O estudorealizado pelo WWF-Brasil em parceria com os governos do estado e da cidade de São Paulo foi apresentado em um dos auditórios da Arena da Barra, no primeiro dia de programação da Rio+20. As informações serão usadas paradesenvolver ações de mobilização e de mitigação que ajudem a reduzir os impactos do consumo sobre o meio ambiente
Por Geralda Magela
Do Rio de Janeiro
A pesquisa revelou que a Pegada Ecológica média do estado de São Paulo é de 3,52 hectares globais por pessoa e de sua capital, a cidade de São Paulo, é de 4,38. Isso significa que, se todas as pessoas do planeta consumissem de forma semelhante aos paulistas, seriam necessários quase dois planetas para sustentar esse estilo de vida. Se vivessem como os paulistanos, seriam necessáriosquase 2,5 planetas.
Pegada Ecológica – A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Expressa em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta.
O cálculo já é feito por país ou pessoa e agora começa a ser realizado também para as cidades. No ano passado, o WWF-Brasil realizou – em parceria com o governo municipal e parceiros locais – o estudo da Pegada Ecológica de Campo Grande (MS), primeira cidade brasileira ter este cálculo.
Em São Paulo, o trabalho contou com o apoio da Ecossistemas e da Global Footprint Network (GFN), criadora da metodologia da Pegada Ecológica. Também teve o apoio daFundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) com o fornecimento dos dados.
Megacidade – Maior cidade da América Latina, os números de São Paulo impressionam. De acordo com o IBGE, a população do município é de 10,8 milhões de habitantes. Se for considerada a região metropolitana com os 38 municípios que circundam a capital- a população da cidade chega a aproximadamente 19 milhões de habitantes, quase a população do Chile.
O Estado de São Paulo, por sua vez, tem uma população de 42 milhões de habitantes. Maior mercado consumidor brasileiro, o Estado é responsável por 47% da produção de veículos automotores do país e concentra33% do PIB nacional.
Classes de rendimento familiar-Devido a essas características,a pesquisa para São Pauloapresenta uma novidade em relação ao que foi realizado em Campo Grande. Além da média por habitante, a Pegada Ecológica também foi analisada por faixasde rendimento familiar, divididas em sete faixas diferentes, de um a 40 salários mínimos. Com isso foi possível retratar melhor o impacto do consumo de cada uma dessas classes na composição da Pegada Ecológica do município e do estado.
O estudo apontou que, para a mesma faixa derendimento familiar, a Pegada Ecológica do paulista é maior do que a do paulistano. Para famílias paulistas com rendimento de até dois salários mínimos, ela foi de 2,46 (gha), enquanto namais alta (acima de 25 salários mínimos), ela chegou a 11,5 hectares globais por pessoa.No estado de São Paulo, a Pegada Ecológica apresentou uma variação entre 1,8 hectares globais (gha) por pessoa, na faixa de rendimento familiar de até dois salários mínimos e8 hectares globais, acima de 25 salários mínimos.
O estudo foi apresentado pelo coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, Michael Becker. Ao apresentar o estudo, ele lembrou que o cálculo é um passo importantepois ele permite fazer muitas leituras sobre a realidade das cidades. Também levanta muitas questõescomo, por exemplo, o desafio de garantirque as populações das faixas de menor renda também possam usufruir de uma melhor qualidade de vida, sem que isso resulte em um esgotamento ainda maior dos recursos naturais. “O conceito da pegada ecológica traz elementos para essa discussão”, disse.
Becker lembrou que é importante que a população de São Paulo faça a sua parte.Mas os governos e asempresas também precisam assumir o seu papel. “Gostaria de ver a Pegada Ecológica atuando como um indicador adotado pelas duas esferas do governo, Estado e Município”, disse Becker.
Classes de consumo – O estudo também analisou a pegada por classes de consumo. O item que mais pesou nessa composição foi o de alimentos, responsável por quase metade da Pegada Ecológica dopaulistano e por 38% da pegada do paulista .Os recursos daagricultura e pastagens são os que mais sofrem pressão pela classe de consumo alimentos, mas são as pastagens – pelo perfil da dieta brasileira, bastante rica em carnes, em especial carne bovina – que elevam a Pegada Ecológica da alimentação.Bens de consumo representam 23% da Pegada Ecológica do paulista e 21% da do paulistano. O item transporte contribui com 14% (paulistas) e com 10% (paulistanos). Essa classe demanda principalmente, em recursos ecológicos, áreas para absorção das emissões de gases de efeito estufa provindas da queima de combustíveis.
