Por Carmen Lígia Torres | Para o Valor, de São Paulo
Cidade das oportunidades de trabalho e do crescimento profissional. Essa crença em relação a São Paulo tem sido comprovada por pesquisas realizadas há quatro anos pela ONG Rede Nossa São Paulo para saber como está a satisfação dos paulistanos com a qualidade de vida. Nos itens avaliados pelo estudo, feito pelo Ibope Inteligência, a satisfação em relação ao trabalho é uma das quatro áreas relacionadas à qualidade de vida que ficam acima da média. Em uma escala de um a dez, já obteve nota 6,2, em 2009, e na última versão, de 2012, ficou com 5,8. "O trabalho é uma das fortes razões que prendem as pessoas à cidade", diz Oded Grajew, integrante da ONG.
O contraponto são as dificuldades que a maior parte das pessoas enfrenta para ir e voltar ao trabalho. Isso porque, dentro do quadro das desigualdades próprias de uma megalópole como São Paulo, com território de 1,5 mil km², a oferta de vagas e a densidade demográfica são inversamente proporcionais. Dados oficiais de 2010 mostram que na área mais populosa da cidade, a zona leste, onde estão 35,5% da população – quase 4 milhões de pessoas -, há apenas 9% dos empregos formais. No sentido oposto, a região central e a zona oeste ofertam cerca de 60% das vagas e abrigam apenas 13% da população, ou 337 mil pessoas. Isso significa dizer que, para trabalhar, não é raro as pessoas enfrentarem mais de 60 quilômetros diários de percurso.
O perfil econômico da cidade ajuda a entender o caos. "As regiões centrais, incluindo áreas das zonas leste, sul e norte próximas ao centro, concentram serviços, comércio e pequenas indústrias que atendem o Estado de São Paulo inteiro e até mesmo para o Brasil todo", analisa Alexandre Loloian, coordenador de análise de pesquisa de emprego e desemprego da Fundação Sistema Estadual Análise de Dados (Seade). Nas extremidades do território, onde os terrenos custam menos e faltam equipamentos urbanos e transporte, há maior adensamento.
"São Paulo oferece serviços de saúde para o Brasil e América Latina", lembra Loloian, destacando ainda, os centros de pesquisa e educação, além dos serviços financeiros, para os quais São Paulo é considerada um dos principais centros da América do Sul. Ao longo das décadas, no entanto, há uma tendência à perda de atratividade na cidade, especialmente pela descentralização da produção econômica em curso no Brasil.
Os dados do último Censo, de 2010, mostram uma cidade que cresce menos que seu entorno e que os demais municípios paulistas. A capital cresceu 0,76% entre 2000 e 2010, ante 0,97% da RMSP, e 1,09% do Estado. Mas, não é só isso. O saldo migratório, ou seja, a quantidade de pessoas que mudam para a cidade em relação àquelas que saem da cidade, vem caindo rapidamente. Em 2010 foi de -32,1 mil pessoas, uma taxa de migração de -2,97%. "Com o crescimento de outras regiões do país, é natural que elas ofereçam mais trabalho e ocupação e, consequentemente, atraiam mais as pessoas em relação a São Paulo", diz Loloian.
Leia também:
"Equação complexa" – Valor Econômico
"Projeto quer reconciliar a população e as marginais" – Valor Econômico