“Nova eleição, velhas questões” – Folha de S.Paulo

 

Pesquisa Datafolha revela os 11 principais problemas da cidade, segundo os eleitores; confira as soluções apontadas por especialistas

Há 23 anos o transporte público e a violência são as principais queixas dos eleitores paulistanos. Seis prefeitos depois, de diferentes partidos, ambas continuam sem solução e atualmente estão, ao lado do sistema de saúde, no topo da lista de problemas. A qualidade do atendimento em postos e hospitais públicos é hoje o maior motivo de insatisfação na capital. A área é apontada como o principal problema da rede de serviços municipais por 26% dos eleitores, segundo pesquisa Datafolha.

As entrevistas ocorreram nos dias 13 e 14 de junho com 1.077 pessoas. Foram ouvidos homens e mulheres de todas as regiões da cidade, com mais de 16 anos e que votam aqui.

"As respostas são espontâneas", explica o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino. "Isso mostra como a percepção de piora na saúde aumentou muito de 2008 para cá."

"A avaliação é significativa porque ela é constante", diz Paulino. "E, no caso da segurança, desde 2007 ela fica nesse mesmo patamar. O medo acaba sendo uma marca da cidade." O resultado, acrescenta, não costuma sofrer influência de ondas de crime, como a recente série de arrastões a restaurantes e condomínios.

Se por um lado as três áreas concentram a preocupação de mais da metade do eleitorado, questões tradicionais também aparecem, como educação, enchente e trânsito.

Na mesma pesquisa, o Datafolha perguntou aos entrevistados em qual área Gilberto Kassab (PSD) está se saindo melhor. Metade não soube apontar nenhuma. "É uma evidência de que a população está reprovando a gestão atual", afirma Paulino.

Na última quinta-feira, o prefeito fez o penúltimo balanço do seu programa de metas, instituído em 2009 para melhorar a infraestrutura da cidade e a vida dos moradores.

Com mais seis meses de mandato, 84 dos 223 objetivos foram concluídos, 138 estão em andamento e um deles, a transferência de verbas para o Rodoanel, não será cumprido. "Existe bastante entusiasmo pelos resultados apresentados", comemorou Kassab na ocasião. A cinco dias do início da campanha, a sãopaulo mostra quais são os 11 principais problemas da cidade e apresenta soluções, apontadas por 40 especialistas entrevistados.

Falta de investimento e de vontade política são os motivos da permanência das mesmas reclamações por tantos anos. Sem essas duas iniciativas, nada mudará. "A trajetória não é fácil: precisa de recursos e de estrutura", diz Paulo Puccini, especialista em saúde pública.

Nas ruas, faltam recursos para destravar o nó da mobilidade. "Deixamos o problema acontecer e ficamos esperando uma solução mágica", afirma o professor Jaime Waisman, da Politécnica da USP.

A origem das falhas é antiga e revela a falta de planejamento. "Como crescemos demais e a infraestrutura não acompanhou, temos deficiência de segurança pública assim como de mobilidade", avalia o sociólogo Marcelo Batista Nery, do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

O que fazer para mudar? Atitude política, diz o arquiteto Jaime Lerner. "Quando você melhora a qualidade de vida da população, o custo político vale a pena."
(COLABOROU REGIANE TEIXEIRA)

Principal problema da cidade

Resposta espontânea e única, em %

Resposta estimulada e única, em %

1) EXTREMO NORTE
Ali, saúde, com 34%, é disparado o principal problema para os eleitores

2) NORTE
Com 9%, são os que mais citam educação como o principal problema

3) OESTE
Tem o maior percentual, 14%, dos que apontam o trânsito como o principal problema

4) LESTE
Tem o maior índice dos que consideram transporte coletivo o principal problema: 20%

5) EXTREMO LESTE
Reúne a segunda maior taxa dos que apontam saúde como o principal problema: 31%

6) SUL
Tem o maior índice dos que citam limpeza como o principal problema: 13%

7) EXTREMO SUL
Seus percentuais têm pequena inversão: transporte coletivo soma 17%, e segurança, 15%

SAÚDE 26%

Um em cada cinco paulistanos é hipertenso, 30% têm algum transtorno mental e a cidade ainda contabiliza grande número de vítimas da violência e do trânsito. Diante desse perfil variado, a capital, com mais de 11 milhões de habitantes, tem má distribuição de leitos, demora para realizar exames básicos e chega a ter 10% de suas internações preenchidas por pessoas de outros municípios.

