Por Raphael Di Cunto | Valor
SÃO PAULO – A percepção do paulistano sobre o trânsito tem piorado desde 2008, último ano do primeiro mandato do prefeito Gilberto Kassab (PSD). Segundo pesquisa Ibope, feita a pedido da Rede Nossa São Paulo, 80% dos moradores com 16 anos ou mais consideram o trânsito péssimo ou ruim, contra apenas 5% que o avaliam como bom ou ótimo. Em 2008, o índice negativo era de 70%.
O trânsito foi o quarto problema mais citado em uma sondagem que permitia apontar três áreas. Foi lembrado por 32% da população, atrás de saúde (69%), segurança pública (45%) e educação (43%). O quinto item mais problemático é o transporte coletivo, resposta de 23% dos entrevistados.
Embora a mudança no ranking seja devido à piora na percepção sobre os serviços de segurança pública e educação, também houve uma melhora de nove pontos percentuais no sentimento do paulistano sobre o trânsito, que em 2011 aparecia como segundo maior problema, de acordo com 43% dos moradores.
A falta de mobilidade é um problema mais agudo para os usuários de carro do que para quem utiliza transporte público. O trânsito é citado como maior problema da cidade por 40% dos paulistanos que têm o automóvel como meio de transporte diário ou praticamente diário, percentual que cai para 30% na fatia da população que usa outro meio de transporte.
Ainda segundo a pesquisa, houve melhora no tempo gasto pelos moradores para se deslocar à sua principal atividade diária, como trabalho e estudo. Em 2009, a média de tempo gasto para se ir e voltar desses lugares era de 1h57min. Em 2012, a percepção dos paulistanos é que esses tratejos demoraram, em média, 1h34min. Metade dos moradores de São Paulo levam de uma hora a duas horas por dia para fazer o percurso e voltar do local de trabalho ou estudo.
Secretário-executivo da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi Pereira, avalia que a atual gestão foi ineficiente. Ele citou metas não cumpridas, como construção de corredores de ônibus, terminais rodoviários e intervenções em pontos de congestionamentos – das 15 previstas, apenas uma foi concluída – e criticou a falta de um conselho municipal para o setor e de um plano municipal de mobilidade e transporte. "Falta planejamento", afirmou.
As campanhas educativas de respeito ao pedestre feitas por Kassab, concentradas na região central, aumentaram a sensação de respeito à faixa de pedestres de 26% em 2011 para 47% este ano, segundo a pesquisa. A principal alta foi no centro, onde o índice saltou de 16% para 73%. Contudo, a nota dada para a sinalização para pedestres caiu de 4,7 para 2,8 no mesmo período.
No debate entre candidatos a vereador indicados por cada partido para representar a coligação dos concorrentes a prefeito, PT e PSDB concordaram a respeito da descentralização da cidade. O PRB, do candidato Celso Russomanno, e o PMDB, de Gabriel Chalita, não indicaram nenhum representante.
O vereador Chico Macena (PT), tesoureiro da campanha de Fernando Haddad (PT), defendeu o planejamento urbano como forma de reduzir o número de deslocamentos diários da população ao levar o emprego para a periferia e utilizar as moradias vazias do centro. O petista ainda criticou os projetos de ciclovias do prefeito Kassab. "O poder público não reconhece como transporte as bicicletas, apenas como objeto de lazer, ao privilegiar as ciclofaixas aos fins de semana", afirmou.
Apesar de José Serra (PSDB) pregar a continuidade do governo Kassab, Aurélio Nomura (PSDB) criticou a atual gestão centralizada de poder e disse que os investimentos em melhorias viárias nunca serão suficientes se a prefeitura não levar os empregos para a periferia. "O subprefeito precisa de mais autonomia, tem que ser alguém que conheça muito bem a cidade e tenha orçamento para executar projetos", afirmou.
Kassab colocou no cargo coroneis aposentados da Polícia Militar, a maioria sem relação com a região onde atuam, e retirou parte do orçamento das subprefeituras, como a capacidade de realizar obras. Nomura não soube dizer, porém, qual a proposta de Serra para a descentralização – quando prefeito, o tucano nomeou para a função ex-prefeitos do PSDB de cidades da região metropolitana.
Ricardo Young (PPS), da coligação de Soninha Francine (PPS), opinou pela diminuição no número de carros na cidade. Para isso, disse que é contra pedágio urbano e aumentar o rodízio, pois são "medidas punitivas", mas defendeu o fim das áreas de zona azul – estacionamento rotativo – para que sejam transformados em ciclovias.
A pesquisa foi feita pelo Ibope com 805 moradores de São Paulo, entrevistados entre 17 e 14 de agosto, e tem margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.