Fonte: BBC Brasil
Enquanto governos nacionais enfrentam dificuldades para fechar acordos e declarações de princípios que guiem suas ações de sustentabilidade, autoridades locais – lidando com questões do dia a dia – têm a possibilidade de tomar atitudes com impacto direto no modo como as pessoas se organizam e se relacionam com o ambiente.
Por conta disso, especialistas e prefeitos concordam que qualquer projeto de sustentabilidade no longo prazo tem mais chances de ser executado se tiver a cidade como ponto central.
"O jogo da sustentabilidade vai se decidir nas cidades. Hoje cerca de metade da população do mundo é urbana e esse nível vai subir para cerca de 80% até 2050", diz o presidente emérito do Instituto Ethos e liderança da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew.
Durante a Rio+20, o C-40 (grupo formado por prefeitos de 40 megacidades do mundo) realizou um evento paralelo para promover o que as grandes cidades vêm fazendo para combater mudanças climáticas e para pedir que os municípios tenham mais apoio – ou pelo menos autonomia – para realizar ações ligadas à sustentabilidade.
"Enquanto os governos nacionais estão caminhando lentamente dentro das cidades tivemos grandes avanços em medidas para reduzir emissões e combater mudanças climáticas", disse o prefeito de Nova York e presidente do Grupo C-40, Michael Bloomberg.
Mas embora os municípios tenham trazido ao Rio de Janeiro planos aparentemente mais objetivos do que aqueles sendo discutidos pelos países (os prefeitos do C-40 se comprometeram em reduzir as emissões de carbono de suas cidades em até 1 bilhão de toneladas até 2030) analistas dizem que, na prática, pouca coisa de fato aconteceu até agora.
"São ótimas ideias, que sem dúvida podem ser implementadas por boas lideranças locais. Só que até agora temos discursos inspiradores mas não mudanças efetivas", disse o responsável pelo diretoria da "oportunidades para as metrópoles" da Fundação Ford, George McCarthy.
Dificuldades
Mas autoridades locais dizem que ainda têm dificuldades para mudar as coisas nas suas cidades sem um apoio mais claro do governo central.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, reclama que no Brasil existe uma concentração muito grande poder e sobretudo de recursos financeiros nas mãos do governo federal. "É nas cidades que as pessoas vivem e precisamos então que o governo central coloque dinheiro nas mãos dos prefeitos para que possamos fazer alguma coisa."
O prefeito Bloomberg não so concordou como foi um pouco além: "Nós prefeitos, na verdade, ficamos numa posição um pouco difícil porque queremos que o governo central nos dê recursos mas não queremos que interfiram nas nossas cidades. Pode ser uma ideia um pouco estranha, mas na prática é assim’, disse.
Tanto Bloomberg como Paes também fizeram questão de dizer mais de uma vez no evento do C-40 que dirigir uma cidade tem a ver com administração e não com política, ao contrario do que acontece em níveis mais altos de governo.
Para ilustrar a idéia, Bloomberg citou um prefeito de Nova York nos anos 30, Fiorello La Guardia, que disse que "não há um jeito Democrata ou Republicano de recolher lixo, há apenas recolher lixo".
O prefeito carioca Eduardo Paes completou dizendo que pode haver discussões mais aprofundadas para definir os rumos da cidade mas que na prática "não há ideologias na hora de tomar as decisões de todos os dias". "Nossa questão é fazer com que as coisas na cidade continuem funcionando."
No entanto, Oded Grajew questiona a avaliação de que a política municipal seja tão diferente nesse ponto de vista daquela feita em escala nacional. "No fim das contas tudo nas eleições tem muito a ver com financiamentos de campanha. Seja em nível local ou nacional o os políticos se esforçam basicamente para ter certeza de que vão ter meios de continuar no poder", avalia.
Veja texto original de Paulo Cabral, enviado especial da BBC Brasil ao Rio de Janeiro