CLARISSA THOMÉ / RIO – O Estado de S.Paulo
A cidade de São Paulo teve redução da incidência dos sete tipos de câncer mais comuns na população, entre os quais pulmão, cólon e reto, colo de útero, estômago e mama, aponta levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgado ontem, Dia Nacional de Combate ao Câncer. É o primeiro estudo de tendência com base nos dados coletados pelos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP).
O trabalho avaliou dez capitais e a cidade de Jaú (SP), que tinham pelo menos oito anos de série histórica. No caso de São Paulo, os dados foram registrados entre 1997 e 2008.
Para a maioria das cidades, o estudo aponta aumento de casos de câncer de mama, cólon e reto, próstata e pele não melanoma. Mas há tendência de redução dos cânceres de estômago, colo de útero e pulmão. Para os pesquisadores do Inca, a situação se explica pelas melhores condições ambientais e sanitárias, queda acentuada no tabagismo e acesso a exames preventivos.
"Nem todo tipo de câncer permite ação profilática e preventiva, mas o câncer de colo de útero, que já foi o de maior incidência nos anos 1980, é altamente evitável e curável. Houve um esforço para ampliar o acesso ao diagnóstico precoce, que começa a produzir resultados e pela primeira vez se percebe uma tendência à redução", diz o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini. As maiores reduções de incidência desse tipo de câncer ocorreram em Curitiba (-9,4%), São Paulo (-7,4%) e Palmas (-7,3%).
O diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio Libanês, Paulo Hoff, afirma que, embora seja importante comemorarmos os bons resultados, o número absoluto de casos de câncer continua aumentando – são esperados cerca de 518 mil novos casos neste ano.
"A luta não está ganha, mas o estudo mostra que é possível obtermos avanços. Investimentos na prevenção podem trazer retorno para a sociedade", afirma. Para ele, a geração de dados da realidade brasileira é fundamental. "É preciso entender as características dos tumores que atingem a nossa população."
A mortalidade por câncer de pulmão em homens caiu na maioria das cidades. Mas o fenômeno não se repete entre as mulheres. O coordenador-geral de Prevenção e Vigilância do Inca, Claudio Noronha, lembra que o câncer de pulmão leva de 20 a 30 anos para aparecer. "As ações de controle do tabagismo, iniciadas há duas décadas no País, já começaram a surtir efeito na incidência, mas ainda não chegaram à mortalidade. Entre as mulheres, a tendência ainda é de aumento, porque elas começaram a fumar cerca de 20 anos após os homens."
O oncologista Jefferson Luiz Gross, do Hospital A.C. Camargo, lembra que a queda de incidência e mortalidade do câncer de pulmão vem sendo registrada em todo mundo como consequência das estratégias antitabagistas. "Se tirássemos o tabagismo, o câncer de pulmão não existira ou seria raro", afirma Gross, destacando que este é tipo de tumor que mais mata no mundo. São 1,5 milhão de mortes por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Metodologia. O estudo se baseou nos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), serviço que faz uma busca ativa pelos casos de câncer diagnosticados em hospitais, laboratórios e centros de imagem públicos e privados. Das capitais brasileiras, apenas cinco não têm o serviço – Rio de Janeiro, Maceió, Rio Branco, Macapá e Porto Velho.
Para calcular as estimativas de novos casos do Rio, o Inca parte dos dados de mortalidade e considera que o perfil dos pacientes da capital fluminense é semelhante aos de São Paulo, Vitória e Belo Horizonte, locais onde o registro está em funcionamento.
A Secretaria de Saúde do Rio informou que desde o início do ano vem "construindo um projeto de trabalho com a Fundação do Câncer para aprimorar a atenção oncológica do Estado". O programa, para os próximos dez anos, inclui o RCBP. / COLABOROU THIAGO MATTOS, ESPECIAL PARA O ESTADO