“Nenhum carro cumpre ou chega perto das novas metas de consumo” – UOL

Claudio Luis de Souza
André Deliberato
Eugênio Augusto Brito
Do UOL, em São Paulo (SP)

Nenhum dos carros que atualmente detêm as melhores notas do Inmetro no quesito consumo de combustível sequer chega perto de cumprir as metas do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores, o Inovar-Auto, mais conhecido como Regime Automotivo, que foram anunciadas nesta quinta-feira (4) pelo governo federal.

De acordo com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, até 2017 o objetivo é que o consumo médio de gasolina melhore para 17,26 km/litro. No caso do etanol, o consumo médio deve chegar a 11,96 km/litro. Segundo ele, os proprietários de veículos que cumpram essas metas poderão ter economia média anual de R$ 1.150 com combustível.

No entanto, mesmo os 17 carros mais econômicos de oito fabricantes (Fiat, Ford, Honda, Kia, Peugeot, Renault, Toyota e Volkswagen) que já aderiram voluntariamente ao Programa de Etiquetagem Veicular do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) passam bem longe da meta de consumo estabelecida para daqui cinco anos.

O Inmetro vai divulgar, durante o Salão do Automóvel de São Paulo (abre no próximo dia 24), os novos resultados do programa de etiquetagem — até lá, valem os da tabela publicada por UOL Carros.

O modelo mais eficiente para o ano 2012, segundo a tabela do Inmetro, é o Fiat Mille Economy, que obteve nota A na etiquetagem devido ao consumo de 8,9/10,7 km/litro (etanol, em circuitos urbano/rodoviário) e 12,7/15,6 km/litro (gasolina, idem). Também agraciado com nota A, o Renault Duster tem consumo de 10,2 km/litro de gasolina na estrada. Mesmo um dos raros carros híbridos vendidos no Brasil, o Ford Fusion Hybrid, só a gasolina, ficou um pouco abaixo dos 14 km/litro.

As fabricantes que conseguirem atingir as metas de consumo receberão incentivo por meio da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A adesão ao programa de etiquetagem do Inmetro será obrigatória até 2017.

MAIS SEGURANÇA
O novo regime automotivo prevê o investimento das montadoras em tecnologias mais modernas de produção, com motores mais eficientes, menos poluentes e com peças mais leves. O governo quer também estimular a fabricação de veículos mais seguros, equipados com controle de estabilidade (ESC) para evitar capotamentos e com sistemas de prevenção de acidentes por meio de alerta de colisão iminente.

Atualmente, o ESC é item extremamente raro em carros com preço abaixo de R$ 50 mil. E, embora "alerta de colisão iminente" seja uma descrição pouco conclusiva, os sistemas de segurança ativa (que entram em ação antes de um acidente) desse tipo costumam ser encontrados apenas em carros premium, de marcas como Audi, Mercedes-Benz e Volvo.

Como o novo prevê incentivo também às empresas que não produzem, mas apenas vendem os veículos no Brasil, essas exigências podem colaborar para diminuir a carga de impostos sobre seus produtos. De resto, para serem beneficiadas, estas fabricantes também terão de assumir o compromisso de importar veículos mais econômicos.

Quanto à segurança, já em 2014 todos os carros vendidos no Brasil deverão contar com airbags e sistema ABS (antitravamento dos freios) como itens de série.

NÃO É FÁCIL BEBER MENOS
São raros os casos de modelos avaliados por UOL Carros nos últimos seis anos que obtiveram médias de consumo próximas ou tão boas quanto as exigidas pelo novo regime automotivo.

O caso mais recente foi o do Volkswagen Fox BlueMotion, que, em condições favoráveis (vidros fechados, ar-condicionado desligado) cravou média de 21,3 km/litro de gasolina. O carro, que é uma versão do Fox voltada à eficiência energética, não foi incluído na mediação do Inmetro para 2012. Já o Volkswagen Gol BlueMotion, que segue a mesma proposta, teve desempenho menos eficiente, obtendo 15,75 km/l. O modelo da família BlueMotion testado pelo Inmetro foi o Polo, que teve nota A.

