Fonte: UOL Notícias
Maria Denise Galvani, Do UOL, no Rio
O fórum oficial de diálogo com a sociedade civil na Rio+20 terminou sem uma das três recomendações sobre cidades sustentáveis que deveria ser encaminhada a chefes de Estado na reunião de cúpula da Rio+20.
Os participantes da mesa não conseguiram concordar com nenhuma das dez frases sugeridas por internautas para compor uma lista de conselhos para os chefes de Estado que participarão da conferência. A Rio+20 é a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que vai até o dia 22 de junho, no Rio.
Uma das recomendações que já havia sido fechada em votação pela Internet precisou ser revisada depois da intervenção da catadora de material reciclável paulistana Maria Mônica da Silva, que protestou contra a escolha da frase “Promover o uso de resíduos como fonte de energia renovável no meio urbano.”
“Muitas pessoas vivem da catação e não teriam trabalho se material reciclável for tratado como resíduo. Não deixem que essa frase chegue aos políticos”, disse Silva depois que foi aberta a rodada de perguntas. Dados da Cáritas e do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis apontam que 1 milhão de brasileiros vivem da catação do lixo.
Ficou decidido então que a primeira das recomendações, que já havia sido escolhida por internautas, será levada aos chefes do Estado com a reserva de que se considere o impacto social sobre os catadores de lixo.
A segunda recomendação, escolhida por votação das pessoas presentes no debate, foi “planejar com antecedência para a sustentabilidade e qualidade de vida nas cidades”. Esta também foi uma das frases em que Mônica da Silva votou.
A terceira recomendação, que deveria ser escolhida entre uma lista de dez opções pelos debatedores, ficou em aberto. Foi destacada uma pessoa do grupo, a americana Janice Perlman, presidente do projeto Megacidades, para tentar formular uma recomendação que condense as principais ideias expostas no debate.
Diálogo vazio
Oded Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos e coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, disse que os debates com a sociedade civil que vêm ocorrendo desde a sexta-feira (15) correm o risco de não dar em nada. “Todas as recomendações até agora são declarações de intenções. Os chefes de Estado vão assinar, será legal, mas não vai se criar obrigações de fato”, disse.
O ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner também participou da mesa e disse que se deve ser otimista em relação ao futuro. “Tendência não é destino: no momento em que a sociedade detecta uma tendência que não é desejável, é a hora das mudanças. Mudamos uma vez em 1992 e precisamos mudar de novo”, disse ele.
“A sustentabilidade não é tão complexa quanto nos querem fazer acreditar. Para uma cidade mais sustentável, use menos o carro, separe o lixo e more mais perto do trabalho ou traga o trabalho para perto de casa”, afirmou Lerner.
Na série de encontros Diálogos Sustentáveis com a Sociedade Civil, especialistas convidados debatem dez temas da Conferência, de onde tiram recomendações para ser encaminhadas a chefes de Estado.
Para Grajew, deveria se pedir a chefes de Estado que eles fixem objetivos a longo prazo e metas intermediárias para cada uma das recomendações que saírem da série de diálogos com a Sociedade Civil. “Apenas dessa forma a sociedade pode monitorar o comprometimento com as recomendações.”