Mais de 16 milhões de lares não têm, simultaneamente, coleta de esgoto por rede ou fossa séptica, água tratada, recolhimento de lixo e eletricidade
RIO – O Estado de S.Paulo
O avanço na distribuição de renda no Brasil de 2001 a 2011 contrasta com as condições de vida de parte considerável da sociedade brasileira, demonstra a Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) 2012 divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2011, 30,6% dos domicílios urbanos brasileiros – pouco mais de 16 milhões de lares, com prováveis 64 milhões de moradores – não tinham simultaneamente os serviços básicos para que haja condições mínimas de habitação: água tratada, coleta de esgoto por rede ou fossa séptica, recolhimento de lixo e eletricidade.
A razão entre as residências com e sem os quatro serviços era de 0,44 – praticamente para cada dois domicílios habitáveis havia um sem eles, aponta o estudo. "Essa questão tem a ver com a ação do poder público", disse o pesquisador Rubem Magalhães, do IBGE. "Se aumentarmos o salário de um trabalhador para R$ 30 mil por mês, ele não vai instalar uma rede de água na rua onde mora. Isso é papel do Estado", completou. Segundo a SIS, o avanço nas condições de vida na década foi pequeno: de 67,1% para 69,4% de domicílios urbanos com acesso simultâneo a água, esgoto, coleta do lixo e eletricidade – 2,3 pontos de 2001 a 2011.
Também nesse ponto a desigualdade foi forte. No Sudeste, no ano passado, 94,8% dos lares com renda mensal domiciliar per capita acima de 2 salários mínimos tinham acesso simultâneo aos três serviços de saneamento (água, esgoto e lixo). Mesmo os mais pobres tinham alta cobertura: 79,4% dos domicílios da região com até meio salário mínimo de renda domiciliar per capita estavam cobertos.
É um porcentual muito acima da média do Brasil e da pior média regional, do Norte: 14,8%. Na mesma região, 78,4% dos lares foram considerados, segundo o IBGE, sem condições mínimas de habitabilidade. No Amapá, a proporção chegou a 95,9%.
A SIS de 2012 também constatou que apenas 31% dos domicílios permanentes urbanos tinham, simultaneamente, luz elétrica, computador, acesso à internet, aparelho de DVD, televisão em cores e máquina de lavar, medidas de conforto da vida moderna. O estudo descobriu que, dos 69% de domicílios desprovidos de algum desses itens, quase 90% (84,9%) não tinham acesso à web.
Se forem considerados apenas lares com renda média mensal domiciliar per capita de até meio salário mínimo, a proporção dos excluídos digitais (em 2011) chegava a 92,2%. Segundo a pesquisa, 86% dos domicílios brasileiros no ano passado eram urbanos; apenas 14% se localizavam na área rural, em distribuição que tende a se estabilizar.
Outros indicadores. O IBGE também avaliou a pobreza e a desigualdade com base em uma "perspectiva multidimensional", com indicadores monetários e não monetários, adaptando a metodologia do Consejo Nacional de Evaluación de la Política de Desarrollo Social, do México. A SIS constatou que 22,4% da população brasileira estava em 2011 vulnerável segundo critérios sociais e/ou de renda, com variações regionais. O porcentual chegava a 40,1% no Nordeste e ficava em 7,7% em São Paulo. / WILSON TOSTA