"O atendimento é de inclusão universal, mas o investimento é muito modesto para prover de vacina a transplante. Tem de destinar mais recursos", avalia Oswaldo Tanaka, da Faculdade de Saúde Pública da USP.

O Programa Saúde da Família e as unidades básicas prestam o atendimento primário: monitoramentos, visitas domiciliares e consultas gerais. Casos considerados de menor gravidade são encaminhados às unidades da AMA (Assistência Médica Ambulatorial), criadas para "desafogar" os prontos-socorros e os hospitais.

Falta articular o sistema, segundo o sanitarista Mário Scheffer, do Cebes (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde). "Os serviços sequer se comunicam. Às vezes, uma AMA resolve, mas deixa de comunicar à equipe da Saúde da Família", afirma.

Scheffer calcula que 80% das queixas na cidade poderiam ser resolvidas na atenção primária. "Mas, como o sistema é desorganizado, as pessoas lotam o pronto-socorro, que tem fama de eficiência", afirma. Para ele, o ideal seria fixar padrões de tempo máximo de espera. "Poderiam aplicar mecanismos para cumprir isso, com premiações ou com sanções."

"Incorporaram bastante gente, mas faltou investir na média complexidade, como serviços de dermatologia e oftalmologia", afirma Tanaka. Três hospitais prometidos na campanha de 2008 ainda não foram entregues.

"É necessário municipalizar alguns hospitais estaduais", diz o sanitarista Paulo Puccini, que fez um levantamento sobre a carência de leitos públicos na cidade e apontou que a concentração deles nas regiões central e oeste chegava a ser maior do que o dobro do registrado nas outras áreas.

"Com duas gestões diferentes acaba havendo atropelo na prestação dos mesmos serviços", diz Puccini.

"Tem que radicalizar a terceirização pelas organizações sociais", propõe Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Essas entidades filantrópicas, criadas por instituições como Sírio-Libanês e Santa Casa, gerenciam 237 das 957 unidades municipais. As parcerias flexibilizaram a contratação de médicos terceirizados para o setor público, mas a sua implantação não é consenso.

"Algumas dessas organizações são tradicionais, mas outras são obscuras", afirma Scheffer. "Elas não se integram umas com as outras e criam uma batalha salarial pelos mesmos servidores."

fila de espera

Demora para realizar exames pode passar de seis meses

6,8 meses
Para uma ressonância magnética

5,8 meses
Para um ultrassom de mama

3,9 meses
Para um ecocardiograma Doppler

Fonte: Levantamento do Tribunal de Contas do Município (jun. 2010)

O QUE FAZER: Integrar a rede

raio-x

Como funciona a rede municipal em São Paulo

ESTRUTURA
440 Unidades Básicas de Saúde oferecem atendimento primário à população como consultas médicas, vacinas e coleta de exames

119 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) atendem casos de menor gravidade; geralmente estão ligadas a uma UBS

16 AMAs Especialidades recebem pacientes mediante encaminhamento para atendimento especializado

18 hospitais atendem casos de maior complexidade

12 prontos-socorros fora dos hospitais prestam atendimento 24 horas por dia

121 unidades voltadas à saúde mental

ORÇAMENTO DE 2012

R$ 6,68 bilhões

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
São entidades filantrópicas que mantêm convênio com o município

20% do Orçamento da Saúde é o quanto elas recebem

237 é o total de unidades de saúde que gerenciam

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde

‘Teremos três hospitais até dezembro’

Secretário reconhece que gestão em saúde precisa ser integrada

Januário Montone é secretário municipal da Saúde desde 2007.

Por que saúde aparece como o principal problema da cidade?
É um desafio entender. Sempre tem diferença de avaliações entre quem é usuário do SUS e quem não é. Normalmente, a pior avaliação é de quem não usa, de quem viu no noticiário.

