Por Rosangela Capozoli e Giselle Paulino | Para o Valor, de São Paulo
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social já tem o esboço de um documento que será entregue aos chefes de Estado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que será realizada de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. O "Nosso Rascunho Zero", como está sendo chamado, contempla oito compromissos, nove demandas e dez temas. "Queremos tornar público esse conteúdo. Encaminhá-lo ao governo e entregá-lo aos coordenadores dos diálogos", afirma Paulo Itacarambi, presidente do Ethos.
O rascunho do documento ganhou corpo durante o seminário preparatório da Conferência Ethos Internacional 2012 e intitulado "O que Muda com a Rio+20: Traga Sua Proposta", que ocorreu no dia 24, no Senac, em São Paulo.
Segundo Itacarambi, o documento já tem endereço certo: Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, e André Correa do Lago, negociador-chefe do Brasil na reunião. "A economia verde só acontecerá se as empresas entrarem de cabeça. É fundamental que as políticas públicas proporcionem uma arrancada", diz.
Antes da Rio + 20, o documento será submetido à conferência denominada "A Empresa e a Nova Economia – O que Muda com a Rio+20?", que acontece de 11 a 13 de junho. "De lá sairão as propostas para a Rio+20", explica.
As contribuições foram debatidas durante o encontro com representantes da indústria, do Ethos, Uniethos e do Instituto Akatu. Um dos destaques foi a elaboração dos temas que vão de agricultura a energia, passando pela biodiversidade, clima, água, produção e consumo sustentável, cidades e pobreza. Para cada um desses temas, haverá propostas concretas.
Uma das demandas prevê o compromisso dos países ricos com o financiamento do desenvolvimento sustentável. "Reivindicamos a criação de um fundo internacional que eleve a contribuição dos países desenvolvidos de 0,7% para 1,0% do PIB, acrescendo-se também recursos provenientes de direitos de uso dos espaços marítimo e aéreo e taxação de 0,05% sobre movimentações financeiras internacionais de caráter especulativo", diz o documento.
A expectativa do Ethos é que após a Rio+20 haja uma maior coordenação entre as políticas de governo. " É preciso que todas as políticas estejam direcionadas a um desenvolvimento sustentável e que o Programa de Aceleração do Crescimento, por exemplo, incorpore essas perspectivas da sustentabilidade", detalha a carta.
Representantes de empresas presentes no evento promovido pelo Ethos acreditam que o momento é de levantar os temas de interesse comum que devem entrar no documento que será entregue aos chefes de Estado.
"Para as empresas, é essencial que governos assumam algumas responsabilidades para não prejudicar aqueles que têm as melhores práticas", diz Ricardo Mastroti, superintendente de sustentabilidade do Grupo Camargo Corrêa. "Caso o governo não assuma compromissos, a competitividade das empresas que possuem atitudes mais sustentáveis fica comprometida. A empresa com uma posição mais coerente e mais cuidadosa sai perdendo."
Mastroti acredita que temas tratados neste documento como a questão das cidades sustentáveis, corrupção, consumo sustentável, entre outros, são assuntos complexos que precisam do envolvimento de vários setores da sociedade. "Não há um único ator que possa resolver as questões da sustentabilidade. É preciso que cada um tome conta da sua parte", diz.
Alguns acreditam ainda que amarrar compromissos e demandas é uma forma de fazer o movimento ganhar escala. "Muito tem se falado na importância da colaboração entre os diferentes setores para que avanços significativos sejam atingidos", diz Denise Nogueira, gerente de sustentabilidade do Itaú-Unibanco. "Sem dúvida criar políticas públicas é um fator importante neste momento."
O Nosso Rascunho Zero também complementa outros documentos que serão levados para a Rio+20, como o UNEP FI, do qual o Itaú participa. O documento é uma iniciativa da ONU para as instituições financeiras e pretende alertar sobre condições necessárias para que recursos sejam direcionados para uma economia verde da mesma forma que direciona para atividades da economia convencional.
"Construir um documento em conjunto é essencial para gerar consenso. O documento deve estar alinhado com objetivos de todas as partes envolvidas neste processo", diz André Leonel Leal, coordenador de sustentabilidade Braskem. "Queremos nos comprometer, mas é importante que os governos se movimentem. As demandas são para que nossos empenhos evoluam."
Para que a Braskem se comprometa a criar produtos mais sustentáveis, por exemplo, é importante que haja incentivos do governo. "Os menos sustentáveis devem receber mais carga tributária. Assim, poderemos ter produtos diferenciados. É crucial que o governo incentive produtos com base no ciclo de vida", diz. "O documento não se limita a compromissos e demandas, mas propõe temas importantes para chefes de Estado."
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