Evento #existediálogoemSP serviu para secretário Juca Ferreira apresentar suas ideias e colher sugestões de artistas, produtores, gestores e demais envolvidos com a cultura no município
A Sala Adoniran Barbosa, famosa pelos espetáculos que recebe, não foi capaz de acomodar todo o público que compareceu ao Centro Cultural São Paulo na noite de terça-feira (5) para o encontro #existediálogoemSP, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. Muitos acompanharam o evento sentado no chão, de pé ou em uma sala extra, onde foram instalados telões para transmissão instantânea.
O objetivo da secretaria era o de promover uma primeira conversa com os paulistanos, comandada pelo próprio secretário, Juca Ferreira, 63 anos, sociólogo e ex-ministro da Cultura.
O encontro, que iniciou um processo denominado pela secretaria de #existediálogoemSP, começou perto das 19h e só terminou após as 21h30. Juca Ferreira apresentou suas propostas e recebeu sugestões dos presentes, ligados, em sua maioria, a grupos, movimentos, entidades e associações culturais.
Confira alguns tópicos do pronunciamento inicial do secretário e, na sequência, sua resposta a questionamentos dos participantes:
SP noturna – Maior incentivo à vida noturna da cidade. "Precisamos pensar numa política cultural para a noite. Para os que estão dormindo, vamos garantir que eles
durmam em paz. Mas para os que não estão dormindo, vamos garantir o acesso à cultura."
Carnaval de paz – Realização de carnaval de rua sem a necessidade de intervenção policial rigorosa ou excessiva. "Sou contra que a polícia reprima as manifestações
culturais. Eu me ofereci para coordenar um projeto de carnaval e, em 2014, vamos ter um carnaval para ninguém botar defeito."
Bibliotecas transformadas em centros culturais – "As bibliotecas não podem ficar esperando as pessoas irem até elas para pegar livros. Elas têm que ser centros culturais, de incentivo à leitura."
Virada Cultural – Terá continuidade. "Vamos criar uma curadoria para planejar a Virada, mas vamos desenvolver uma política de eventos durante o ano todo."
Produção nacional – Incentivar a produção cultural brasileira. "É vocação de São Paulo não só importar shows de cantores internacionais, mas ser ponto de produção cultural
brasileira."
Cinema – Fomentar a criação e uso de salas de exibição espalhadas pela cidade e fora dos shoppings centers. "São Paulo não pode se satisfazer apenas com salas em
shoppings centers. Vamos ativar o circuito de cinema e, quem sabe, transformar salas em espaços multiuso."
Parceria com Educação – Realizar parceria com a Secretaria de Educação para uso, principalmente, dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), espalhados pela cidade. "Queremos
participar da programação dos CEUs."
Mais espaços – Criar mais espaços para atividades culturais, a fim de evitar conflitos como o que ocorreu recentemente com os skatistas na Praça Roosevelt. "Precisamos de
mais espaços para skatistas, mais espaços para as mães e suas crianças, para que não se precise ficar disputando os poucos espaços públicos."
Orçamento – Passar de 0,9% do orçamento municipal a 2%, conforme promessa feita pelo prefeito Fernando Haddad em campanha. "Um secretário disse que eu já havia
começado a demanda por 2% e o prefeito disse que tem compromisso com esses 2%."
Teatro Municipal – Realizar atividades no Teatro Municipal, no centro, acessíveis a toda a população. "A cidade inteira tem que desfrutar do Teatro Municipal. Temos que
democratizar o principal equipamento da cidade."
Integração – Fomentar a participação da sociedade de forma igualitária, incluindo pessoas de todos os gêneros, raças, idades e condições sociais, migrantes do interior
do Estado, de qualquer outra parte do País ou do exterior, entre todos os que moram na cidade. "São Paulo não comemorou os 100 anos de Luiz Gonzaga. É
preciso se livrar de provincianismos."
Plano Diretor – "O Plano Diretor vai ser revisto. A área da Cultura nunca participa ativamente desses processos, mas precisa participar."
Conselho Municipal – Criação de um Conselho Municipal de Cultura. "Eu sou a favor de um conselho que interfira na elaboração e na execução."
Questionamentos e posicionamentos do público, com respostas do secretário:
Público – "Se o orçamento é curto, de onde vai sair o dinheiro para as ações da secretaria?"
Secretário – "Temos que recorrer à possibilidade de parcerias com o governo federal, estadual e iniciativa privada. Precisamos trabalhar para ampliar os recursos."
Público – "Quem usufrui da cultura em São Paulo é a classe média. Às 23h já não há ônibus para a galera que não tem dinheiro para pegar um táxi e vir para o centro."
Secretário – "Precisamos ampliar o protagonismo na periferia. Mas não podemos escolher um ou outro. Temos que trabalhar na periferia e no centro. Tem gente da periferia
que trabalha no centro e que, quando chega sexta-feira, não tem outra coisa a fazer a não ser tomar cerveja."
Público – "A Secretaria de Cultura, com a estrutura que tem hoje, não funciona."
Secretário – "Vamos apresentar ao prefeito uma proposta de reforma da secretaria. Temos o secretário, o adjunto e 100 equipamentos para cuidar. Precisamos atualizar a
estrutura."
Público – "Não há acesso integral aos portadores de deficiência nas bibliotecas. Se houvesse, seria um avanço para a cidade." (por uma garota de 9 anos)
Secretário – "A cidade precisa se preocupar com a acessibilidade. O Brasil é atrasado nisso. Precisamos ter mais acessibilidade seja nos equipamentos, seja nas
atividades culturais."
Público – "Queremos a continuidade dos projetos de formação."
Secretário – "A formação é estratégica. É preciso ampliar os recursos para isso, para formação de artistas, técnicos e gestores."
Público – "Vamos ter a inclusão de espaços não públicos nas atividades culturais da cidade?"
Secretário – "Evidente que não vamos trabalhar só com estrutura pública. Nos eventos, só tem programação em equipamentos públicos. É equivocado isso."
Público – "Podemos ter de volta a aplicação da Lei Mendonça?"
Secretário – "Até pela reação quando você fez essa pergunta, com vaias, concluo que temos que conversar a respeito. Temos que discutir o que ela tem de positivo e o que
tem de negativo."