O Volkswagen Gol Ecomotion, que usa a plataforma do Gol G4, obsoleta depois do Gol G5, conseguiu médias de consumo que satisfazem as metas do novo regime, em test-drive realizado mais de dois anos atrás.

Há casos também como o do Audi A1 Sport, cuja fabricante promete média de consumo de 19,6 km/l na estrada, mas que em nossas mãos ficou em 14,7 km/l — já que foi dirigido em condições reais, com ar-condicionado ligado e na velocidade máxima permitida em estrada.

O Chery QQ rodou 20 km com um litro de gasolina em nosso teste, mas não é um carro do mesmo nível qualitativo geral que os demais aqui citados.

Com etanol no tanque, a meta do novo regime parece ainda mais distante. Um dos carros mais econômicos com o combustível vegetal foi o Citroën C3 com motor 1.5, lançado no mês passado, que obteve média de 9,4 km/l em nossa avaliação.

A briga por mais eficiência energética — e também por emissões menores de gases poluentes e do efeito estufa — já é uma realidade na Europa e nos Estados Unidos, mas uma ilusão distante em países emergentes como China e Índia. O Brasil, parece, decidiu seguir o melhor exemplo.

Não é à toa que, nos últimos meses, surgiram tantas notícias sobre novos motores sendo desenvolvidos por fabricantes como Ford e Volkswagen, notadamente unidades de três cilindros e baixa capacidade, mas com elementos tecnológicos que garentem entrega de potência e torque interessantes. É o que se chama de downsizing. Um dos melhores carros do ano, o Hyundai HB20, tem uma versão com motor três-cilindros.

Na Europa, por exemplo, a Volks acaba de anunciar mais um produto da gama BlueMotion "de raiz", que utiliza diesel em vez de gasolina e recursos como turbocompressor e injeção direta. Nesse caso, um Golf de sétima geração rodaria pouco mais de 30 km com um litro de combustível.

(UOL)

 

REGIME AGORA É LEI

O Decreto 7.819, que regulamenta o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar Auto), foi publicado no Diário Oficial da União desta quinta. A ideia é estimular a pesquisa para produção de veículos mais modernos, seguros e benéficos ao meio ambiente. Entre outros estímulos, está o crédito sobre o recolhimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

O programa dura até 31 de dezembro de 2017, e a solicitação para participar deve ser feita ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A permissão, com validade de 12 meses renovável por igual período, será concedida em ato conjunto dos ministros do MDIC e da Ciência, Tecnologia e Inovação.

O desconto no IPI será concedido sob a forma de créditos bimestrais, com base nos gastos das empresas com pesquisa, desenvolvimento, tecnologia, insumos, ferramentas e capacitação de fornecedores, entre outros. Podem se habilitar as empresas que estiverem em dia com os tributos federais e que trabalhem dentro de níveis mínimos de eficiência energética (os citados acima para consumo de gasolina e etanol).

O crédito concedido sobre o IPI não estará sujeito a desconto da contribuição para o PIS/Pasep e para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Também não incidirão sobre o crédito o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

MAIS EMPREGOS
O novo regime automotivo criará empregos na indústria brasileira e contribuirá para que a população tenha acesso a veículos mais baratos e com maior eficiência energética, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ao comentar o decreto, Mantega destacou que o Brasil possui o quarto maior mercado automobilístico do mundo, ficando atrás apenas da China, dos Estados Unidos e do Japão.

"Queremos manter desta maneira [como quarto maior mercado]. Temos de aumentar a produção. A indústria automobilística representa uma fatia importante do PIB industrial, mais de 20%. Os investimentos previstos por essa indústria nos próximos três anos são de US$ 22 bilhões", afirmou o ministro.

Para Mantega, o novo regime automotivo "será decisivo para dar impulso à indústria automobilística". O programa faz parte do Plano Brasil Maior, estratégia do governo federal para desenvolvimento da indústria brasileira. (Agência Brasil)

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