Obras contra enchentes nos Córregos Zavuvus e Cordeiro ainda não começaram. Área já teve mortes
Breno Pires
Uma caminhada de apenas 20 minutos separa dois córregos que inundaram e causaram mortes nos últimos anos na zona sul de São Paulo. As obras antienchente no Cordeiro e no Zavuvus, em Americanópolis, são compromissos da gestão de Gilberto Kassab (PSD), mas nem sequer iniciaram. Ao primeiro, assumido na campanha, ainda falta o licenciamento ambiental; ao segundo, anunciado em reação a tragédias em 2010, faltam recursos.
O atraso dessas e de outras quatro obras de drenagem urbana que deveriam ter iniciado ou terminado na gestão Kassab – orçadas em R$ 1,44 bilhão – torna-se mais grave pela expectativa de que o volume das chuvas de verão seja entre 20% e 30% maior do que a média histórica, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia em São Paulo.
Desde que uma enchente no Zavuvus tragou um carro e duas vidas, em fevereiro de 2010, Conceição de Oliveira, de 45 anos, decidiu ficar sem emprego fixo por sentir que sua família não está segura. Seus dez filhos e sua mãe foram resgatados pelo telhado. “Minha profissão é ajudar os outros e correr atrás das obras”, diz a moradora da Rua Delfino Facchina, que aguarda canalização e drenagem do que ficou conhecido como Córrego da Morte.
Mas Conceição terá de esperar ao menos mais quatro anos, fora os dois que já se passaram desde que a Prefeitura prometeu intervir. O projeto nem entrou em licitação. Os R$ 15 milhões que haviam sido reservados para a canalização do Zavuvus em 2011 foram transferidos para pagar dívidas.
O custo do projeto todo – que inclui construção de dois piscinões, parque linear e quase 2 mil remoções – é o mais alto dentre todas as obras antienchente que aguardam início na Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), R$ 395 milhões. Para chegar ao valor, a Prefeitura espera receber um repasse do governo federal, que ainda está em análise. “O Zavuvus tem boas chances de entrar no Plano de Aceleração de Crescimento (PAC) de desastres naturais”, diz o secretário adjunto da Siurb, Luiz Ricardo Santoro.
O Córrego do Cordeiro já tem empresa contratada há um ano e três meses para os trabalhos de drenagem. Mas, até agora, só se vê o canteiro de obras do consórcio Construcap-Planova na Rua Durval Pinto Ferreira. A atividade não começa porque o Licenciamento Ambiental de Instalação não foi emitido. Além disso, uma liminar obtida em ação popular impede a construção de um dos seis piscinões – na Praça Dácio de Morais Júnior, no Jardim Petrópolis. A Prefeitura recorreu da decisão, mas perdeu. A decisão definitiva ainda será dada.
Segundo a Siurb, o projeto – que inclui canalização de um trecho de 2 km e caixas de equalização de vazão – poderia ser executado mesmo sem um dos piscinões. Porém, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente diz que o embargo de um dos itens requer um novo projeto.
A indefinição tira o sossego de João Tapeceiro, de 55 anos, líder comunitário e morador da Rua Rolando Curtis, um dos locais de alagamento próximos da área onde funcionará o piscinão 1, em Americanópolis. “Eles ficam enrolando. A gente sofre, perde casa e amigos”, diz. Ele mora a cerca de 1 km do ponto onde Jeovanice Marques de Carvalho, de 52, morreu afogada em 2009.
Além do Cordeiro, os Córregos Ponte Baixa (zona sul), Verde/Abegoaria (oeste) e Sumaré e Água Preta (oeste) esperam licenciamento ambiental. Já o Córrego Aricanduva tem nova etapa prevista, que não entrou em licitação, como o Zavuvus.
A Prefeitura afirma, em nota, que fez intervenções na Bacia do Aricanduva e em córregos como o Pirajuçara. Contudo, dos R$ 678 milhões orçados para obras em 2012, nem metade foi usada.