Os sucessivos arrastões em prédios, bares e restaurantes em São Paulo revelam o dramático quadro da violência na cidade.
Na recente pesquisa que a Rede Nossa São Paulo realizou com o Ibope, 89% da população declarou se sentir pouco ou nada segura na cidade. Os dados são preocupantes: em 2011, foram 150.197 roubos e 1.981 mortes decorrentes de crimes.
É importante nos debruçarmos sobre as razões da criminalidade para que medidas concretas sejam tomadas, atacando o problema nas suas raízes. A cidade é dividida em 96 distritos. Cada distrito tem em média mais de 110 mil habitantes, maior que 95% das cidades brasileiras. Mas em 20 deles não há um distrito policial.
É preciso combater a corrupção, remunerar dignamente e treinar adequadamente os policiais para que ganhem a confiança da população. Também é determinante agilizar os processos de investigação e punição aos criminosos. Menos de 5% dos delitos terminam em condenação e efetiva punição dos infratores.
Mas ao lado dessas mais do que conhecidas providências, outra e preocupante realidade se revela ao olharmos atentamente para os indicadores sociais e econômicos de São Paulo, a mais rica cidade do país. Uma realidade da qual talvez a maioria das vítimas dos arrastões não tenha consciência.
Dos 96 distritos da cidade, 45 não têm nenhuma biblioteca municipal (aliás, a maioria das bibliotecas municipais fecha aos sábados à tarde e domingos!), 59 não têm nenhum centro cultural, 59 não têm nenhum cinema, 71 não têm nenhum museu, 52 não têm nenhuma sala de show e concerto e 54 não têm nenhum teatro.
Em Bogotá, um caso exemplar de redução da violência, a implementação de uma grande rede de bibliotecas e de centros culturais, oferecendo atividades educacionais e culturais especialmente para jovens de baixa renda, foi fundamental para baixar a criminalidade.
Ainda em São Paulo, 56 distritos não têm uma unidade com equipamentos públicos de esporte. As pessoas são obrigadas a percorrer enormes distâncias para satisfazer suas necessidades: em 38 distritos, não é possível encontrar um parque.
No que diz respeito ao mercado de trabalho, os dez melhores distritos concentram 37,05% dos empregos, enquanto os dez mais pobres oferecem apenas 1,12% das vagas. Não é por acaso que a mobilidade na cidade é catastrófica.
A população que utiliza os serviços públicos de saúde espera, em média, 52 dias pela consulta, 65 dias para realização de exames e 146 dias para intervenções mais complexas como internações ou cirurgias. Em 26 distritos, não há nem sequer um leito hospitalar!
A diferença entre os indicadores dos distritos mais ricos e os mais pobres (que são a maioria) varia de dezenas a milhares de vezes, como pode ser constatado no mapa da desigualdade da cidade de São Paulo em www.nossasaopaulo.org.br.
Todas as cidades que baixaram os índices da violência e melhoraram a qualidade de vida implementaram ações para diminuir a desigualdade e ocupar todo o território com equipamentos e serviços públicos de qualidade. Essa deveria ser a maior prioridade da sociedade, dos candidatos e dos futuros gestores de São Paulo.
ODED GRAJEW, 68, empresário, é coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos. Integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social