Dos R$ 46,8 milhões arrecadados, R$ 27,8 milhões foram repassados por partidos e não podem ter origem identificada
Entre os 20 maiores doadores, apenas 4 fizeram repasses diretos; UTC e banco Itaú lideram ranking
PAULO GAMA
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
As campanhas dos vereadores eleitos para a Câmara Municipal de São Paulo foram financiadas majoritariamente por doações ocultas.
Dos R$ 46,8 milhões declarados à Justiça Eleitoral até ontem, R$ 27,8 milhões (60%) foram repassados aos candidatos pelos próprios partidos, o que impede a identificação do doador original.
A prática, que não é ilegal, é usada por empresas e pessoas físicas que não querem ter seu nome diretamente associado às campanhas.
O PT, que elegeu a maior bancada da Casa com 11 vereadores, e o DEM, que fez dois representantes, foram os partidos que mais abasteceram suas candidaturas com doações ocultas.
Dos R$ 12,1 milhões recebidos por petistas, R$ 8,9 milhões (74%) não podem ter o doador identificado -constam como repasses dos comitês de campanha ou das direções do partido.
PSDB e PSD, que fizeram respectivamente a segunda e a terceira maiores bancadas da Câmara, também injetaram recursos nas campanhas de seus vereadores por meio de doações ocultas.
Dos R$ 8,4 milhões arrecadados pelos tucanos, R$ 3,5 milhões (41%) vieram de doações do partido.
Os vereadores do PSD, partido do prefeito Gilberto Kassab, arrecadaram no total R$ 7,3 milhões, dos quais R$ 2,6 milhões (36%) não têm origem identificada.
No caso do DEM, o índice é ainda maior: 94%. Dos R$ 5,4 milhões, R$ 5,1 milhões não têm origem identificada.
O DEM também é o partido que tem o vereador que fez a campanha mais cara da capital. Milton Leite, que foi reeleito com 101 mil votos, gastou quase R$ 3,5 milhões.
Do total gasto, 90% foram repassados pela direção municipal de seu partido e seu doador original não pode ser identificado. O segundo maior financiador da candidatura de Milton Leite é ele mesmo: tirou R$ 131 mil do bolso para a campanha.
CUSTO DO VOTO
Os números constam das prestações de contas entregues pelos candidatos à Justiça Eleitoral, que foram divulgadas ontem. Até o encerramento desta edição, o Tribunal Superior Eleitoral já havia disponibilizado informações de 49 dos 55 eleitos.
Dos 20 maiores doadores, apenas 4 são identificáveis. O maior deles é a construtora UTC, que financiou as campanhas de Jair Tatto (PT), com R$ 400 mil, e a de Marta Costa (PSD), com R$ 50 mil.
O banco Itaú foi o segundo maior doador identificável, com investimentos de R$ 435 mil. O dinheiro foi dividido entre oito vereadores de seis partidos diferentes.
Os que mais receberam foram Jean Madeira (PRB), pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, e José Police Neto (PSD), atual presidente da Câmara. O banco deu R$ 100 mil a cada um deles.
Neto foi também o vereador que mais gastou por voto recebido: R$ 90,71. Ele desembolsou R$ 2,6 milhões na campanha e recebeu 28 mil votos, o que lhe rendeu o último lugar entre os eleitos na chapa de seu partido.
Na ponta oposta, está o pastor Edemilson Chaves (PP), que diz ter gastado somente R$ 19 mil para se eleger. Ele foi o sexto mais votado da coligação, com 45 mil votos, e único eleito do PP.
O pastor é da Igreja Mundial do Poder de Deus e teve o apoio do líder da denominação, Valdemiro Santiago, que falou no lugar do candidato nos programas eleitorais na televisão.