Ainda hoje, uma conversa com Ricardo Abramovay, pesquisador do Núcelo de Estudos Sócio-Ambientais da Faculdade de Economia da USP, mostra o quanto é equivocada a mentalidade de algumas empresas brasileiras.
Diz ele que a forma com que a Petrobras lidou com a crítica por não ter se preparado para a adoção do diesel S50 é atrasada e comparável ao das empresas norte-mericanas e européias dos anos 60, 70.
Naquele momento, as grandes companhias se esforçavam em diminuir o efeito nocivo de suas ações em vez de evitá-los, usando o poder econômico como argumento de pressão.
No entanto, dada a pressão social, as empresas perceberam que de tanto negociar o tamanho do prejuízo com uma opinião pública cada vez mais exigente, aprenderam a evitar o saldo negativo e, em alguns casos, a construir lucros de imagem e resultados ambientais.
Mudaram porque apostaram em antecipar possíveis problemas que suas atividades poderiam gerar e, por isso, conseguir evitar o problema estabelecendo uma sintonia com a sociedade.
A Petrobras e Anfavea estariam com essa mentalidade atrasada quando lidam mal com as críticas acerca da adoção de um diesel com menos enxofre. Quando negam os efeitos nocivos ou dão valor menor aos impactos sobre o meio ambiente ou à saúde humana, que provoca o diesel com muito enxofre e motores de tecnologia inferior, vão na contra-mão.
O representante da Petrobras chegou a alegar durante o encontro que a resolução do Conama não obrigaria a adoção generalizada do S50. Eles, ao não disponibilizarem o diesel com menos enxofre, estariam de acordo com a lei. Polêmica natimorta, como escrevi no post abaixo.
Sobre a polêmica, durante a entrevista, recebo da ouvinte Nikita George Oglodkoff o seguinte comentário:
“Na decada de 60, a revista Esquire publicou uma charge que mostrava bem a mentalidade do empresário americano. Aparecia um típico “tubarão”empresarial, de cartola e um enorme charuto, dizendo a um repórter: Vocês estão errados! Não é a minha fábrica que polui o rio. O que polui o rio são estes malditos peixes mortos…” Pois é, parece que a Petrobrás está nesta linha de raciocínio. Só que quase 50 anos depois…”
É sintomático, não?
No argumento do Dr. Abramovay, que mediou um debate sobre o assunto na Faculdade de Economia da USP nesta última segunda, com representantes da Petrobras e da Anfavea, ele diz que a Petrobras perde a noção da sua importância e expõe uma contradição (mais uma!) ao ser vista por um lado como uma empresa internacional, moderna e disseminadora de tecnologia de ponta e de outro lado com mentalidade dos anos 60, no quesito relações com a sociedade.