A gestão é um dos temas que a oposição pretende levar para o embate eleitoral nas eleições presidenciais em 2014
O Globo
BRASÍLIA — A presidente Dilma Rousseff quer marcar a segunda metade do seu mandato pela eficiência e criar metas concretas para cobrar resultados efetivos de todas as pastas da Esplanada dos Ministérios.
Para isso, deu até o fim de fevereiro para que apresentem compromissos realistas e indicadores da evolução de cada uma das áreas. A ideia é criar um sistema semelhante ao que já existe em grandes empresas privadas, mas com a visão de longo prazo dos planos quinquenais da China.
Os planos feitos pelos ministros de Dilma deverão ser avaliados pela presidente de modo que, até o final deste semestre, já se possam desenhar a estratégia e as metas a serem perseguidas pelas diversas áreas do seu governo. A gestão é um dos temas que a oposição pretende levar para o embate eleitoral nas eleições presidenciais em 2014.
A presidente já determinou que as áreas de infraestrutura façam um grande mapa dos investimentos que devem acontecer e como deverão ser os resultados. O mesmo deverá ser feito nos segmentos de saúde e educação, que terão metas e regras mais claras para serem cumpridas.
Hospitais e escolas monitorados
Nem mesmo a economia, que já está atrelada a metas anuais, escapará dos olhos de Dilma. Além do Ministério da Fazenda, o Desenvolvimento terá de ter seus compromissos. Em 2012, a balança comercial registrou o pior resultado dos últimos dez anos. Entre algumas das propostas em análise estariam a de inclusão de metas para o aumento da participação brasileira nas exportações mundiais, bem como o incremento das áreas de inovação e tecnologia.
Muitas promessas de campanha de Dilma para a economia ainda não saíram do papel. Os chamados gargalos na infraestrutura brasileira e o baixo crescimento econômico até agora foram alguns dos problemas da presidente, apresentada ao país como a gerente do popular governo Lula.
Levantamento feito pelo GLOBO e publicado no dia 29 de dezembro mostra que, das 46 promessas mensuráveis contidas no texto “Os 13 compromissos programáticos de Dilma Rousseff para debate na sociedade brasileira”, 24 caminham em ritmo lento e 22 estão em ritmo bom. O combate à miséria e a manutenção das taxas de emprego são os pontos mais fortes. Mas entre as dez promessas mais importantes, considerando-se a ênfase dedicada a elas na campanha eleitoral ou seu impacto social, a maioria está longe de ser cumprida. É exatamente esse quadro que a presidente pretende alterar até o fim do seu mandato, para confirmar a sua imagem de boa gestora.
Este ano também deve começar a funcionar um grande plano de monitoramento em tempo real de áreas consideradas delicadas e estratégicas pelo governo. Informações recolhidas a partir de câmeras instaladas em hospitais e escolas, por exemplo, além de números que serão acompanhados com lupa por uma equipe designada pelo governo federal para cuidar exclusivamente desse acompanhamento, deverão abastecer um sistema informatizado ao qual o Palácio do Planalto tem acesso. A partir desse novo programa, que deve ficar pronto ainda este ano, o Executivo terá como saber se médicos de hospitais federais e peritos do INSS estão atendendo muito ou pouco e se estão cumprindo a escala de trabalho.
Será, ainda, possível monitorar se os recursos públicos estão chegando às escolas e como são gastos. O que o Palácio quer é incluir nesse sistema cada vez mais serviços prestados à população. Este é considerado um dos principais desafios do país e a maior queixa dos brasileiros.
Saúde é problema para classe média
O contingente adicional de 37 milhões de pessoas incorporadas à classe média brasileira — estimada em 104 milhões de pessoas este ano — impôs ao governo federal o desafio de adequar as políticas públicas e os serviços oferecidos pelo Estado aos novos interesses de uma camada crescente da população, mais exigente, que já é maioria (53%) e pode decidir uma eleição. O orçamento maior no fim do mês trouxe o desejo de consumir serviços privados e chancelou a percepção de que a qualidade desses mesmos serviços fornecidos pelo Estado está muito aquém das necessidades do cidadão.
O grande hiato de qualidade estaria sobretudo na saúde. Essas pessoas já preferem pagar pelas escolas dos filhos ou recorrer a hospitais particulares. E não abrem mão do plano de saúde. Enquanto 5% da classe baixa possuem planos de saúde, esse percentual sobe para 24% na classe média. Esta é uma das conclusões do caderno “Vozes da Classe Média”, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República.