Como o senhor avalia a saúde hoje?
Quando começamos, o plano era aumentar o acesso, porque havia poucas portas de entrada ao SUS, e reduzir a desigualdade -havia regiões que não tinham nada. A rede de AMAs foi uma inovação desta gestão. Só elas produziram 10,2 milhões de consultas médicas. A gestão em saúde não é integrada. As esferas do município, do Estado e a federal não se comunicam. É um problema que precisamos resolver.

Três hospitais foram prometidos durante a campanha eleitoral.
Eles vão sair. A gestão termina no dia 31 de dezembro. O compromisso continua sendo de três hospitais, um na zona leste, um na zona norte e um na zona sul. Localizamos três imóveis que já haviam sido hospitais, clínicas ou que tinham estrutura para isso. Estamos desapropriando e vamos reformá-los. É muito mais rápido do que iniciar a obra.

Como impedir que as organizações sociais definam o que é a prioridade nos locais que gerenciam?
Elas estão gerenciando o que nós definimos. Não existe a possibilidade de a OS definir "aqui eu não atendo mais isso". Se ela não atende, eu mudo. Não é um contrato com direitos assegurados.

Em 2010, o Tribunal de Contas apontou demoras para realizar exames.
Eles pegaram dados antigos. Quando iniciamos a informatização pelo cartão SUS, vimos que havia mais ou menos três vezes mais cartões que a população usuária. Havia casos de pessoas que tinham o exame marcado em uma unidade, mas fizeram em outra.

SEGURANÇA 16%

A cada hora, ladrões furtam ou roubam 11 veículos. Diariamente, a polícia contabiliza 22 flagrantes de tráfico de droga. Por semana, há quatro assassinatos. Em cinco meses, outras 47 vidas se foram em assaltos.

Divulgados na semana passada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública, os dados de janeiro a maio deste ano compõem o retrato da criminalidade em São Paulo, onde a segurança -ou melhor, a falta dela- é apontada pelos eleitores como o segundo principal problema da cidade.

Por lei, a segurança pública é dever do governo estadual, a quem estão subordinadas as polícias Civil e Militar. No entanto, a administração municipal também pode agir.

"A prefeitura tem um papel importantíssimo", ressalta o coronel da reserva da PM José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública. "Melhorar a qualidade urbana da periferia é um fator decisivo", diz o policial. "A revolução na segurança em Nova York começou quando se iniciou a melhoria da qualidade de ordem pública."

A ordem citada tanto por ele como por outros especialistas consiste em oferecer boa infraestrutura urbana e conscientizar a população, sobretudo crianças e adolescentes.

"O cuidado com o espaço público é fundamental", afirma Luciana Guimarães, diretora do Instituto Sou da Paz. "Não deveria ter entulho em terrenos, grama alta e outras coisas que são pouco convidativas para pessoas e bastante para o crime."

Organizar significa também manter a iluminação pública em dia, garantir calçadas livres para a circulação de pedestres e fiscalizar o funcionamento do comércio, como bares e desmanches. Todas essas são ações de responsabilidade da prefeitura. Defende-se, ainda, o uso da Guarda Civil Metropolitana.

"A guarda está subutilizada", critica o cientista político Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança. "Ela pode fazer segurança no entorno de postos de saúde, escolas, parques. [Os guardas] não são polícia, mas todo cidadão pode prender em flagrante." "Ela atua onde tem problema, não onde as pessoas acham que é bom ter", rebate o secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega.

Outra medida de prevenção, segundo o coronel Vicente da Silva, são os programas educacionais direcionados para jovens. "É necessário fazer atividades fora do horário escolar, levar lazer para a periferia."

"Há áreas lá", acrescenta, "que são muito degradadas e é onde acontecem os homicídios". Até maio, houve 89 assassinatos nas regiões de Parelheiros, Jardim Herculano, Perus, Parque Santo Antônio e Capão Redondo.

O QUE FAZER: Cuidar do espaço público

‘Iluminação vai melhorar’

Guarda Municipal teve reajuste de 92%, diz secretário

Edsom Ortega é secretário municipal de Segurança Urbana.

