Fernando Gallo e Débora Álvares, de O Estado de S. Paulo
Não há informações públicas sobre o tempo médio nas filas para atendimentos médicos, exames ou cirurgias. Mesmo obrigada há seis anos por uma lei municipal a divulgar os dados, a Prefeitura alega que eles estão em "processo de análise e consolidação" e, por isso, ainda não estão disponíveis.
A gestão municipal paulistana, como boa parte dos governos País afora, voltou nos últimos anos seus esforços para reduzir as filas na chamada atenção primária, os casos urgentes.
No que se refere às especialidades, a Prefeitura inaugurou 19 unidades de Assistência Médica Ambulatorial Especialidades que, além de consultas com sete tipos diferentes de especialistas, fazem alguns tipos de exame, o que mitigou parte do problema.
A rede, contudo, continua sendo insuficiente para a demanda por especialidades. Faltam equipamentos de saúde e leitos hospitalares, sobretudo na periferia. "Você não tem uma quantidade suficiente de serviços para atender à toda população", afirma o médico Sílvio Possa, gestor de serviços de saúde da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein. "Faltam, por exemplo, hospitais terciários na periferia que possam atender à demanda da alta complexidade."
Além disso, a rede pública tem dificuldade de atrair médicos especialistas e outros profissionais de saúde porque paga menos que o setor privado. Em termos nacionais, com um PIB maior que o do setor público, a rede privada atende a um terço do total de pessoas atendidas pelo SUS.
Estudiosos do tema apontam também como problema o desnível de gestão entre os serviços da rede. Segundo eles, algumas Unidades Básicas de Saúde ajudam mais a encaminhar os pacientes para os especialistas do que outras. Além disso, sustentam que, embora tenha melhorado, ainda há gargalos na integração com a rede estadual de saúde. "Há um grande número de hospitais gerais e ambulatórios de especialidades que não têm sentido técnico de estar nas mãos do Estado", diz Paulo de Tarso Boccini, médico e doutor em saúde pública pela Universidade de São Paulo.
Soluções. Possíveis soluções que o próximo prefeito pode adotar? As principais, apontadas pelos especialistas ouvidos pelo Estado, são a busca por racionalizar e ampliar os recursos da saúde, a construção de novos equipamentos e a contratação de mais profissionais, a melhoria dos processos de gestão e a adoção de uma cultura efetiva de eficiência nos serviços de saúde e a descentralização dos serviços.
"Precisamos orientar uma política para a melhoria do acesso para as pessoas que mais precisam, que estão na periferia", afirma Mário Bracco, médico pesquisador do Hospital M’Boi Mirim e especialista em saúde pública. "É preciso um financiamento mais adequado, com rígido controle social", diz Cid Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo.
Eles apontam também a melhoria da mobilidade urbana, da segurança dos equipamentos de saúde, dos salários e dos planos de carreira dos profissionais de saúde como importantes para atrair profissionais para as regiões mais distantes do centro. Divergem, no entanto, quanto a permitir que o setor privado gerencie parte dos serviços de saúde.
Espera. Quantos paulistanos esperam, como Vagna Duarte, durante semanas ou meses por consulta com um especialista? Qual o tempo médio nas filas? Mesmo obrigada há seis anos, por uma lei municipal, a publicar os dados, a Prefeitura os esconde. Diz que estão em "processo de análise e consolidação".