‘Cuidando do meu Bairro’ localiza investimentos e acompanha sua execução. Objetivo é mobilizar a população para acompanhar orçamento público
Em época de eleição, políticos aumentam suas promessas de investimento em todas as cidades. Há quem fale em reforma de praças, outros de escolas e mais alguns propõem postos de saúde. O pleito passa, vereadores são eleitos e os discursos se transformam em frases e números no orçamento municipal, difíceis de serem acompanhados pelo cidadão comum. Um projeto do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (Gpopai-USP) está tentando minimizar esse problema por meio de uma plataforma de geolocalização de aplicação de gastos públicos fácil de visualizar e interagir.
O recém-lançado “Cuidando do Meu Bairro” monitora as propostas orçamentárias por intermédio de um API do Google Maps, localizando-as e apontando quanto foi idealizado para a obra, o montante já empenhado e executado. “Assim, o cidadão consegue visualizar, por exemplo, qual praça deveria estar em reforma e quanto seria gasto”, afirma Gisele Craveiro, professora e pesquisadora da USP e uma das responsáveis pela iniciativa. “É uma forma de tornar os dados mais acessíveis para o cidadão comum”.
Por enquanto, o projeto está em fase de testes e restrito à subprefeitura de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. A área foi escolhida pelo baixo índice de desenvolvimento humano e pela atividade das associações de moradores locais, o que pode facilitar o envolvimento da comunidade com o projeto, tornando-o mais dinâmico. Um aluno da USP desenvolveu um API em código aberto que “lê” o orçamento municipal automaticamente e insere “pinos” nos locais onde serão executados. A página também oferece uma lista dos projetos.
A visualização, no entanto, é limitada aos projetos orçamentários que disponibilizam endereços. Isto faz com que algumas propostas não entrem na lista. “Nem tudo no orçamento é discriminado. O mapa, aliás, pode servir para que o cidadão cobre seus representantes, indicando promessas de campanha no aplicativo e reclamando abertura de dados”, diz Gisele.
Crescimento
Apesar de jovem, o site já obteve apoio da Rede Nossa São Paulo, que reúne organizações que trabalham pelo desenvolvimento da cidade. Com ela, os organizadores pretendem detalhar os dados e ampliar o alcance da iniciativa. Por enquanto, apenas informações relativas ao orçamento de 2011 estão disponíveis, mas o objetivo é puxar dados desde 2008 e atualizá-los, possibilitando, assim, a comparação.
Os idealizadores, que trabalham voluntariamente, também desejam inserir a região de Itaquera, igualmente na zona leste, no projeto. A escolha se deve aos investimentos que a área tem recebido devido à Copa do Mundo de 2014, como a construção do estádio, e ao desenvolvimento local.
Para que isso seja possível, os professores e pesquisadores da USP pedem ajuda de programadores voluntários para aperfeiçoar o código e refinar as buscas. Também acreditam que a população possa enviar fotos e testemunhos que sirvam para ilustrar o andamento de obras e promessas não cumpridas. As primeiras reuniões com os moradores da região de Ermelino Matarazzo já foram realizadas. “Assim transferimos conhecimento ao cidadão e facilitamos seu ‘empoderamento’, fortalecendo uma cultura de acompanhamento orçamentário que só pode trazer benefícios para as pessoas e a cidade”, diz Gisele.
Data: 03 de agosto de 2012
Autor: Marcelo Medeiros