O que a prefeitura pode fazer para melhorar a segurança na cidade?
A nossa guarda é a única que mantém a campanha de recolhimento de armas. E há o combate à pirataria. A dona Maria que vende as coisinhas dela e o garoto que vende CD estão sendo usados na maior parte das vezes por criminosos. Temos de ser implacáveis. E o que vamos fazer com os coitadinhos que são usados? Vamos orientá-los a se formalizar.

A falta de iluminação preocupa?
A Secretaria Municipal de Serviços [responsável pelo Ilume] ficou travada durante anos numa briga na Justiça para contratar a manutenção, a expansão e a modernização. Em outubro passado, foram vencidas as batalhas jurídicas. Está em andamento um volume grande de expansão.

Qual o efetivo da Guarda Civil Metropolitana?
Perto de 6.500. A prefeitura está fazendo concurso para contratar mais 600. Tínhamos a meta de ter mais 2.000 em 2008. Mas tivemos de decidir naquele momento se consumiríamos o orçamento para contratá-los ou adiar isso e melhorar os salários. Decidimos adiar e melhorar a gestão. Na administração Serra/Kassab a guarda teve um aumento em média de 92%.

TRANSPORTE COLETIVO 15%

São Paulo vive a síndrome da tragédia, no diagnóstico do arquiteto Jaime Lerner, 74. "Vocês gostam de dizer o quanto a cidade é impossível de resolver. Não traz nenhuma vantagem, mas fazem isso com orgulho."

O ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná critica a dificuldade dos paulistanos em pôr fim às deficiências do transporte coletivo, marcado por superlotação, desconforto e impontualidade.

"Os ônibus são mal-operados", disse. "Tem de garantir aos coletivos a mesma qualidade do metrô: embarque rápido e tempo de espera de 1 minuto. Sem isso, a cidade não vai mudar."

Foi no sistema de transporte adotado em Curitiba nos anos 1970, na gestão Lerner, que Enrique Peñalosa buscou inspiração para Bogotá. "A maneira mais eficiente de usar o espaço público são os ônibus. É óbvio", defende o prefeito da cidade colombiana entre 1998 e 2001. E tudo isso por uma questão de física: ônibus transportam mais pessoas e ocupam menos espaço.

O exemplo de rede de ônibus repetido por especialistas é o formado por faixas exclusivas instaladas na parte central das vias, com espaço para a ultrapassagem entre os coletivos.

A gestão Gilberto Kassab (PSD) promete inaugurar, até dezembro, 130 km de faixas para ônibus ao lado direito das vias. Os novos e tradicionais corredores estão em fase de licitação e devem ficar para o próximo governo.

"O pior lugar é na faixa da direita, porque as entradas e saídas de imóveis são ali. Táxi para ali, caminhão faz carga e descarga", critica o presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Aílton Brasiliense.

E nessa discussão toda como fica o metrô? "Fazer uma rede completa hoje é impossível. Londres e Paris fizeram há mais de cem anos, quando era barato trabalhar no subsolo", avisa Lerner. "Não adianta esperar que tudo se resolva com ele. Isso não acontecerá. Não há recursos para isso, nem tempo."

O QUE FAZER: Faixa de ônibus central

coletivo ou individual?

FROTA DE ÔNIBUS

14,9 mil (média de 8 milhões de passageiros por dia)

126 km de corredores exclusivos

FROTA DE CARROS

5,2 milhões

18 mil km de vias

REDE DE METRÔ

74 km

Fontes: Detran-SP e SPTrans

ENCHENTES 6%

A rede de drenagem paulistana funciona à moda antiga: coleta-se a água da chuva para conduzi-la o quanto antes para os bueiros. E, agindo assim, acumulamos em média 485 pontos de alagamento em períodos mais chuvosos, de novembro a março, além do transbordamento de rios e córregos.

"Chegamos ao limite desse sistema. Não dá mais", critica o professor Paulo Pellegrino, do LABVerde da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

"A única saída que temos é fazer com que a água seja retida nos pontos onde ela cai", sugere ele. Para tanto, bastaria tornar as calçadas permeáveis, aumentando a área com vegetação para absorver a água.

Construir estruturas "verdes", segundo Pellegrino, custaria praticamente o mesmo em comparação ao valor gasto com as convencionais. "Mas tudo que é novo enfrenta resistência", ressalta. "Se chegar a um órgão público para aprovar uma calçada diferente, você esbarrará nas normas dos burocratas."

