Segundo pesquisa Ibope, 65% deixariam o carro em casa se tivessem opção de transporte; tempo médio de deslocamento é de 2h23
JULIANA DEODORO – O Estado de S.Paulo
Para chegar à Câmara Municipal, no Viaduto Jacareí, no centro, às 10h de ontem, a empregada doméstica Maria dos Anjos, de 58 anos, saiu de casa às 7h. O trajeto, feito em dois ônibus, tomou parte da manhã de Maria, que mora no M’Boi Mirim, no extremo sul de São Paulo. "Hoje foi até rápido. Preciso do ônibus, não tem jeito. Vivo esse problema diariamente." Como 80% dos paulistanos, Maria acha o trânsito da capital ruim ou péssimo.
A zona sul, onde mora, é a região onde os paulistanos mais sofrem com o trânsito, conforme a pesquisa realizada pelo Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo. Segundo o estudo, o tempo médio de deslocamento diário na região sul é de 2 horas e 40 minutos. A média na cidade toda é de 2h23 – no ano passado, era de 2h49. Não por acaso, para 39% dos entrevistados que moram na zona sul, esse é o maior problema da capital.
A pesquisa, que está na sexta edição e tem margem de erro de três pontos porcentuais, integra a Semana da Mobilidade, que começou ontem e termina no sábado, o Dia Mundial Sem Carro. Segundo o diretor da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi, o estudo é importante por informar qual é a percepção dos cidadãos sobre o trânsito na cidade. "Aponta e repete questões para as quais os governantes estão fechando os olhos."
De acordo com os dados apresentados, 88% é favorável à construção e ampliação de ciclovias. Entre aqueles que dirigem todos os dias, esse índice é ainda maior: 91%.
Para resolver o problema do trânsito, 41% dos entrevistados acreditam que a ampliação de linhas de metrô e dos corredores de ônibus é a melhor solução. "Aumentou a percepção de que a saída é o investimento no transporte coletivo", diz Márcia Cavallari, diretora do Ibope.
Apesar desse dado, o número dos que deixariam de usar o carro se "houvesse uma boa alternativa de transporte" caiu de 82%, em 2011, para 65% em 2012. "Talvez se tivéssemos um transporte público com qualidade essa disposição fosse maior", afirma Márcia. Só que a maioria dos paulistanos reprova o pedágio urbano (83%) e o aumento do rodízio de carros (66%).
Programação. A apresentação da pesquisa abriu a programação da Semana da Mobilidade, que tem ainda palestras, discussões e oficinas. Outros eventos, como a "vaga viva", a "praia na Paulista" e a "balada da mobilidade" também vão ocorrer nos próximos dias. "Vamos diversificar e, ao mesmo tempo, trazer à tona a questão da mobilidade", diz o cicloativista e bike anjo, Ian Thomaz. "Mobilidade tem a ver com qualidade de vida, com troca e com experiência. Por isso são tantas atividades."