Ontem foram apresentados os últimos cinco secretários; das 26 pastas, 11 serão ocupadas por pessoas sem filiação partidária e 8 pelo PT
ADRIANA FERRAZ , RODRIGO BURGARELLI – O Estado de S.Paulo
Priorizando quadros técnicos e, ao mesmo tempo, contemplando uma ampla base aliada, o prefeito eleito Fernando Haddad (PT) completou seu secretariado ontem, com participação recorde de partidos. Foram apresentados Osvaldo Spuri, que assumirá a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras, e o vereador Ricardo Teixeira (PV), que substituirá o colega Roberto Tripoli à frente do Verde e Meio Ambiente. A capital ainda ganhará uma Controladoria-Geral, para fiscalização da gestão.
A lista final revela que 11 secretarias – quase metade das 26 – serão comandadas por pessoas sem filiação partidária. Duas delas, porém, foram sugeridas por siglas aliadas: José Floriano de Azevedo Marques Neto, que comandará a Habitação, é indicação do PP, enquanto o titular da Segurança Urbana, Roberto Porto, é da cota pessoal do vice-presidente da República, Michel Temer, do PMDB.
Além do PT, os outros escolhidos estão divididos entre seis partidos, que vão compor o que Haddad chama de governo de coalizão – o mais diversificado dos últimos 26 anos. São nove nomes nesse bloco aliado. A maioria com experiência no Executivo ou com desempenho considerado bom pelo futuro prefeito em seus campos de atuação. É o caso, por exemplo, do vereador Netinho de Paula (PCdoB), escalado para comandar a nova Secretaria da Igualdade Racial. Completam a lista o PSB e o PTB (veja quadro acima).
O PT ficou com oito secretarias. Entre elas estão algumas das de maior orçamento, como Saúde e Transportes. Já os aliados terão, segundo Haddad, corresponsabilidade na gestão de São Paulo, a fim de evitar o chamado "toma lá, dá cá". As escolhas incluem representantes que fizeram parte da administração Gilberto Kassab (PSD) e até apoiaram o tucano José Serra nas eleições, como integrantes do PV e PSB.
O leque partidário é um recorde desde a redemocratização, nos anos 1980. Na primeira gestão petista da capital, de Luiza Erundina (1989-1992), 14 dos 17 secretários eram indicação do partido. Jânio Quadros (1986-1988), Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000) também priorizaram seus respectivos partidos – PTB, PDS e PPB. Depois, Marta Suplicy (2001-2004) ampliou a divisão, nomeando secretários de quatro siglas. José Serra (2005-2006) repetiu o mesmo número.
A atual gestão de Kassab (2009-2012), que conseguiu montar um bloco de apoio incontestável na Câmara Municipal, cedeu secretarias para cinco partidos já no primeiro ano.
Com o conceito de coalizão formado, a desistência de Tripoli não abriu uma crise no governo de transição. O nome do parlamentar foi substituído em acordo com a liderança do PV em três dias. O nome do escolhido também mostra que o PT aceita políticos que "trocaram de lado". Teixeira era do quadro do PSDB até o prefeito Kassab resolver formar um partido.
"Ele tenta equilibrar nomes eminentemente técnicos com indicações necessárias para conseguir fazer um governo de coalizão", avalia o professor de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marco Antônio Carvalho Teixeira. O advogado acredita que a preferência do prefeito eleito por técnicos vem de sua trajetória. "A origem do Haddad também não é política ‘stricto sensu’. Ele passou por vários cargos técnicos."
Manobra. Segundo Teixeira, Haddad tem uma margem de manobra para negociar perfis profissionais até mesmo nas pastas que são cedidas a partidos aliados. "Ele está isolando o PSDB e o DEM com essa estratégia. Isso deve garantir uma relação tranquila com o Legislativo, sem a qual não conseguiria governar."
A solução já revela efeitos práticos. A presidência da Câmara Municipal, por exemplo, deve ser facilmente alcançada por José Américo (PT), que tem apoio de representantes de partidos aliados. Diante do secretariado formado por Haddad, o atual gestor, José Police Neto (PSD), tem poucas chances de ser reeleito.
Com os secretários definidos, Haddad parte agora para a formação do segundo escalão. A ordem já está dada: os subprefeitos poderão ter indicação política, mas também terão de obedecer a alguns critérios. A prioridade é colocar engenheiros nas administrações regionais.