A estratégia de expandir áreas permeáveis é endossada pelo gerente do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura, Hassan Barakat. "Às vezes, há prédios com jardins lindos, mas com concreto por baixo", afirma.

"A longo prazo, seria interessante desocupar as várzeas [terrenos à margem dos rios]", acrescenta João Jorge da Costa, da Divisão de Engenharia Sanitária e Recursos Hídricos do Instituto de Engenharia.

"Mas isso envolve um montante de recursos que a cidade não tem. São problemas que acumulamos há 50 anos. Não teremos soluções rápidas", avalia ele.

O QUE FAZER: Mais áreas com verde

EDUCAÇÃO 6%

A gestão Kassab esperava zerar a fila na creche. Mas, até abril, os pais de mais de 120 mil crianças ainda aguardavam uma vaga na cidade.

"A prefeitura diz que é difícil encontrar prédios e profissionais", diz o defensor público Flávio Frasseto, que atua na zona sul. "Existem espaços que estão em dívida com a prefeitura e que poderiam se transformar em equipamentos educacionais", propõe Rubens Barbosa de Camargo, especialista em gestão de políticas educacionais. "Com salários melhores, é possível atrair mais profissionais", afirma.

Não dá para resolver a curto prazo, diz Camargo. "Precisa ter cooperação com Estado e União para ampliar as vagas." A solução de curto prazo é a que já existe: os convênios com creches particulares. "Mas é emergencial", ressalva. "Muitas vezes elas têm problemas como falta de espaço e professores com baixa qualificação."

No ensino fundamental, a crítica é a qualidade. Uma das soluções de Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, é abrir mais museus e estações de ciência para complementar a formação. "Tem que diversificar o conjunto de atividades curriculares."

O QUE FAZER: Salários melhores

crianças em fila

Um terço aguarda vaga na creche

AS UNIDADES

368 creches públicas

1.125 creches conveniadas com a prefeitura

A MATRÍCULA

Nas creches: 203.509

A FILA

123.560 é o número de crianças que aguardam uma vaga na creche

Fonte: Secretaria Municipal de Educação, mar.2012

TRÂNSITO 6%

Engarrafamento não é fenômeno novo, tampouco exclusivo de São Paulo. Porém, por aqui eles pioram cada vez mais. De 2004 para cá, houve 17 dos 20 recordes de lentidão.

O último, em 1º de junho, alcançou 295 km, o suficiente para formar uma fila de veículos superior à distância entre a capital paulista e Ubatuba, no litoral norte.

"A única coisa que reduz congestionamento em uma cidade desse porte é um bom sistema de transporte público", defende o professor Jaime Waisman, da Escola Politécnica da USP. "Precisa investir a curto, médio e longo prazos." Dar espaço aos ônibus implica reduzir o de outros veículos. "É preciso criar uma política de restrição aos carros", afirma o arquiteto Jan Gehl, responsável pelo planejamento urbano de Copenhague.

"Nenhuma cidade do mundo resolveu o problema do trânsito construindo mais vias", diz ele. "E não basta ter rodízio, é preciso ter pedágio e incentivar o uso da bicicleta."

A adoção de cobrança para o acesso em parte das vias foi defendida, no mês passado, pelo presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e secretário de Transportes, Marcelo Branco -procurado, ele não concedeu entrevista à sãopaulo.

A medida, entretanto, não deve ser tomada sem antes serem solucionados outros gargalos, alerta Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da CET. "Fazer o pedágio se torna até uma injustiça porque não temos transporte público."

