Segundo a gestão Haddad, cerca de 1.600 foram matriculadas no governo Kassab e estão sem o atendimento prometido
Outras 2.280 foram inscritas em pré-escolas que também estão em construção; ano letivo teve início no dia 6
FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO FERNANDA BARBOSA DO “AGORA”
Passadas duas semanas do início das aulas na rede municipal paulistana, quase 4.000 crianças já matriculadas não conhecem suas novas escolas, que estão ainda em costrução. Ao menos 1.600 delas deveriam estar em creches, mas estão sem atendimento.
O levantamento é da própria Secretaria de Educação. A gestão Fernando Haddad (PT) culpa o governo anterior, de Gilberto Kassab (PSD).
Segundo a atual administração, o antecessor reduziu no final do ano passado a liberação de verbas para as obras, o que causou o atraso na entrega de 11 creches e de sete pré-escolas, que até anteontem não estavam concluídas.
A nova Secretaria de Educação reclama que, além de reduzir o ritmo das construções, a gestão Kassab matriculou, no final de 2012, crianças nessas unidades e prometeu que as atividades começariam no dia 4 deste mês.
Os atuais dirigentes da pasta afirmam que as matrículas foram "irregulares".
Segundo eles, o valor previsto para as obras em 2012 era de R$ 319 milhões, mas só 75% foram pagos às empresas responsáveis pelas construções. Em relação ao montante apenas reservado (empenhado), o percentual sobe para 89%.
O governo Kassab, por outro lado, diz que fez as matrículas porque o procedimento era necessário para dimensionar a demanda na rede.
SEM TRABALHO
Em meio aos problemas administrativos, as famílias sofrem com a falta de vagas.
Segundo a secretaria, as 1.600 crianças que deveriam estar nas creches têm de aguardar a nova vaga.
Na pré-escola, as famílias puderam optar entre esperar o final da obra ou a matrícula provisória em outra unidade -que ficará com mais alunos que a capacidade ideal.
Luciana de Souza Silva, 25, espera a conclusão da creche Jardim Lapena, em São Miguel Paulista, na zona leste.
A previsão inicial de entrega da unidade era 4 de fevereiro. Agora, ficou para março -prazo dado para a maioria das unidades inacabadas.
"Fazia mais de um ano que a gente tentava uma vaga. Agora que tinha dado certo, aconteceu esse problema", diz Luciana, que tenta um lugar para a filha Riana, de dois anos.
Atualmente, há 94 mil crianças cadastradas aguardando uma vaga em creche.
"Preciso voltar ao trabalho, mas não posso, porque não tem ninguém para cuidar da Samira", afirma Josiete Santos do Carmo, 21, referindo-se à filha de dois anos.
"Muitas mães já desistiram da vaga porque não querem esperar mais. Não farei isso, depois é difícil conseguir outra", diz a comerciante Maria Neusa Sales Barros, 46, que aguarda um posto para a neta na unidade Jardim Helena 1, também em São Miguel.
CRÍTICAS
"O correto seria não ter feito as matrículas. Só deveriam ter sido feitas quando o prédio já existisse", afirma o chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Sinoel Batista.
No balanço da prefeitura, além das 18 unidades que ainda não funcionam, outras 7 também atrasaram, mas já foram entregues. No total, 5.624 crianças foram matriculadas em escolas inacabadas, afirma a gestão Haddad.
"Quando decidiram matricular, não podia haver interrupção de desembolso", diz o chefe da assessoria técnica de planejamento da pasta, Fábio Renzo, sobre a gestão Kassab.