Popularidade de Gilberto Kassab recuou no segundo mandato porque prefeito negligenciou São Paulo em favor de seu novo partido
Gilberto Kassab não deixa a Prefeitura de São Paulo como o pior alcaide que a cidade já teve, porém sua imagem anda perto disso.
Kassab conquistou popularidade nos primeiros anos, negligenciou a capital paulista após reeleger-se, confiou no poder das iniciativas cosméticas e sai do cargo com 42% de desaprovação.
É a segunda pior avaliação, desde 1985, de um prefeito no final da gestão. Perde para os 81% de Celso Pitta (1997 a 2000), de quem Kassab foi secretário de Planejamento.
A boa fama inicial foi obtida com o programa Cidade Limpa. No papel de síndico extremado, fez cumprir o que a muitos parecia impossível: livrar a cidade da barafunda de cartazes, letreiros e luminosos.
Mais adiante, Kassab deu o passo -elogiável- de que hoje talvez se arrependa: aceitou firmar compromisso com as 223 metas da chamada Agenda 2012. Com base nela, passou a ser avaliado de forma razoavelmente objetiva. Queixa-se, agora, do "uso político" da agenda.
O fato é que Kassab cumpriu integralmente só 55% (123) das metas que definiu. Um quarto delas (55) nem mesmo teve execução iniciada. Outras 45 estão em andamento.
Uma avaliação mais refinada ponderaria os percentuais de cumprimento de cada uma das 223 metas para extrair o que o prefeito chama de "índice de eficiência" -por ele fixado em 81% (um cálculo duvidoso, com 25% de objetivos totalmente descumpridos).
O prefeito tampouco se sai bem sob o ângulo qualitativo. Das áreas sob sua alçada direta, as prioridades óbvias são transportes, saúde básica e ensino fundamental, nenhuma delas com retrospecto bom.
Kassab prometeu 66 km de corredores de ônibus e entregou zero. Investiu R$ 1,7 bilhão no metrô, obra até então custeada só pelo governo estadual; a soma, aplicada em pistas exclusivas de ônibus, mais baratas, teria gerado maior benefício imediato para a população.
O prefeito disse que iria construir três novos hospitais, mas não entregou nenhum. Aumentou em 60% o número de unidades de saúde e em 62% o de médicos, porém o setor permanece como o mais mal avaliado de sua gestão.
A prefeitura não zerou o deficit de creches, como prometido, mas elevou o total de matrículas de 110 mil, em 2009, para 211 mil. Acabou com as "escolas de lata" e diminuiu a quantidade de alunos no "turno da fome" (que têm aulas na hora do almoço), porém restam 10 mil estudantes nesse período.
O que mais se censura em Kassab foi deixar a cidade, no segundo mandato, em plano inferior ao do projeto de criar o enésimo partido governista do país, o PSD. Seu cacique parece ter considerado que bastava multiplicar as ciclofaixas de lazer -faixas pintadas no asfalto e delimitadas por cones de plástico nos finais de semana- para manter-se bem avaliado.
É pouco, prefeito, muito pouco. Mais do que maquiada, São Paulo precisa ser reconstruída como cidade habitável e produtiva.