População tenta driblar falta de equipamentos culturais com projetos próprios e financiamento da Prefeitura
Fernando Otto
Gustavo Foster
Nove dos 32 distritos da zona leste têm apenas um equipamento cultural. Dois deles, Água Rasa e José Bonifácio, vivem sem nenhum lugar destinado à cultura. Os 200 mil moradores desses distritos não contam com teatros, bibliotecas nem cinemas perto de casa. Enquanto o centro tem um equipamento para cada 11 mil habitantes, a zona leste se vira com um para cada 40 mil. A situação só não é pior graças a moradores que encabeçam projetos e vão buscar na Prefeitura algum apoio financeiro.
É o caso do grupo Periferia Invisível, que pretende criar uma agenda cultural em Ermelino Matarazzo e promover intercâmbio entre as periferias e o centro. Eles lutam para evitar o êxodo de talentos. “Muitos artistas começam na periferia, querem viver de arte e têm de migrar para o centro, deixando a região em que moram defasada de cultura”, lamenta Bruno Veloso, coordenador do projeto. A iniciativa se mantém com os R$ 23 mil repassados pela Prefeitura por meio do Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI).
É desta fonte que bebe também o grupo Rap Móvel, que organiza shows em frente à estação Penha do metrô. A bordo de uma Fiat Fiorino são promovidas batalhas de rimas, exposições de grafite e shows de break dance. Com R$ 20 mil do programa, o grupo comprou alto-falantes, geradores e equipamentos. “Hoje, damos pelo menos um lanche, uma aparelhagem melhor para o artista”, conta Rodrigo Siqueira, colaborador do projeto. Antes, tudo era bancado pelo grupo ou por parcerias. Mas isso não é suficiente. “O poder público tem obrigação de investir na comunidade, em lazer, diversão, educação. É necessidade básica, não luxo”, diz Siqueira.
Para Maria Carolina Oliveira, pesquisadora do Centro de Análise e Planejamento da USP, projetos de fomento como este não resolvem, mas amenizam a falta de estrutura na periferia, já que a política cultural não se limita à construção de equipamentos.
O VAI existe desde 2004 e, neste ano, selecionou 178 projetos. “Damos mais atenção a regiões com pouquíssimos equipamentos culturais”, explica Gil Marçal, coordenador do VAI. O programa deverá ser ampliado em 2013, com o VAI 2. Segundo o plano de governo de Fernando Haddad, o incentivo pode chegar a R$ 50 mil e projetos já beneficiados poderão concorrer de novo – cada VAI terá R$ 4 milhões. O prefeito eleito ainda promete construir dois centros culturais de referência ao longo da gestão, um na zona leste e outro, na sul. Os locais, o custo e a data de início das obras, entretanto, ainda não foram definidos.