Legado da Copa é discutido por candidatos a prefeito do Recife

 

Evento contou também com assinatura de três documentos. Esportes, sustentabilidade e transparência foram abordados em encontro

Fonte: Katherine Coutinho, do G1 PE

O legado que a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 pode deixar para o Recife foi tema de um encontro realizado quinta-feira (16/8), na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Derby, região central do Recife. O evento "Copa, Olimpíadas e Eleições: qual é o legado para a sua cidade?" contou com a presença de candidatos à prefeitura da cidade, que foram convidados a assinar o Termo de Compromisso Cidades do Esporte, o Pacto pela Transparência Municipal e o Programa Cidades Sustentáveis.
 
Compareceram ao encontro e assinaram os três documentos os candidatos Daniel Coelho (PSDB), Edna Costa (PPL), Jair Pedro (PSTU) Mendonça Filho (DEM) e Roberto Numeriano (PCB). O candidato do PSB, Geraldo Júlio, não pôde comparecer e enviou os documentos assinados pelo candidato a vice-prefeito, Luciano Siqueira. O candidato Humberto Costa (PT) também não pôde participar do evento devido a um compromisso em São Paulo. De acordo com os organizadores, o petista assinou os documentos na capital paulista, no mesmo dia.
 
A ex-jogadora de vôlei Ricarda Lima apresentou o conteúdo do ‘Compromisso Cidades do Esporte’, representando a organização não governamental Atletas Pela Cidadania. "O esporte contribui para a educação de inúmeras formas. Nossa preocupação vai muito além das estruturas físicas, isso já está planejado. E o legado social? Temos muito pouco tempo até a Copa e as Olimpíadas", afirma Ricarda.
 
O compromisso tem três metas específicas voltadas para os municípios, passando por ampliação e melhoria do esporte das escolas, ampliação do acesso à atividade esportiva e ter um sistema público consolidado e de longo prazo, que vá além de questões de governo. "A transparência é pré-requisito para isso dar certo. Temos que desenvolver uma cultura de esporte para todos. Temos que planejar e também fiscalizar, não é simplesmente tirar do papel, é fazer algo consciente", defende Ricarda.
 
O Pacto pela Transparência Municipal foi proposto pelo Instituto Ethos, através do projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios, tendo como um dos principais objetivos a clareza dos gastos com a Copa do Mundo. "É muito difícil saber quanto está sendo investido realmente na Copa do Mundo por cada parte do governo, é preciso dar transparência a esse processo. É preciso colocar no orçamento de forma clara para que a população tenha ciência clara de quanto está sendo investido", defende o coordenador de políticas públicas do Instituto Ethos, Felipe Saboya.
 
O compromisso de promover o desenvolvimento de maneira sustentável foi trazido pelo Programa Cidade Sustentável, apresentado pelo pesquisador George Winnick, a frente do programa. "Precisamos pensar o desenvolvimento alinhado a esse grande desafio mundial de buscar um novo jeito de produzir, consumir. Existem vários estudos, indícios, que essa forma atual de viver põe em risco nossa própria existência", afirma Winnick. A assinatura do documento traz também o compromisso que o prefeito, 90 dias depois de eleito, deve apresentar um diagnóstico da cidade, com pontos positivos e negativos do município.
 
O programa possui 12 eixos temáticos e passa por assuntos como aumento da área verde, erradicação da miséria e pobreza, despoluição de rios, garantia de creches e escolas, evolução da coleta seletiva de lixo, implantação de ciclovias e priorização de transporte público. "Temos indicadores que auxiliam no controle da eficácia das políticas, banco de boas práticas do que deu certo em cidades do mundo. Além disso, propomos uma rede onde prefeitos, gestores públicos, possam intercambiar experiências, andar juntos para novo modelo de desenvolvimento", explica Winnick.
 
O encontro teve também a presença de representantes da sociedade civil, conselhos de classe e entidades que apoiam a causa da sustentabilidade, do esporte e da transparência na gestão pública.
 
