Distribuição de parques, praças e equipamentos culturais na cidade é desequilibrada e aquém da demanda, principalmente nas regiões pobres
DÉBORA ÁLVARES – O Estado de S.Paulo
Com 869 livrarias, 116 salas de teatro, 110 museus, 85 parques e áreas verdes, sete grandes casas de espetáculos e 294 salas para shows, São Paulo é considerada uma das potências culturais não só do País, como também da América Latina. A distribuição desses equipamentos culturais, no entanto, é desequilibrada e insuficiente à demanda.
Apesar do público mensal de 50 milhões de pessoas, há apenas 282 telas de cinema. Existe uma biblioteca para cada 100 mil habitantes da metrópole, segundo o estudo World Cities Culture Report, que elegeu 12 cidades em todos os continentes com potencial para gerar cultura. São Paulo está entre elas, mas ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar grandes metrópoles mundiais, como Nova York e Berlim, ou até mesmo emergentes, como Johannesburgo ou Xangai.
Dados do Centro de Estudos da Metrópole mostram que os equipamentos culturais estão concentrados na região central e nas áreas nobres da cidade, nas zonas oeste, sul e centro. Em Guaianases, zona leste da capital, onde mora o grupo de amigos Cláudia Pereira da Silva, Vânia Maria de Freitas, Iran da Silva Paulo e Angelo Márcio Leandro da Silva, as possibilidades de lazer são praticamente inexistentes. "Até fizeram um shopping em Itaquera, mas é muito pequeno e só tem duas salas de cinema. Para conseguir um ingresso, tem não só que comprar com antecedência pela internet, como também ter cartão de crédito e isso, por aqui, não é comum", reclama a assistente social Vânia de Freitas, 45 anos.
Mais do que espaços culturais, os moradores da periferia sentem falta de áreas de convivência como parques e praças. A mancha urbana de São Paulo tem apenas 2,6 metros quadrados, em média, de praças e parques por pessoa, segundo estudo da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. O recomendado, segundo a Organização Mundial da Saúde, são 12 m² de área verde por habitante.
A média geral já é considerada baixa por especialistas, mas alguns bairros, na região central e na periferia, as paisagens são ainda mais cinzentas. Os índices de áreas verdes correspondem a menos de 1 m² por pessoa em pelo menos 10 das 31 subprefeituras da cidade. A gestão do prefeito Gilberto Kassab prometeu criar cem parques até o fim de 2012. Dos 85 existentes hoje, 51 foram criados desde 2005, segundo a Secretaria do Verde. Outras 60 áreas estão em estudo, projetos, desapropriações e em obras, sem previsão de finalização.
O professor de urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Nestor Goulart acredita que a cultura vai além de soluções de problemas sociais – com iniciativas por toda São Paulo, ela serviria também como uma proposta de urbanização. Para ele, a falta de áreas de lazer deve-se à quantidade elevada de loteamentos ocupados de forma irregular. "Não há controle sobre isso e o poder municipal não se organiza para fazer as reservas necessárias."
Goulart ressalta que uma cidade do tamanho de São Paulo está permanentemente em processo de reciclagem de seus espaços. "A única solução é aumentar os espaços com planos conjuntos de aumento da ocupação, casados com crescimento das áreas livres", diz. A criação de parques é uma necessidade real, para o professor, com um porém: "Eles devem estar em locais de fácil acesso, próximo às linhas de trens e metrô para que a população em massa possa usar".
Para o arquiteto Gilberto Belleza, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), uma opção seria transformar áreas abandonadas em pequenos espaços de lazer, mais próximos da população. "Pode ser um galpão que receba atividades culturais, ou com um parquinho para as crianças." Ele destaca a importância, ainda, de construir clubes, com áreas de esporte, para suprir a demanda da população mais pobre.