para esse fim foi gasto entre 2009 e ontem.

Para este ano, está previsto investimento de R$ 1 milhão, mesma quantia reservada em 2010 e 2011, e não utilizada. Enquanto isso, pedestres que precisam atravessar vias com fluxo intenso de carros e sem semáforos têm de percorrer grandes distâncias ou fazer a travessia sem segurança.

A falta de investimento em passarelas pode ser notada desde 2005, quando o valor orçado para este serviço era de R$ 99 mil e nada foi gasto. No ano seguinte, os recursos dobraram, mas de novo nada foi investido. Em 2007 e 2008, os valores eram, respectivamente, 2,4 milhões e R$ 1,14 milhões. No primeiro ano, apenas 1% foi gasto e no segundo 25%.

Exemplo de quem sofre por falta de passarelas pode ser encontrado na vizinhança da Avenida Escola Politécnica, no Jaguaré, zona oeste. Parte dos seis quilômetros da via foi construída paralela a um córrego, impossibilitando a travessia nesse trecho. Os semáforos ou cruzamentos são poucos e distantes um dos outros.

“Não dá para atravessar. Para eu chegar do outro lado preciso andar muito ou pegar carona. Apesar de perto, é contramão. Uma passarela faz falta”, diz a dona de casa Zumira Macedo, de 55 anos, que costuma visitar semanalmente parentes do outro lado da pista.

A construção de uma passarela na via foi lembrada no Orçamento deste ano, mas o valor destinado para a obra é de apenas R$1.000. E não foi definido o ponto exato de onde ela ficaria.

Na Mooca, zona leste, a falta de uma passarela atrapalha a vida de muitos frequentadores do Mooca Plaza Shopping, inaugurado no fim de 2011. Isso porque o centro de compras fica quase no pé do Viaduto Capitão Pacheco Chaves e, paralelo à Avenida do Estado e a linha férrea, mas quem está na outra ponta do viaduto, na Rua dos Patriotas, no Ipiranga não tem alternativas para chegar ao local.

“Se tivesse uma passarela no fim da Rua dos Patriotas para podermos cruzar a linha do trem, seria muito mais fácil. Mas a única opção é andar pelo viaduto, mas acho perigoso. Então, acabo pagando um ônibus ou taxi só para chegar do outro lado”, diz a secretária Andréia Cassiano de Medeiros, de 29 anos, que trabalha no Ipiranga. “Seria uma boa opção para o almoço se tivesse uma forma mais fácil de chegar.”

A Secretaria de Infraestrutura e Obras da Prefeitura já tem um projeto para a construção da passarela, mas não informou qual o prazo para a obra e se a responsabilidade será do shopping, como medida de compensação viária. A CPTM informou, por nota, que não foi consultada sobre o assunto e que, neste caso, não tem responsabilidade pela construção.

Para o urbanista e consultor de engenharia de tráfego Flamínio Fichmann, as passarelas são ferramentas importantes da engenharia de tráfego. “A prioridade da nossa engenharia de tráfego, apesar das recentes campanhas para pedestres, ainda é a fluidez dos carros. O pedestre fica de lado.” A Prefeitura não respondeu as perguntas feitas pelo JT sobre a construção de passarelas.

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