Nos últimos 10 anos, analfabetismo funcional cai de 39% para 27%, enquanto o nível pleno de alfabetismo se mantém no patamar de 25%
Entre 2001 e 2011, o Brasil avançou na área da educação, ampliando o acesso ao ensino básico e superior em todas as regiões do país, mas os dados levantados pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) neste mesmo período demonstram que a realidade ainda está longe de ser a ideal para o pleno desenvolvimento da sociedade brasileira.Segundo o levantamento divulgado no último sábado (14), os avanços verificados na população de 15 a 64 anos localizam-se principalmente na transição do analfabetismo absoluto ou da alfabetização rudimentar para um nível básico de habilidades de leitura e matemática. A proporção de brasileiros com essas competências foi a que mais cresceu, passando de 34% para 47% da população no decorrer da década. Entretanto, a alfabetização plena, que supostamente deveria ser atingida ao se completar o ensino fundamental, permaneceu em torno dos 25% no mesmo período.
“Tivemos uma evolução na escolaridade, há mais pessoas no ensino médio e superior, mas isso não assegura uma aprendizagem adequada em todos os níveis de ensino”, explica Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro que, junto com a ONG Ação Educativa, é responsável pela criação e implementação do Inaf.
“O primeiro passo foi dado, as pessoas estão na escola. Agora é preciso investir na segunda e mais importante etapa: a qualidade do ensino”, complementa Ana Lúcia.
Segundo os dados coletados, o ganho em anos de estudo não tem correspondido, na mesma proporção, à melhora no domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática da população. Mesmo entre as pessoas com ensino superior, o nível pleno de alfabetização fica longe de corresponder à totalidade, abarcando apenas 62% do grupo.
“Isso significa que de cada três pessoas que cursaram a universidade, uma está apenas no nível básico de alfabetização e há ainda uma pequena parcela, de 4%, que se situa no nível rudimentar”, explica a pesquisadora.
O quadro também é preocupante em termos de Ensino Médio. Apenas 35% das pessoas que estudaram o ciclo atingem o nível pleno de alfabetização, enquanto 57% permanecem no nível básico e 8% são classificados como analfabetos funcionais.
Sobre o Inaf
O Inaf avalia as habilidades de leitura e matemática da população brasileira com testes cognitivos aplicados em entrevistas pessoais com 2.002 pessoas de 15 a 64 anos, em todo o território nacional.
De acordo com seu desempenho no teste, os respondentes são classificados em quatro níveis:
Analfabetos funcionais
Analfabetos: não conseguem realizar nem mesmo tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases, ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços, etc.).
Alfabetizados em nível rudimentar: localizam uma informação explícita em textos curtos e familiares (como, por exemplo, um anúncio ou pequena carta), leem e escrevem números usuais e realizam operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias.
Funcionalmente alfabetizados
Alfabetizados em nível básico: leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo com pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade.
Alfabetizados em nível pleno: pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos usuais: leem textos mais longos, analisam e relacionam suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos.
O intervalo de confiança estimado é de 95%, com margem de erro máxima estimada de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos, sobre os resultados encontrados no total da amostra.
Do Instituto Ibope
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