Candidatos

Ao fim do encontro, cada um dos candidatos teve a oportunidade de se manifestar sobre os documentos. A ordem escolhida foi a alfabética, por isso o primeiro a subir ao púlpito foi o candidato Daniel Coelho, que ressaltou a importância do meio ambiente e da sustentabilidade em todos os pontos da administração pública. "Transparência e planejamento precisam andar juntos. O primeiro desafio é que a questão ambiental tem que ser central em todo o programa de governo", defende Coelho, que também lembrou a importância da valorização do esporte.
 
A candidata Edna Costa chamou a atenção para a questão das políticas públicas, que para ela não devem ser chamadas de gastos, mas sim de investimentos. "Quero chamar a atenção que é importante que as cidades busquem mais recursos e parcerias com o governo federal. Política pública é fundamental e um grande investimento, mas tem que ser muito vigiada. O esporte também é essencial, é preciso se investir na saúde através do esporte, como academias públicas", afirma Edna, que ressalta ainda a reciclagem como fonte de renda.
 
Representando o candidato Geraldo Júlio, Luciano Siqueira destacou a importância dos três documentos, mas fez uma ressalva quanto ao poder que cabe aos municípios. "Da mesma forma que nós abordamos essas questões com o olhar focado na cidade, a luz do país que queremos ser, é preciso ter na conta o que o poder público municipal pode, mas pode menos do que se pensa. É preciso olhar a questão estrutural. O Recife não se basta a si mesmo, é preciso abordá-lo de um ponto de vista metropolitano", diz Siqueira.
 
Candidato do PSTU, Jair Pedro buscou as origens da democracia e da cidadania da Grécia antiga para ressaltar a importância de uma mudança estrutural. "O conceito de classe para nós é muito importante e é a partir dele que nós avançamos para discutir a cidadania e a sustentabilidade. Em nenhum momento o capitalismo se preocupou com a preservação da natureza ou da humanidade. Não temos piscinas, nem pistas de corridas e isso tem um custo baixo", acredita Pedro.
 
Com críticas a gestão atual, Mendonça Filho reafirmou o compromisso com a educação infantil, construção de escolas e requalificação de espaços. "Precisamos atuar de uma forma moderna, a partir da transparência, do acompanhamento do público, para que o cidadão possa acompanhar o que está sendo feito pelo governo municipal. Temos que pensar numa cidade sustentável, tem que se ampliar e melhorar a coleta de lixo da cidade, ampliar a coleta seletiva, ampliar os espaços verdes", defende Mendonça.
 
Roberto Numeriano foi o último candidato a discursar no encontro promovido na Fundaj. “O conceito de controle social e poder popular dá condições de traduzir qualquer proposta de governo para que a gestão inclua a comunidade o que se pode fazer para reformar a cidade do Recife. Essa visão privatista e privatizante do esporte precisa ser combatida. Além disso, defendo a educação ambiental e educação fiscal. Não acredito numa coleta de lixo que é apenas para recolhê-lo, levá-lo para o lixão e ser transformado em problema”, afirma Numeriano.
 
O representante do Instituto Ethos ressaltou ainda que a assinatura dos compromissos não vai ficar apenas no papel. “Nós vamos cobrar aquele que for eleito, vamos atrás. Isso não deve ser apenas uma promessa de campanha”, avisa Saboya.

A ação acontece em meio ao momento único vivido pelo Brasil, que, ao sediar os principais eventos esportivos do mundo, tem também o compromisso de realizar investimentos sociais importantes. Além do legado em áreas como mobilidade urbana e infraestrutura, é preciso estabelecer quais serão os outros benefícios para a população.
 
Depois de Manaus, Cuiabá, Rio de Janeiro, São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e, agora, Recife (PE); a ação passará ainda por Curitiba (PR), Natal (RN), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE) e Salvador (BA).


 

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