Situação dos moradores piora com a burocracia no atendimento básico
Luiza Vieira
Murillo Ferrari
A aposentada Rute Costa, de 50 anos, mora a 1,4 quilômetro de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mas não pode se consultar lá. É que Rute vive no Jardim Brasília, no distrito da Brasilândia, e a UBS pertence, tecnicamente, à Subprefeitura do Jaraguá. Não bastasse a burocracia e a desorganização do sistema, Rute reside numa das áreas com maior déficit de Unidades Básicas da zona norte. Além disso, o hospital que serviria o bairro de Rute, promessa de campanha de Gilberto Kassab, nem saiu do papel e os R$ 30 milhões previstos para a obra foram diluídos em outras áreas.
“Além de ser de difícil acesso, da última vez em que precisei marcar uma consulta, tive que esperar quatro meses”, conta Rute. Quando é caso de atendimento de emergência, ela recorre a um dos três hospitais estaduais da região, que, superlotados, são alvo de reclamações.
Seu caso se repete em outras regiões de fronteira das subprefeituras, como o Jardim Vitória-Régia, também na zona norte. Com os vizinhos, ela formou a Comissão de Moradores de Jardim Brasília para reivindicar a construção de uma UBS.
A Brasilândia é o distrito mais populoso da região, mas tem só 11 unidades para 265 mil pessoas. Para zerar o déficit de atenção básica na área, seria preciso construir, no mínimo, duas UBSs – segundo levantamento feito pelo Estado, tendo como base a média da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de uma unidade para 20 mil habitantes.
Olhando apenas para a quantidade de moradores, a Subprefeitura de Santana parece viver uma situação pior na zona norte, já que tem 8 Unidades Básicas apenas e precisaria dobrar este número. Mas a região tem equipamentos como o Hospital Estadual do Mandaqui, com 450 leitos, e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,925, o maior da zona norte, enquanto a vizinha Brasilândia tem o menor (0,769).
Em termos gerais, o cenário é alarmante na maior parte da região norte: apenas três dos 18 distritos têm, hoje, a quantidade de unidades adequadas à população. “Se a UBS não realiza o controle contínuo da saúde dos seus pacientes, essas pessoas vão lotar pronto-atendimentos e pronto-socorros”, explica Carmen Lavras, coordenadora do Programa de Estudos em Sistemas de Saúde do Núcleo de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp.
Promessas. O programa de Fernando Haddad prevê a construção de 15 Unidades Básicas de Saúde na zona norte e a retomada dos planos de fazer o hospital na Brasilândia. Ah, sim, e o problema de dona Rute parece que vai ser resolvido. A nova administração planeja permitir que as pessoas possam escolher a UBS de mais fácil acesso, seja perto de casa, do trabalho ou da escola. /COLABOROU DANIELLE VILLELA