O carro derrubou as grades de proteção da corrida, bateu nos corredores e só parou em cima da calçada. O motorista foi indiciado por tentativa de homicídio com dolo eventual.
Alan Severiano e Sabina Simonato
São Paulo, SP
Sete pessoas foram atropeladas ontem quando participavam de uma maratona na região do Parque do Ibirapuera. Um motorista invadiu a área da corrida.
O carro batido e atravessado no meio da pista não interrompeu a maratona. Eram 8h30 quando o motorista invadiu o espaço reservado para 30 mil corredores.
“Foi uma fração de segundo. Ninguém esperava. Todo mundo correndo”, conta um corredor.
Sete pessoas foram atropeladas. O personal trainer Miguel Sarkis foi atingido na perna: “Estava bem acelerado. Em três segundos aconteceu tudo. Tinha o carro parado com a grade toda amassada em cima da gente, pessoas caídas”, lembra.
“O pessoal parou e prestou primeiros socorros, depois chegou o resgate para dar os primeiros socorros legais”, diz Ranulfo Leandro Vieira, supervisor de engenharia.
O acidente foi ao lado do Parque do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo. O carro derrubou as grades de proteção da corrida, bateu nos corredores e só parou em cima da calçada. O impacto foi tão forte que, segundo uma das vítimas, uma mulher foi arremessada pelo carro e caiu alguns metros depois. A frente do carro ficou amassada e a lateral foi destruída.
Um cinegrafista amador flagrou o atendimento aos feridos. Cinco pessoas foram levadas para hospitais com ferimentos leves, enquanto o motorista era cercado.
“Tentaram linchá-lo, mas eu não deixei. Pedi que tivessem calma. O cara estava desnorteado, ele quis sair do carro e as pessoas subiram no carro. Queriam dar porrada nele. Falei: ‘Para, para, deixa o cara’. Fecharam a porta, e logo a polícia veio e recolheu ele”, conta o personal trainer.
À polícia, o motorista disse que ia jogar futebol com os amigos, e que ele não foi ele que provocou o acidente.
“Ele vinha trafegando pela via livre aos veículos e que foi fechado e perdeu o controle do veículo, acabando por invadir a prova”, explica capitão Robson Cabanas, da Polícia Militar.
“Não temos essa comprovação, não há testemunha disso. Mas é um local onde o trânsito está lento por causa do evento, sinalizado, com policiais militares, todo um aparato. E ele ainda conseguir fazer isso, a gente pode dizer que ele assumiu um risco de matar”, afirma o delegado Emílio Pernambuco.
O teste do bafômetro deu negativo, mas o motorista, o motoboy Ricardo Gonçalves dos Santos, de 32 anos, foi indiciado por tentativa de homicídio com dolo eventual. Ele passou a noite na prisão e um juiz vai decidir se ele vai responder pelo crime em liberdade.
O Grupo Pão de Açúcar, organizador da maratona, não comentou o acidente. Mas será que tem como diminuir essa violência no trânsito? Segundo Oded Grajew, representante do movimento Rede Nossa São Paulo – que trabalha para melhorar a qualidade de vida na capital -, 50 mil pessoas morrem por ano no trânsito, 500 mil vão para o hospital e 120 mil são aleijadas. Ele afirma que é necessário ter ciclovias para as bicicletas, melhor transporte coletivo, mais educação no trânsito e mais transporte coletivo.
No Rio Grande do Sul, em fevereiro do ano passado, um motorista atropelou vários ciclistas propositalmente. O representante do movimento afirma que a raiva é uma consequência do stress, então como as pessoas passam, em média, 2h30 por dia no trânsito. “As pessoas ficam estressadas e com raiva, então é necessário oferecer transporte coletivo de qualidade, ciclovias exclusivas e fazer com que as pessoas possam se mover na cidade com menos raiva e menos stress”, afirma.
Só no mês de junho 46 pessoas morreram atropeladas na cidade. Pelo menos dois motociclistas morrem todos os dias.