Na ultima quarta feira (12) o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), uma organização que promove o desenvolvimento das ações voltadas à melhoria da qualidade da educação pública, promoveu o seminário Educar na Cidade em comemoração aos seus 25 anos de atuação na área e lançamento do projeto com mesmo nome, desenvolvido pelo Cenpec em parceria com a Rede Nossa São Paulo, Fundação Tide Setubal, Instituto Democracia e Sustentabilidade, e o Instituto de Fomento à Tecnologia do Terceiro Setor (IT3S),
Apresentado ao público por Maria Alice Setubal, presidente do conselho do Cenpec, essa iniciativa pretende produzir conhecimento para a construção de caminhos educacionais, a partir de princípios das sociedades sustentáveis e está organizado em três linhas de ação: formulação, que engloba as ações de prospecção de informações e reflexão visando à produção de conhecimento sobre educação para a sustentabilidade; e mobilização, que procura engajar a população no debate público sobre educação e disseminação, a circulação do conhecimento produzido, facilitando as conexões de ideias, indivíduos e instituições.
Para isso, a roda de conversa incluiu: Marina Silva, ex- ministra do Meio Ambiente; Nabil Bonduki, professor de planejamento da Faculdade de Arquitetura da Universidade São Paulo; Maria do Pilar Lacerda, ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, para discutir a crise no século 21 e a necessidade de uma educação voltada para a sustentabilidade como solução.
A primeira pergunta realizada pela mediadora Maria Alice aos convidados foi: “Quais as dimensões que vocês destacam que devemos pensar na educação do século 21?”. Maria do Pilar se pronunciou com a seguinte resposta: “O que a gente tem feito hoje nas escolas das redes públicas são puxadinhos inspirados na casa da nossa bisavó, e nós achamos que esses podem solucionar os problemas da educação”. Segunda a ex- secretária, um caminho para começar essa melhoria seria oferecer autonomia às escolas para inovarem.
Já a ex- ministra Marina Silva propõe entendermos a escola como uma porta de entrada com muitas saídas e essa porta de entrada não é mais um saber fixo, é uma formação que traz um profissional pronto para transformação e propõe aos educadores que rompam com o vício da queixa. Ela mesma assumiu ter essa postura quando lecionava, mas isso pode estagnar o processo de mudança e dificulta a resolução dos problemas.
“A inspiração para a nova educação vem do puxadinho da vovó, mas não é a repetição. Devemos conservar o que é bom e renovar o que precisa ser mudado. A educação tem que partir do olhar para realidade, que é uma pontinha do iceberg, o previsível. Essas são as nossas ferramentas e a maior parte que está submerso é o intangível e está envolto no consciente coletivo. Manejar essas duas coisas, para mim, é o grande desafio desse momento de crise”, diz Marina Silva e complementa que as respostas para um melhor sistema educacional já estão prontas. Para ela, o que está faltando é deixarmos o vício da repetição e reformularmos perguntas para essas respostas.
O espaço, segundo o professor Nabil, é um grande contribuinte para a mudança educacional. Segundo ele, há mais de 100 anos a escola tem essa estrutura e esse desenho não condiz com o século 21. “Precisa-se de um espaço com maior liberdade, menos totalizador, sem muros, em que a escola seja inserida no contexto urbano. Para isso, precisamos de uma cidade mais segura e acolhedora. A escola precisa ser bonita e a cidade deve gostar dela”.
Alguns convidados foram chamados para a conversa, como o professor de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo nas áreas de economia e administração, Ladislau Dowbor, que afirmou: “As tecnologias avançam e o institucional não evolui. O professor tem medo e dificuldade de encarar essas mudanças. A escola estabelece uma barreira que protege o professor. Hoje o filho ensina o pai, o aluno ensina o professor em uma aula de informática, por exemplo. E quem forma os professores? Todo projeto político dificulta o crescimento do profissional”.
A questão do protagonismo foi muito mencionada pelos especialistas na discussão. Segundo Marina Silva, o mundo tem uma demanda muito grande de protagonismo. E os sintomas são as drogas, a violência. “O novo sujeito quer surgir, quer ser ouvido, quer ter voz”.
Carla Maymi, pesquisadora e integrante do Educ. Ação, foi outra convidada a dar o seu depoimento na conversa. Desenvolvido em janeiro de 2012, por quatro “curiosos”: Eduardo Shimahara, Carla Mayumi, Andre Gravatá e Camila Piza, tem como objetivo buscar novos modelos inspiradores de educação em países como Brasil, Índia, Suécia, Indonésia, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. As pesquisas ainda estão sendo desenvolvidas e a conclusão resultará em um livro que será lançado em 2013. Os interessados já podem ler muitas das histórias publicadas no site: http://educ-acao.com/
Em uma de suas viagens, Mayumi perguntou para a educadora Lesley, da Green School, na Indonésia: Qual é o propósito da educação hoje? Ela respondeu com outras questões: “Eu acredito que a gente tem que se perguntar o que vamos ouvir dos alunos quando a gente pergunta: você saber calcular juros? Você sabe ir atrás de um trabalho? Você sabe procurar um emprego? Você sabe se expressar bem? E por escrito? E oralmente? Você sabe tratar as pessoas com respeito? Você entende o impacto que você tem na cultura e no ambiente em seu entorno? Você entende que tudo o que você faz tem uma consequência? Você entende que você vai errar, isso é certo, e que é sua responsabilidade lidar com esses erros? Você compreende que não pode ser apenas observador passivo desse mundo e que pode contribuir positivamente? Você entende que a vida é curta e que as coisas devem ser feitas agora, se não essa vida é desperdiçada?”.
Serviço:
Cenpec: http://cenpec.org.br/
Projeto Educar na Cidade: www.educarnacidade.org.br
Fonte: Setor 3