Por Rosangela Capozoli e Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Quando se trata de água, o desafio do Brasil não é lidar com a sua falta, mas com seu uso e com a distância onde essas fontes se encontram. Do total de reservas de água doce da Terra, 12% estão no Brasil, mas 70% desse volume estão na região Norte, onde vivem apenas 10% da população do país. Nesse cenário, a maior dificuldade é saber trabalhar com a gestão responsável e sustentável do líquido. Estudos projetam que em 2030 a demanda mundial de água aumentará 30%, gerando desafios de governança dos recursos hídricos em vários âmbitos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que apenas 0,008% da água disponível no Planeta é potável, alertando para a importância do uso racional e evitando desperdícios. Para se ter uma ideia, o brasileiro gasta, em média, 185 litros por dia, o equivalente ao consumo de 12 angolanos. "A maior preocupação nossa é o uso da água na cadeia produtiva, porque todos os produtos que comercializamos necessitam de água para serem fabricados", diz Beatriz Dias de Sá, coordenadora de sustentabilidade da rede de varejo Walmart.
O Walmart adota, desde 2009, o programa "Sustentabilidade de Ponta a Ponta", uma parceria entre a companhia e seus fornecedores focando o ciclo de vida para reduzir os impactos ambientais e melhorar os produtos. "Para estabelecer os padrões de sustentabilidade e avaliá-los em cada inovação desenvolvida pelos parceiros, a Walmart selou parceria com o Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea)", diz.
"Já desenvolvemos 23 produtos com alguns dos nossos fornecedores com redução acentuada de água no processo produtivo e a busca do menor impacto possível no meio ambiente", diz. Partindo da análise do ciclo de vida de seus produtos, ou seja, da matéria-prima ao descarte, as indústrias parceiras e a equipe de marcas próprias do Walmart são desafiadas a identificar e executar oportunidades de tornar seus produtos mais sustentáveis. "A gestão de água no Walmart é a mesma de qualquer rede varejista. O que fazemos é usar nosso poder de mobilização para que o processo hídrico se torne mais eficiente", informa.
Paulo Itacarambi, presidente do Instituto Ethos, avalia que o país e as empresas precisam adotar o reuso de água. "Quando os recursos naturais forem precificados vamos sentir o valor da economia verde. A água é uma das principais riquezas do mundo inteiro e o desperdício continua na agricultura, nos processos industriais e no uso doméstico. É um dos recursos que será mais crítico no futuro", alerta.
Segundo indicadores do Banco Mundial, cerca de 70% da população pobre do mundo vive em áreas rurais e têm na agricultura a principal fonte de renda e trabalho. Mas, pelo menos 60% dos ecossistemas têm sido degradados ou utilizados de forma não sustentável, incluindo recursos de água e pesca. Criar subsídios para promover a agricultura sustentável e favorecer a integração dos agricultores de pequeno porte é, portanto, parte importante de uma agenda pela sustentabilidade global.
Para Julia Tauszig, do setor de relações externas da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), é importante levar para a discussão na Rio+20 temas como o incentivo à preservação ambiental pelos pequenos agricultores. "As propriedades menores têm maior dificuldade de acesso à informação", diz. A executiva também chama a atenção para a retomada do debate sobre a biotecnologia e o fortalecimento da economia baseada em florestas plantadas. Há 6,8 milhões de hectares de florestas plantadas no país, dos quais 2,2 milhões de hectares são destinados à produção de celulose e papel
Outras propostas para a sustentabilidade na agricultura são a ampliação de investimentos em infraestrutura, ciência e tecnologia, o aproveitamento econômico e sustentável da biodiversidade e o zoneamento ecológico, com a regularização fundiária e ambiental de propriedades, garantindo os direitos dos povos indígenas.