TIAGO DANTAS
A Prefeitura de Paris, na França, planeja proibir a circulação de carros antigos – com 17 anos ou mais – na cidade a partir de 2014 para combater a poluição do ar. A restrição também é discutida em Lisboa, Portugal, e em Munique, Alemanha. Se uma medida semelhante fosse adotada em São Paulo, o trânsito da capital teria cerca de 2,1 milhões de veículos a menos e a cidade poderia sentir uma redução de até 67% na emissão de poluentes, segundo especialistas.
O volume de gases nocivos à saúde gerado pelo motor de um carro com mais de 15 anos de uso é 28 vezes maior que o de um novo, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “A tecnologia dos veículos aumentou para tornar o motor mais eficiente e diminuir a poluição que ele gera”, afirma o professor de Engenharia Mecânica Sílvio Sumioshi, da Fundação Educacional Inaciana (FEI).
A substituição do carburador pela injeção eletrônica, o uso do catalisador e a instalação de peças para tratar os gases no escapamento são alguns dos avanços citados por Sumioshi. O professor também lembra que a falta de manutenção adequada, principalmente nos carros mais antigos, também está ligada à poluição. “O desgaste de algumas peças e a falta de regulagem do motor podem atrapalhar.”
Caminhões, ônibus e utilitários movidos a diesel são parte dos cerca de 2,1 milhões de veículos com mais de 20 anos de uso que circulam pela capital, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Alguns desses automóveis não se enquadram nas regras do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), criado em 1986 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O programa estabeleceu um calendário para reduzir a emissão de gases.
Diminuir a emissão de poluentes não é suficiente se a frota continuar crescendo, avalia o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP). “Não vamos resolver o problema da poluição apenas trocando esses veículos velhos por carros que poluem menos”, afirma Saldiva. “Uma restrição de carros antigos seria bem vinda em São Paulo, mas apenas se fosse acompanhada de medidas estruturantes, como a oferta de transporte público rápido e confortável.” A medida também poderia ser acompanhada por incentivos fiscais para quem quisesse trocar o carro por um mais novo.
DIFICULDADES
A proibição em Paris afetaria pouco mais de 367 mil motoristas, que teriam de se desfazer dos automóveis fabricados antes de 1997 e encontrar outro meio de deslocamento. A cidade tem uma rede de metrô três vezes maior que a de São Paulo e um sistema de aluguel de bicicletas, com 23 mil unidades. Ainda assim, a ideia encontra resistência. Colecionadores de carros reclamam. Eles argumentam que, como não usam os veículos todos os dias, não contribuem tanto para provocar a poluição.