Em palestra recente no Brasil sobre impactos sociais de grandes eventos, a presidenta da ONG Transparência Internacional, Huguette Labelle, fez um alerta importante.
Ela destacou que um grande evento esportivo mal organizado, não transparente em seus custos e processos e que não deixa benefícios para a população causa um impacto negativo na sociedade que se prolonga por mais de uma geração.
Isso porque a juventude acaba se desencantando com a prática esportiva e com a participação política, levando esse comportamento para seus filhos e até netos.
Em outra frente, o Escritório da ONU contra Drogas e Crime (UNODC) convocou uma reunião com especialistas em Viena para discutir como prevenir a corrupção que se associa a esses grandes eventos.
Por aí se vê que a preocupação com o legado social de megaeventos é global e a mobilização que ocorre no Brasil é uma resposta a desmandos e desvios que se potencializam nessas oportunidades.
Com o aumento da conscientização, cada vez mais brasileiros querem ter voz ativa e decidir a respeito da herança que a Copa e as Olimpíadas vão deixar para a população.
Nesse contexto e considerando que teremos eleições para prefeitos este ano, vivemos um bom momento para comprometermos os candidatos com uma agenda sustentável, que encaminhe soluções para os problemas existentes, levando em conta o volume de recursos que serão investidos.
Por isso, a ONG Atletas pela Cidadania, a Rede Brasileira de Cidades Justas e Sustentáveis e o Instituto Ethos estão convocando todos os candidatos às prefeituras de onze cidades-sede da Copa e das Olimpíadas –exceto Brasília, que não tem eleições municipais.
Com a iniciativa transmitida pela pergunta "Copa, Olimpíadas e eleições: qual é o legado social para a sua cidade?", queremos que eles publicamente se comprometam com princípios contidos em três documentos: o Termo de Compromisso Cidades do Esporte, o Programa Cidades Sustentáveis e o Pacto pela Transparência Municipal.
Manaus, Cuiabá, Rio e São Paulo já realizaram esses eventos. Os principais postulantes à prefeitura compareceram e, diante de representantes de diversas organizações da sociedade civil, de lideranças políticas e de cidadãos, assinaram os três documentos, assumindo publicamente a inclusão dos compromissos em seus programas de governo e, caso eleitos, a estabelecer metas e prestar contas periodicamente. Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Fortaleza, Natal e Curitiba virão na sequencia.
O cidadão mais cético, todavia, poderá argumentar que esses compromissos não passam de boas intenções. De fato, entre assinar compromissos e realizá-los existe uma distância que será mais curta à medida que o eleitor assumir o protagonismo desse processo.
Por isso, pedimos que o eleitor convoque o seu candidato a assinar esses documentos e, seja quem for vitorioso, cobre um plano de metas e a realização delas durante o mandato. Só com participação e controle social pelos cidadãos vamos construir uma sociedade mais justa e dar esperança às novas gerações.
JORGE ABRAHÃO, 54, é presidente do Instituto Ethos
ODED GRAJEW, 68, é coordenador-geral do Programa Cidades Sustentáveis
ANA MOSER, 44, ex-jogadora de vôlei, é presidente da Atletas pela Cidadania, e RAÍ DE OLIVEIRA, 47, ex-jogador de futebol, é diretor da mesma ONG