A classe de consumo serviços corresponde a 6% da Pegada Ecológica do paulista médio, a 5% da Pegada do paulistano médio e é, respectivamente, 46% e 58% maior que a pegada ecológica em serviços do brasileiro médio. Os serviços consumidos pela população distribuem sua pressão principalmente pelos recursos de Agricultura, Pastagens, Florestas e Absorção de CO2.
O secretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo, Bruno Covas, disse que os resultados da pesquisa mostram uma Pegada Ecológica muito alta e aponta a necessidade de mudança. “Aoconsumir mais recursos do que a natureza pode nos prover, estamos na verdade nos descapitalizando “, ressaltou. Segundo ele, os dados apresentados com o estudo da Pegada Ecológica será muito importante para o estado fazer um trabalho de educação ambiental e desenvolver ações de mitigação para reduzir esses impactos
“Os dados precisam agora ser digeridos e ainda será necessário um trabalho de mobilização para adotar ações de mitigação” destacou o Secretário de Meio Ambienteda cidade de São Paulo, Carlos Fortner. Para ele, o estudo será uma ferramenta importante para o governo municipal trabalhar ações de educação ambiental e adotar ações de mitigação.
A secretária-geral do WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito, agradeceu aos dois secretários pela presença e também pela disposição emrealizar esse trabalho em parceria com o WWF-Brasil. Segundo ela, o estudo da Pegada Ecológica segue uma linha que faz parte da gênesis da instituição que é a de se pautar pela ciência. “ Atuamos mais por meio da colaboração, embora em certos momentos tenhamos que partir para a denúncia, como é o caso do Código Florestal” lembrou.
De acordo com ela, o estudo da Pegada Ecológica, oferece informações que possibilitam aos gestores fazerem um planejamento de longo prazo. Mas para isso, é preciso parar, olhar e, a partir do conhecimento, pensar o futuro de modo mais abrangente. “ Queremos que isso seja feito de forma sistemática”, disse a secretária.
Maria Cecília ressaltou que é preciso questionar a maneira como estamos usando nossos recursos naturais. “Será que vamos parar de consumir tanta carne quanto mostra o mapa da Pegada Ecológica? questionou. “A Pegada Ecológicanos ajuda a refletir sobre esses hábitos. É preciso lembrar que, ao esgotar os recursos naturais do nosso planeta, é a nossa vida que está correndo risco. Porque o planeta vai continuar aqui“, finalizou.
Biocapacidade- A pesquisa também calculou a biocapacidade – quantidade de recursos naturais disponíveis no estado. Assim como a Pegada Ecológica é dada em hectares globais por pessoa (gha/cap),também é utilizada a mesma unidade para a biocapacidade de uma região, dividindo sua biocapacidade total por sua população. Regiões com alta densidade populacional, como a cidade e o estado de São Paulo, apresentarão uma baixa biocapacidade.
De acordo com o estudo, quase metade da biocapacidade paulista (49%) provém de suas áreas agrícolas. A agricultura paulista tem uma produtividade 35% maior que as médias mundiais. As florestas paulistas são ainda mais produtivas, em média 150% a mais que a média das florestas globais.
Embora pequena quando retratada em hectares globais per capita,a cidade de São Paulo possui uma biocapacidade total de mais de 450 mil hectares globais. A maior parte estáem área urbanizada que fornece abrigo aos seus habitantes, mas também possui uma considerável biocapacidade florestal, proveniente de seus parques e áreas de preservação.A publicação com os resultados do estudo está disponível em pdf, no link ao lado.
Sobre a Pegada Ecológica
A Pegada Ecológica de um país, cidade ou pessoa corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e mar necessárias para produzir e sustentar determinado estilo de vida. É uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza”, em média, para sustentar suas formas de alimentação, moradia, locomoção, lazer, consumo entre outros.
Expressa em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Um hectare global é um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em u ano. Já a biocapacidade representa a capacidade dos ecossistemas em produzir recursos naturais renováveis para o consumo humano e absorver os resíduos gerados pelas atividades da população.
A Pegada Ecológica não é uma medida exata e sim uma estimativa. Para calcular as pegadas é preciso estudar os vários tipos de territórios produtivos (agrícola, pastagens, oceanos, florestas, áreas construídas) e as diversas formas de consumo (alimentação, habitação, energia, bens e serviços, transporte e outros). As tecnologias usadas, os tamanhos das populações e outros dados, também entraram na conta.
Cada tipo de consumo é convertido, por meio de tabelas específicas, em uma área medida em hectares. Além disso, é preciso incluir as áreas usadas para receber os detritos e resíduos gerados e reservar uma quantidade de terra e água para a própria natureza, ou seja, para os animais, as plantas e os ecossistemas onde vivem, garantindo a manutenção da biodiversidade.
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