O QUE FAZER: Restringir o carro

recorde de filas

Os dez piores engarrafamentos paulistanos e suas causas

295 KM – Às 19h de 1º de junho de 2012 (chuva e acidentes)

293 KM – Às 19h de 10 de junho de 2009 (véspera de feriado)

266 KM – Às 19h30 de 9 de maio de 2008 (tombamento de caminhão)

249 KM – Às 10h de 23 de maio de 2012 (greve de metroviários)

242 KM – Às 19h de 28 de junho de 1996 (véspera de feriado)

242 KM – Às 18h de 11 de novembro de 2011 (véspera de feriado)

239 KM – Às 19h de 2 de junho de 1999 (manifestação de motoristas)

233 KM – Às 19h30 de 9 de abril de 2009 (tombamento de caminhão)

Fonte: CET

LIXO 5%

Lixo espalhado na rua de casa é realidade para quase 4% dos paulistanos, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

"As pessoas descartam fora de hora, os catadores rasgam os sacos em busca de material reciclável e deixam na rua o que não querem", diz Márcio Matheus, presidente da Amlurb, que gerencia a limpeza urbana na cidade de São Paulo.

Na cidade, só 1,2% do lixo coletado é recolhido para reciclagem. "Separar o lixo em casa dá trabalho. Mas a população só fará isso em grande escala quando souber que a prefeitura tem uma gestão efetiva do lixo", diz Ana Lúcia Brasil, do Fórum Lixo e Cidadania. Neste ano, a prefeitura começou a instalar 1.500 contêineres para o recebimento de material reciclado em pontos da capital.

Segundo Elisabeth Grimberg, coordenadora de resíduos do Instituto Pólis, falta campanha educativa. "Não adianta colocar o equipamento na rua sem explicar para que serve."

O QUE FAZER: Conscientizar

resíduos

A produção de lixo na cidade

18 mil toneladas é quanto São Paulo produz de lixo diariamente

1,2% é quanto é recolhido para reciclagem os campeões

Distritos com mais lixo nas ruas

Parque do Carmo: 20,7%
Raposo Tavares: 17,2%
Bom Retiro: 14,9%
Sé: 10,9%

Fontes: Ecourbis e Loga; Censo 2010 do IBGE

TRÁFICO DE DROGAS 2%

O tráfico de drogas entrou para a lista de preocupações dos eleitores paulistanos. "Quando a população aponta o narcotráfico, aponta, na verdade, uma polícia que não funciona e uma organização criminosa cada vez mais potente", avalia o jurista Wálter Maierovitch, ex-secretário Nacional Antidrogas.

Os flagrantes de pessoas com entorpecentes ou envolvidas nesse tipo de crime na capital somaram no ano passado 6.563, mais de 200% em relação ao registrado em 2001, conforme dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública.

O combate ao tráfico é tarefa das polícias Militar, Civil e Federal. Mas, segundo especialistas, há medidas que a administração pode tomar para ajudar a conter essa expansão.

O professor de direito penal David Teixeira de Azevedo, da USP, sugere o reforço da fiscalização de espaços públicos por meio da Guarda Civil Metropolitana. "Tem de cuidar do patrimônio para evitar o surgimento de áreas degradadas e impedir que se crie ali um meio propício para o consumo de drogas."

Para Maierovitch, a guarda poderia atuar em parceria com o Estado. "É necessário ter uma maior sinergia com as polícias", explica. "Óbvio que você não vai armar a guarda, mas pode estabelecer redes de informação."

A prefeitura pode, ainda, expandir a rede de tratamento para usuários de droga se livrarem do vício.

O QUE FAZER: Vigiar e tratar

CALÇAMENTO 3%

"As calçadas são um lixo mesmo." A frase é do encarregado pela prefeitura de coordenar a reforma dessas vias, o engenheiro Amauri Pastorello. Ele calcula ter aplicado quase 3.000 multas desde janeiro, quando entrou em vigor uma nova lei para regular o modelo das vias.

"Não adianta só multar. Tem que ter projetos experimentais em algumas calçadas para dar o exemplo. Se a prefeitura não mostrar que as calçadas podem melhorar, ninguém vai gastar com isso", diz Silvio Macedo, da Faculdade de Arquitetura da USP. Ele defende mais campanha educativa para acabar com problemas como portões recuados, buracos, raízes de árvore e obstáculos no caminho.

Para Silvana Cambiaghi, da Comissão Permanente de Acessibilidade do município, o problema é a legislação, que delega a calçada ao proprietário. "As pessoas incorporam como se fosse delas", afirma.

Philip Gold, ombudsman da CET, concorda. "Se o proprietário não tiver dinheiro, ficará sem consertá-la. A prefeitura tem de ser responsável."

O QUE FAZER: Dar o exemplo

vai indo

O estado das calçadas da cidade

Vias com rampas acessíveis*: 9,12%

CAMPEÕES EM RAMPAS ACESSÍVEIS*:

Consolação: 82,5%
República: 79,8%<br> Jardim Paulista: 62,4%
Santa Cecília: 60,1%
Bela Vista: 56,5%

* Leva em conta o número de domicílios com rampas para cadeirantes nas proximidades

Fontes: Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras; Censo 2010 do IBGE

MORADIA 2%

Faltam terra e dinheiro para novas moradias e sobram favelas na capital paulista. Ao todo, 1,2 milhão de pessoas viviam em áreas invadidas na metrópole em 2010, de acordo com o último Censo do IBGE. Trata-se de 11% de toda a população.

"Temos uma luta por habitação em São Paulo que se manifesta em invasões", afirma a professora Suzana Pasternak, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

O quadro resulta da combinação entre escassez de novos espaços e o alto preço da terra. "Um apartamento de 40 metros quadrados num lugar decente custa R$ 300 mil. Como uma família que ganha três salários mínimos vai conseguir pagar isso?", questiona ela.

A solução, defende a professora, é manter a política de urbanização. "Hoje as favelas têm água, luz, banheiros. Não é uma glória, mas é melhor do que antes", afirma Suzana. Remoções, acrescenta, deveriam se restringir a áreas onde há risco de desmoronamento.

Outra medida necessária é a construção de mais casas e apartamentos populares. De acordo com o último dado da prefeitura, o deficit habitacional chegava a cerca de 227 mil imóveis em 2009.

Atualmente, 103 mil pessoas estão na fila de espera de apartamentos da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação). Há 16 mil unidades em construção.

O QUE FAZER: Mais casas

falta um teto

Volume estimado de imóveis necessários para substituir moradias precárias*

SUL 30.147
SUDESTE 28.282
LESTE 20.643
NORTE 20.095
CENTRO 7.924

* Favelas, loteamentos irregulares e conjuntos habitacionais

Mais 10.395 para atender famílias que vivem em cortiços espalhados pela cidade

Mais 93.732 para atender pessoas e famílias que moram juntas, mas querem se mudar para a casa própria

Fonte: Plano Municipal da Habitação Social da Prefeitura de São Paulo

DESEMPREGO 2%

O índice de jovens desempregados chega a ser o dobro da taxa geral da população na Grande São Paulo, de acordo com o IBGE. O motivo é a baixa qualificação de quem chega ao mercado de trabalho.

"Com as evoluções tecnológicas, o raciocínio e a tomada de decisões ficam mais importantes. Mas a formação média dos jovens ainda está aquém do desejado", aponta o economista André Portela, da FGV (Fundação Getulio Vargas).

"Tem que fomentar o empreendedorismo", defende Nelson Miguel Júnior, que gerencia os postos do CAT (Centro de Apoio ao Trabalho), da prefeitura. "Muitos só pensam na carteira assinada, mas existe mercado para o autoemprego."

Portela defende diagnosticar os focos do desemprego na cidade. "Se é alto entre os jovens, tem que investir em políticas de retenção, para evitar a rotatividade."

Para Miguel Júnior, é necessário investigar os setores que carecem de mão de obra. "Muita gente se forma em campos que o mercado não tem capacidade de absorver."

Alexandre Loloian, economista da Fundação Seade, crê que falta uma política de criação de empregos de forma espalhada na cidade. "Na zona leste, por exemplo, as pessoas têm que ir até as outras regiões para trabalhar. Precisa dar estímulo para que as empresas rumem para áreas com mais pessoas."

O QUE FAZER: Espalhar vagas

problema de jovens

O desemprego na região metropolitana*

6,2% é o índice de desocupação na Grande SP

5,8% é o índice de desocupação nas regiões metropolitanas do Brasil**

DESOCUPAÇÃO POR FAIXA ETÁRIA NA GRANDE SP

18-24 anos: 12,8 %

25-49 anos: 5,1 %

acima de 50 anos: 1,8 %

* Dados do mês de maio de 2012

** São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre

Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE

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